Ela até anda com a carteira na bolsa, mas não precisa usá-la muito ultimamente. Sommelier e representante de vinhos, Nadia Alcalde, de 34 anos, se viu totalmente dependente do celular para fazer quase tudo no trabalho.
Moradora do interior de Santa Teresa, na região serrana, a microempreendedora usa o aparelho até para fazer e receber pagamentos. Em sua pequena empresa de consultoria, 70% das transações financeiras são feitas por um aplicativo. “Semana passada eu fui em uma confraria e vendi alguns vinhos. Todos foram pagos pelo app, ali mesmo. Eu recebo mais rápido, e não preciso pagar taxas bancárias”, comemora Nádia.
Para o controle financeiro do negócio ela usa o computador. “A tecnologia disponível ajuda muito, principalmente quando trabalho de casa. Não preciso sair para reuniões e, às vezes nem mandar e-mail”, analisa.
Além dos microeempreendedores, que encontram na internet facilidades a custo e tempo reduzidos, empresas maiores também lançam mão da tecnologia para mudar processos. Softwares controlam o estoque de uma distribuidora, em Cariacica, há seis anos. Segundo o sócio-diretor da empresa, Marlon Gnocchi, de 34 anos, não se dá um passo na distribuidora sem o auxílio da tecnologia. Da nota fiscal ao pagamento de funcionários, o trabalho é quase todo automatizado e, consequentemente, otimizado. Mesmo já sendo moderna, a inovação é uma busca constante na empresa.
A novidade da vez é a forma de vender o serviço. Um vídeo em 360°- febre da realidade virtual – é usado para divulgar o trabalho desenvolvido pela distribuidora na hora da captação de clientes. “Eu vou até ele, levo o óculos de realidade virtual, e mostro todo o meu trabalho pelo vídeo. O investimento é alto, mas vale a pena. Nenhuma empresa do nosso ramo faz isso”, conta Marlon.
Um escola de inovação, em Vitória, é testemunha de como a transformação digital mudou a operação das empresas. A instituição, que promove cursos na área de marketing, começou sem um escritório físico. As inscrições eram feitas em um software, e as aulas ministradas em salas alugadas.
Sete anos depois, a escola já tem uma sede no Espírito Santo e filiais em outros estados. Os pagamentos são feitos por boleto bancário ou por um software – mais um! – que faz transações no cartão de crédito. “Por trabalhar para um mercado disruptivo, nós vimos essa mudança acontecer, não apenas conosco, mas com agências de viagem, restaurantes… que cada vez precisam mais da internet e de marketplaces para sobreviver”, analisa Leonardo Carrareto, publicitário e especialista em inovação.
O que é?
– Mercado Disruptivo: no dicionário, disrupção significa a interrupção do curso normal de um processo. Na eletricidade, causa faíscas e gasto de energia acumulada. Lembra algum sintoma da economia atual? Pois é, tendências e negócios desruptivos mudam a forma de fazer estabelecidas e, muitas vezes, substituem antigas práticas até então consolidadas.
–Marketplace: espécie de shopping center virtual. Reúne várias lojas e serviços em um lugar só (um aplicativo ou site, por exemplo). Facilita a busca do consumidor pelas marcas que, em troca da divulgação, divide sua porcentagem de lucros.
Não sabe por onde começar? Veja as dicas do Leonardo:
Empresários resistentes ao mundo digital
Uma pesquisa feita pelo Sebrae com 220 micro e pequenas empresas no Espírito Santo mostrou que a maioria precisa da internet rotineiramente, mas não a aproveita na dimensão que poderia. “Há aplicativos gratuitos de controle financeiro, cursos online para elaboração de planilhas, mas muitos empreendedores continuam fora desse mundo”, explica a analista do Sebrae, Jéssika Tristão.
Os microempresários disseram que acessam a internet, principalmente, para usar o e-mail, pesquisar preços de fornecedores e fazer serviços bancários.
