A economia capixaba saiu de um crescimento acumulado de 11,1% para atuais 2,6%, isso com relação aos últimos 12 meses, ou seja, ao longo do terceiro trimestre de 2021 até o terceiro de 2022. A redução significativa tem sido ocasionada sobretudo por desaceleração da indústria.
No mesmo sentido, a atividade econômica do Espírito Santo recuou 1,4% na passagem do segundo para o terceiro trimestre do ano. O indicador foi resultado do desempenho dos setores de serviços (1,3%), agropecuária (4%) e indústria (-5,9%).
O desempenho da economia do Estado no trimestre ficou abaixo do verificado para o PIB do Brasil, que registrou leve aumento de 0,4% no trimestre. Em nível nacional, a indústria avançou 0,8%, e os serviços cresceram 1,1%, enquanto a agropecuária caiu 0,9%.
Os dados foram apresentados nesta quarta-feira (14), durante coletiva de imprensa realizada na sede da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes), em Vitória.
Entenda o cenário
Ao longo de 2022, o cenário internacional não foi favorável às economias emergentes, é o que explicou a economista-chefe da Findes e gerente-executiva do Observatório da Indústria, Marília Silva.
Segundo ela, isso vem ocorrendo uma vez que a aceleração inflacionária e os ajustes monetários nas principais economias mundiais provocaram uma resistência ao aumento de demanda por commodities e demais insumos industriais.
Já Samorini lembra que a indústria representa 27,4% do PIB do Espírito Santo, quase 30% da arrecadação de impostos (ICMS) e mais de 15,5 mil indústrias responsáveis por gerar 220 mil empregos formais.
Segundo ela, os números mostram a importância do setor.
“O Espírito Santo é um estado com alto grau de abertura comercial e a indústria representa 91% de todas as exportações capixabas. Então, as incertezas no mercado internacional afetam diretamente o desempenho do setor. Porém, precisamos lembrar que, mesmo diante de todos os desafios que a indústria enfrentou ao longo deste ano, ela continua mostrando sua relevância e contribuindo para o desenvolvimento economia capixaba”, afirmou Cris.
Segundo a economista-chefe da Findes, o indicador negativo da indústria deve-se, principalmente, ao desempenho das indústrias extrativas (-22,4%) e de transformação (-2%).
“A queda de 22,4% na indústria extrativa é explicada pela redução nas produções das duas atividades que compõem o setor no Estado: petróleo e gás natural (-34%) e pelotização do minério de ferro e outras atividades (-6,1%)”, disse.
No caso da indústria de transformação, a fabricação de celulose, papel e produtos de papel continuou crescendo. Ao longo dos três primeiros trimestres de 2022, ela acumulou alta de 15,7%, devido ao aumento da demanda interna e externa do produto. Com isso, o segmento acumula três anos de crescimentos consecutivos.
Todavia, esse bom desempenho não foi suficiente para conter os resultados da fabricação de produtos de minerais não-metálicos (-8,8%), fabricação de coque, de derivados do petróleo e de biocombustíveis (-6,6%), metalurgia (-2,0%) e fabricação de produtos alimentícios (-2,0%), deixando o resultado geral da indústria de transformação negativo.
“Como destaques positivos, podemos citar o desempenho da indústria da construção (16,3%) e do segmento de energia e saneamento (6,8%) do Estado. Vale ressaltar que, de acordo com a análise da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), o ano de 2022 tem se revelado favorável ao setor, configurando o segundo melhor ano da última década, atrás apenas de 2021”, apontou Marília.
Crescimento de 2,6% de janeiro a setembro de 2022
Nos nove primeiros meses de 2022, a atividade econômica do Estado registrou crescimento de 2,6%, na comparação com o mesmo período de 2021. O resultado, segundo analisou a Federação, é fruto da melhoria de alguns indicadores em nível estadual e nacional, entre eles a inflação e o desemprego, que caíram, e o consumo das famílias, que aumentou.
Em meio a esse contexto, a agropecuária (11,3%) e o setor de serviços (5%) – que também inclui comércio e transportes -, cresceram ao longo dos três primeiros trimestres de 2022. Já a indústria geral, impactada pelas influências do mercado internacional, retraiu 4,6%.
Segundo a presidente da Federação, Cris Samorini, a melhora no quadro da pandemia do novo coronavírus foi um dos fatores que contribuíram com os resultados positivos do Estado, já que 2022 é o primeiro ano com a manutenção da redução das restrições sanitárias em relação à Covid-19.
