Economia

Educação financeira para crianças? Saiba como lidar com dinheiro desde cedo

Conhecimento é fundamental para que criar uma geração de brasileiros com as finanças equilibradas, avalia economista

Foto: Getty Images

A partir de qual idade uma pessoa deve começar a se preocupar com a  carteira? Com as contas de casa, saber como fazer o próprio dinheiro render, ter responsabilidade. Tudo indica, que o melhor é começar logo cedo, ainda na infância. 

No Brasil já existem iniciativas que ajudam os pequenos a ter seu primeiro contato com a educação financeira, como a Turma da Mônica Sicredi, que ensina sobre o assunto de forma lúdica, além de projetos que vão direto para a sala de aula, como a Educação Financeira na Escola (Febraban). 

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No Espírito Santo, uma iniciativa em particular, liderada pelo Sicoob Centro-Serrano, ensina crianças em Santa Maria de Jetibá, na região Serrana do Estado, sobre educação financeira em pomerano, preservando cultura e língua, falada por grande parte da população da cidade. 

Segundo o economista e professor Antônio Marcus Machado, ensinar as crianças sobre educação financeira é fundamental, especialmente levando em consideração as características e peculiaridades da economia brasileira. 

“Esse tema é essencial, especialmente para um país como o Brasil em que o controle financeiro é indispensável. É um país que oscila muito em termos de inflação, de emprego e desemprego, também na renda e nos salários. É fundamental que as crianças aprendam sobre o preço das coisas e o valor das coisas. O preço é o que você paga, o valor é o que você recebe”, disse. 

Sobre o trabalho realizado pelas instituições financeiras, o economista tece apenas elogios. Segundo ele, o serviço representa um exercício de responsabilidade social junto às crianças. 

“É importante que elas tenham essas ações para mostrar que elas querem um crescimento financeiro sustentável, não somente lucro, mas também gerar um valor social para a comunidade em que ela está inserida”, afirmou. 

O economista relata ainda que as medidas auxiliam famílias a terem um orçamento financeiro equilibrado, o que ajuda as próprias instituições, uma vez que a  educação financeira é uma solução para evitar não apenas o endividamento, como também a inadimplência, o que apenas facilita a vida das financeiras.

“As instituições ajudam a criar uma geração de pessoas equilibradas financeiramente, ninguém quer a inadimplência. É fundamental que as crianças tenham uma mesada, uma semanada, seja R$ 5 por semana, R$ 10 por semana, o que for, para que elas tenham um limite e aprendam a viver naquele limite”, pontua. 

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O economista afirma também que a educação financeira serve não apenas para falar sobre dinheiro, mas também para solidificar valores como cidadania, responsabilidade e até empatia.

“O importante para os pais e para instituições financeiras não é gerar o avarento, que junta o dinheiro pelo dinheiro. Ensinar a ela a construir e ter o que precisa dentro de suas metas e também ajudar os outros quando possível, tanta gente precisando de um bem, de um serviço ou até dinheiro. É o altruísmo”, destaca. 

Ensinando com diversão 

Para quem tem crianças em casa, dinheiro, economia, podem ser temas um pouco espinhosos para tratar com quem ainda não tem total noção da seriedade e importância do assunto.

Para isso, é claro, existem alternativas que podem juntar educação com lazer e diversão. Pelo menos, é o que sugere o economista, para tornar tudo um pouco mais fácil para os pais. 

“A maneira mais divertida e próxima da realidade das crianças é fazer um joguinho com as contas da casa. Luz, aluguel, celular, gasolina. Isso pode virar uma brincadeira entre eles. Por que não fazer um Banco Imobiliário com a sua casa? Com as suas contas?”, destaca. 

Economia não é só para especialistas 

O assunto desperta interesse de quem é expert no assunto, mas deixa bem claro “economia não é só para especialistas”. O economista Edson Daher corrobora todos os pontos do professor Antônio e ainda alerta, que longe dos cálculos e números, é importante conhecer a realidade. 

“O Brasil é hoje um dos países que mais tem famílias endividadas do mundo, estima-se que 78 de cada 100 famílias tem algum tipo de dívida. Demonstrando que o brasileiro é bastante estimulado pelo consumo excessivo e que não tem muito acesso à educação financeira”, disse. 

Ele diz ainda que um dos motivos mais importantes de se transmitir os conhecimentos de educação financeira às crianças tem nome: consumismo. O bombardeio de publicidades de itens de consumo acaba favorecendo o endividamento, e que as crianças precisam estar bem informadas sobre o tema.

