O Brasil é diverso por essência. Mas por que a riqueza desta diversidade não se reflete nas empresas e no mercado de trabalho? É consenso entre especialistas em comportamento humano que quanto maior a diversidade e pluralidade de ideias, melhor é o ambiente.
No segmento do mercado de trabalho, as corporações entenderam que quanto mais diverso são os colaboradores, mais criativa e produtiva se torna a empresa.
Uma pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Recursos Humanos no Espírito Santo (ABRH-ES), revelou que as empresas capixabas estão atentas a essa característica, mas entendem que é necessário alto investimento para promover a diversidade no quadro de colaboradores.
“Nesta pesquisa, a grande maioria das empresas afirmou que ter a diversidade é importante, mas uma minoria tinha um projeto específico para trabalhar o tema. As pequenas empresas acreditam que demande muito investimento e uma grande estrutura de RH. O desconhecimento do ‘como fazer’, deixam esse objetivo em segundo plano”, afirma a vice-presidente da ABRH-ES, Neidy Christo.
De acordo com a mesma pesquisa, a falta de uma equipe dedicada ao recrutamento e para abordar o tema de inclusão e diversidade nos quadros de trabalho. Para se ter uma equipe dedicada ao assunto, mais da metade das empresas que responderam ao levantamento afirmaram que falta orçamento.
Outros entraves são a falta de sensibilidade dos líderes e diretores das empresas para o assunto. Um terço das companhias que responderam ao questionário da ABRH-ES afirmaram que não veem a necessidade de abordar o tema.
Veja os detalhes no gráfico:
Por outro lado, as empresas vêm percebendo que diversidade traz lucro. De acordo com pesquisa da Havard Business, empresas nas quais o ambiente de diversidade é reconhecido, os funcionários estão 17% mais engajados e dispostos a ir além das suas responsabilidades. Além disso, os empregados têm 35% mais chances de terem rendimentos acima da média do setor (veja mais no quadro abaixo).
Uma das empresas que atua no Espírito Santo e tem projetos de inclusão e diversidade é a Suzano, empresa de produção de celulose, com sede em Aracruz. A filosofia de diversidade vem desde o recrutamento até o desenvolvimento do colaborador dentro da companhia, que está colhendo os frutos do investimento.
“Com mais diversidade, a gente traz para a empresa muito mais competitividade e isso alavanca os resultados. Temos esse olhar para trazer as pessoas para a empresa, tornando o ambiente de trabalho mais homogêneo, respeitoso e com trabalho em equipe muito maior”, afirma a consultora de gente e gestão da Suzano, Elaine Maria Dias.
O coordenador de desenvolvimento social da empresa, Douglas Peixoto, começou como analista temporário, e hoje é um negro que ocupa um cargo de liderança.
“Quando era criança, a empresa era vista como inalcançável e meu pai trabalhava aqui. Eu sempre quis entrar na companhia e quando tive a oportunidade, em 2010, trilhei novos caminhos e hoje sou efetivado. É muito gratificante poder trabalhar no relacionamento com as comunidades que ficam no entorno da Suzano. Atendemos comunidades humildades e indígenas. Esse relacionamento com pessoas diferentes também acontece na empresa”, conta.
Para promover a inclusão, a empresa criou o projeto Plural, focado na inclusão e na diversidade no atual quadro de trabalho e também nos novos colaboradores que possam entrar na empresa.
“O projeto é sustentado em três pilares: o primeiro deles é que trabalhar esses temas é bom para a sociedade e para o mundo porque gera igualdade de oportunidades. Segundo é a questão de estratégia porque times mais diversos possuem maior capacidade de inovação e o terceiro deles é a questão da cultura. Queremos ter uma cultura mais diversa e inclusiva onde as pessoas podem ser elas mesmas”, afirma a consultora de gente e gestão da Suzano, Mariana Dugaich.
Mariana afirma que o trabalho do projeto inclui todos os segmentos da sociedade, com metas de curto, médio e longo prazo. “A gente atua em cinco frentes. Pessoas com deficiência, gênero, raças, etnias, gerações e LBBTI+. A empresa precisa estar pronta para receber todas as pessoas. Evoluímos bastante, mas reconhecemos que temos ainda um longo caminho pela frente”, conclui Mariana.
Conheça mais sobre o projeto no vídeo:
Mais empresas estão liderando e impulsionando esse movimento de diversidade e inclusão de grupos ditos minoritários da população, como pessoas com deficiência e da comunidade LGBTI+.
“A grande maioria da movimentação é feita pelas grandes organizações. Precisamos dessas grandes empresas levando a curiosidade para as pequenas e médias seguirem esse caminho. Para elas começarem a entender que esse movimento não é ‘moda’. É porque traz mais lucro”, completa Neidy.
Superação
João é formado em letras e é professor. Mas até conseguir um emprego, ele passou por dificuldades para ser aceito no mercado de trabalho. “Acredito que tive dificuldades para conseguir um trabalho de carteira assinada por causa da minha orientação sexual. Hoje a comunidade LGBTI+ sofre preconceito nos mais diversos campos da sociedade, e nas empresas isso não é diferente”, afirma.
A pedido do entrevistado, seu nome foi alterado para preservar a privacidade. Ele, enfim, conseguiu um emprego em uma rede particular de ensino como professor de português.
Mudança de posicionamento das empresas
Para o diretor-geral da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes), Roberto Campos de Lima, a empresa interessada em aumentar a diversidade no quadro de colaboradores não precisa apenas contratar, precisa abrir o debate sobre o assunto.
“Eu vejo a necessidade de intencionalidade da empresa. Ou seja, não basta fazer um recrutamento às cegas, a organização precisa ter a intenção de buscar a diversidade. O processo de seleção precisa lidar com a questão da equidade, ou seja, dar condições diferentes para quem tem necessidades diferentes. E aí incluímos, por exemplo, pessoas com deficiência”, pondera.
A pedido do jornal online Folha Vitória, a vice-presidente da ABRH-ES fala sobre o movimento das empresas em prol da diversidade e inclusão:
O que as empresas buscam
Muito além de questões técnicas e curriculares, as empresas estão buscando profissionais com competências além do que aprenderam na faculdade. Os candidatos precisam ter maturidade emocional e saber trabalhar em equipe. Habilidades já procuradas pelo mercado, mas que ganharam maior peso com a pandemia.
“As organizações procuram profissionais com competências sócio-emocionais. Acontece muito de as empresas contratarem um funcionário pelo currículo técnico e demitirem pelo comportamento dessa pessoa. Os colaboradores precisam desenvolver competências como trabalho em equipe e ter resiliência emocional, principalmente em um momento como o que nós estamos passando que é o de pandemia”, completa o diretor-geral da Findes, Roberto Campos de Lima.
Confira o estudo na ´íntegra da ABRH-ES clicando aqui.