A mesma pesquisa, feita em todos os estados brasileiros, atestou que, no Espírito Santo, mais da metade das micro e pequenas empresas não tem sequer uma página na internet. Os números demonstram que os donos de negócios estão mais resistentes à tecnologia. Principalmente os mais antigos: quem menos utiliza a internet tem mais de 45 anos e baixa escolaridade. Entre os entrevistados, 47% disseram que ainda usam cadernetas de papel para fazer a gestão financeira do negócio. A analista do Sebrae considera a prática arriscada: “Apesar de existirem profissionais muito organizados, o registro no papel pode ser perdido mais facilmente, além de demandar mais tempo.”
A tecnologia facilita o processo de venda. Ouça o podcast de Jéssika Tristão:
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Terceirização digital
Empreendedores capixabas já entenderam que existem espaços de mercado a serem preenchidos por soluções digitais. Funcionam como se fossem terceirizados, só que muito mais modernos e rentáveis. “Empresas já consolidadas estão tendo que ‘dividir’ os lucros com negócios jovens e startups, por exemplo, quem têm estratégias inovadoras”, conclui Leonardo Carrareto, especialista em inovação.
Foi a oportunidade que o capixaba Higor Franco, de 33 anos, queria aproveitar quando pensava no modelo de negócio de sua produtora de vídeos. A empresa começou em 2011, focada em comerciais publicitários e, nos últimos dois anos, se rendeu a projetos maiores, com uma pegada 2.0 : “Eu via que as pessoas estavam consumindo muito conteúdo em tempo real, em vídeos ao vivo. Resolvi investir vender a ideia para os clientes”, relembra o publicitário e empresário.
Hoje, a produtora trabalha com 3D, drones, georreferenciamento, vídeos ao vivo e em 360º, e tem um canal independente de transmissão de jogos futebol capixaba, o Torcida ES, cujas transmissões de campeonatos podem ser “compradas” por canais maiores. E o capixaba já tem planos para o futuro. “Com a velocidade da internet chegando ao 5g, em pouco tempo a demanda por novos projetos vai ser muito maior e a gente tá pronto para isso”, comemora.
Empreendedores do ES ganham o mundo
Dois empresários do Espírito Santo ganharam US$ 25 mil (25 mil dólares), após vencerem, no último dia 8 de novembro, uma batalha latinoamericana de startups (Startup Battlefield). Os capixabas desbancaram 15 projetos de toda a América do Sul com o software “Olho do Dono”, que usa câmera 3D para pesar o gado no campo, sem gerar deslocamento e estresse para o animal.
Olha que bacana a entrega do prêmio:
O software vai começar a ser usado, inicialmente, por 20 fazendas do estado e do Brasil. A startup é considerada uma agrotech, modelo atual de negócio que propõe soluções para o agronegócio.
Startup é uma empresa emergente que tem como objetivo desenvolver um modelo de negócio rentável em condições de extrema incerteza, ao redor de um produto, serviço, processo ou plataforma.
No ramo das fintechs, que trazem soluções financeiras, capixabas foram pioneiros em pagamentos móveis no Brasil, em 2012, criando um aplicativo que mistura internet banking com rede social. A plataforma permite pagar e receber dinheiro em qualquer lugar do mundo – e de graça, na maioria dos planos. O app tem quase 10 milhões de usuários e é aceito por mais de um milhão de estabelecimentos.
Plugue-se
Estar no meio digital é essencial para a sobrevivência de qualquer empreendimento. Para estimular o debate, o Sebrae-ES promove, entre os dias 19 a 30 de novembro, o Plugue-se. Uma série de palestras com especialistas no meio empresarial e tecnológico, que irão esclarecer dúvidas e apontar soluções para as micro e pequenas empresas capixabas.
O evento é aberto ao público. Para participar é só acessar o site e se inscrever. Também existe a opção de acompanhar as palestras online.