“Atualmente vivemos na era digital, com isso, o nível de publicidade que as pessoas consomem são absurdamente mais agressivas do que a 10 anos atrás, isso quer dizer, que as crianças atualmente são ainda mais influenciadas por um consumo excessivo, e que vai muito além de suas necessidades básicas”, afirmou. 

O economista informa que a educação financeira é extremamente importante para evitar o consumo desnecessário, não apenas para crianças, mas para toda a família, uma vez que o Brasil pratica umas das taxas de juros mais altas do mundo.

Ele alerta ainda que o consumismo desenfreado pode atrapalhar, inclusive, o pleno desenvolvimento das crianças. “Em um mundo onde as necessidades são influenciadas pela publicidade, podem trazer graves consequências financeiras e emocionais”, finalizou. 

Educação no dia a dia

Para manter a educação financeira das crianças em dia e de forma leve, Daher informa é que de extrema importância que o tema esteja presente no cotidiano dos pequenos, desde os afazeres de casa até o estímulo a poupança. 

Para isso, o economista separou algumas dicas de ouro para a introdução da educação financeira na rotina das crianças. 

Explicar relação, dinheiro e trabalho; dependendo da idade da criança ela ainda não percebe sobre quantidades e importância, entretanto é importante explicar de onde vem o dinheiro dos pais, que geralmente tem relação com o trabalho. As crianças copiam atitudes dos pais, entender que trabalho gera dinheiro e que consequentemente esse dinheiro proporciona compra, estimula a criança a realizar suas tarefas de casa com mais aptidão.

Atribuir uma quantia de curto prazo: atribuir uma quantia de curto prazo como semanal (que esteja compatível com seu orçamento), tendo em vista que as crianças têm uma percepção de tempo diferente que a dos adultos e quantias mensais dificultaria o processo de aprendizagem, pode estimular crianças a desenvolver suas capacidades de administração dos seus próprios recursos. 

Estimular a poupança: atribua juros a poupança das crianças, ou seja, quando elas conseguirem não gastar parte de suas quantias semanais (por exemplo) elas podem ser recompensadas por essa atitude, demonstrando que quando se poupa, seus recursos tendem a aumentar. Outra forma, é demonstrar capacidade de reciclar seus bens, como os brinquedos e roupas, que não estão sendo utilizados e poderem ser parcialmente doados.

Participação nos afazeres da casa: introduzir a criança nos deveres de casa demonstram capacidade em lhe dar com o dinheiro, uma boa maneira de introduzir essa educação financeira é fazendo as crianças participarem desde o momento de fazer uma lista de compras antes de ir ao mercado, explicando o que são compras de prioridade, que são aquelas de necessidade básica, e estimulando limites para as compras de não muita necessidade.

Projetos de estímulo

No Brasil e também no Espírito Santo há diversos projetos que estimulam a educação financeira no dia a dia das crianças. Para quem quiser se aprofundar neste universo e ensinar aos pequenos, alguns deles estão disponíveis na internet e em mídia física. 

Turma da Mônica Sicredi

Foto: Reprodução/Sicredi

O projeto Turma da Mônica Sicredi, que usa os personagens de Maurício de Souza para uma conversa leve e descontraída sobre educação financeira para crianças de uma forma lúdica e divertida. 

Dentre os temas abordados pelo projeto, estão a origem do dinheiro, orçamento familiar e como funcionam, além de dicas sobre como poupar a mesada e o estabelecimento de metas tangíveis com o dinheiro. 

Educação Financeira na Escola (Febraban)

Foto: Reprodução/MEC

A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) é responsável pelo projeto Educação Financeira nas Escolas, que acontece todos os anos no mês de maio em colégios de todo o país. 

O projeto funciona por meio de jogos e atividades interativas com os alunos dos ensinos médio e fundamental. Dentre os programas, foi desenvolvido o game eletrônico “Tá O$$O”, que utiliza ferramentas tecnológicas para desenvolver os conhecimentos das crianças sobre tecnologia e dinheiro. 

Coleção Financinhas

Foto: Reprodução/Sicoob

A Coleção Financinhas é uma iniciativa do Instituto Sicoob em todo o Brasil. No Espírito Santo, a empresa investiu em Santa Maria de Jetibá. A novidade é que são cartilhas de educação financeiras para crianças escritas em pomerano.

A ideia é, além de educar, preservar a língua e a cultura locais, uma vez que o pomerano é uma língua quase extinta em todo o mundo.