Segundo ela, também houve a desaceleração da inflação e dos indicadores de desemprego, resultados positivos para a economia. Por outro lado, o período de eleições para o Executivo nacional e estadual, é sempre um ponto de atenção para o mercado, além da guerra entre Rússia e Ucrânia, que vem gerando um desalinhamento nas cadeias produtivas, freando o avanço da economia.
Perspectivas para o próximo ano
Durante a coletiva, além do balanço de 2022, a presidente da Findes também trouxe algumas perspectivas para o próximo ano.
“Sabemos que 2023 será um ano que continuará exigindo a nossa atenção, mas construímos uma agenda coletiva e sólida, a Agenda da Indústria Capixaba, para nortear os principais projetos e medidas que precisam ser tomados para continuarmos no caminho do desenvolvimento”, afirmou.
De acordo com a presidente, no âmbito nacional, a principal pauta da Federação é a recriação do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), pasta especializada em desenvolver planejamentos de curto, médio e longo prazo para o contínuo desenvolvimento do setor industrial. Assim, será possível ampliar os ganhos e oportunidades que são gerados pela indústria e que impactam no processo de desenvolvimento do país.
Um destaque trazido pela presidente foi em relação aos investimentos e projetos industriais previstos para os próximos anos. “Para os próximos cinco anos serão R$ 27,3 bilhões em investimentos no ES distribuídos em 383 projetos identificados pela Bússola de Investimentos da Findes. Estamos falando de negócios como da Olam, Britânia, Suzano, Garoto e Marcopolo”, disse.
Para Eduardo Araújo, conselheiro no Conselho Federal de Economia e ex-presidente do Corecon-ES, a pesquisa mostra que a atividade econômica no Espírito Santo deve fechar o ano de 2022 com um resultado positivo, e que deve ficar um pouco abaixo da média de crescimento no país (que possui projeção de crescimento de 2,8% do PIB em 2022).
Agropecuária e serviços têm bons resultados
De acordo com a Findes, no acumulado de janeiro a setembro deste ano, a agropecuária foi o setor que mais cresceu em relação ao mesmo período do ano passado.
O indicador positivo foi impulsionado pelo aumento de 15,4% na produção agrícola, com expansão nas principais lavouras do Estado: café, banana, cana-de-açúcar e tomate. Mas, no caso da pecuária, houve recuo de 2,3% devido à redução na produção de leite e de aves e ovos.
As três atividades que envolvem o setor de serviços (4,6%) também tiveram resultados positivos influenciados pela continuidade no processo de retomada do setor, que teve início no ano passado. Com isso, transporte (2%), comércio (2,2%) e demais atividades de serviços (6,3%) cresceram nos três primeiros trimestres do ano.
Queda da inflação e desemprego
A economia capixaba contou com bons indicadores ao longo do ano, como queda da inflação e do desemprego. Esse desempenho contribuiu para que a atividade econômica do Espírito Santo, entre os meses de janeiro e setembro, fosse positiva (2,6%).
“Constatamos que a inflação ao consumidor (IPCA), no acumulado em 12 meses, desacelerou de 11,3% no primeiro trimestre para 7,2% ao final do terceiro trimestre. Isso ocorreu, principalmente, devido à redução de tributação sobre os combustíveis, via medida do Governo Federal (Lei Complementar nº 194). Já no ES, a inflação, no acumulado em 12 meses, passou de 11,94%, no primeiro trimestre do ano, para 7,07%, no terceiro trimestre”, explicou Marília.
Marília ainda aponta que, no que diz respeito à melhora no mercado de trabalho nacional, a taxa de desocupação do Brasil caiu 2,4 pontos percentuais na comparação ao 1º trimestre do ano, ficando em 8,7% no 3º trimestre.
“Já no Espírito Santo, o nível de desemprego foi ainda menor, chegando a 7,3% nesse mesmo trimestre (redução de 1,9 p.p. frente ao 1º trimestre de 2022). Se temos mais pessoas empregadas, também temos aumento na renda das famílias, o que possibilita o aumento do consumo”, apontou a economista-chefe da Findes.
Além disso, ao longo de 2022, o governo federal adotou algumas medidas de estímulo econômico. Dentre elas está a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) de produtos selecionados e os incrementos de renda (liberação parcial do FGTS, a antecipação de 13º salário e aumento da média da parcela do Auxílio Brasil até dezembro).