O comércio de eletrônicos e a indústria de confecção no Espírito Santo já começam a sentir os impactos da falta de produtos importados da China, país que teve a produção comprometida pelo novo coronavírus (Covid-19). Empresas desses setores já estimam prejuízos significativos por causa da falta de material. Além disso, a dificuldade em encontrar peças já fez subir o preço de algumas mercadorias.
O despachante aduaneiro Carlos Alberto Gonçalves de Araújo explica que, em determinados mercados, há apenas produtos chineses, cujos pedidos foram feitos em dezembro, ou seja, antes do recesso de janeiro das indústrias do país.
“No dia 20 de janeiro, as cargas estavam prontas para embarcar, só que no começo de fevereiro, que é o tempo que voltaria do recesso, começa o coronavírus. E aí a coisa toda desandou, porque isso não estava planejado. Ninguém imaginava que iria acontecer esse problema e que ele causasse atrasos na importação e na distribuição”, frisou.
O principal cliente de Carlos Alberto é uma distribuidora capixaba que compra US$ 2 milhões por mês em equipamentos de informática da China e que estima um grande prejuízo para os próximos meses.
“Nos próximos 60 dias, ele não tem produto para trabalhar. Estima uma queda no seu faturamento de 70%, porque não existe produção no mercado local disso que ele compra para distribuir”, afirmou o despachante.
Em uma loja de manutenção de aparelhos eletrônicos localizada em Boa Vista, Vila Velha, o proprietário confirma a dificuldade, nas últimas semanas, de encontrar peças para os equipamentos, já que elas são fabricadas na China.
“Hoje a gente está com uma falta de 20% a 30% de componentes eletrônicos, que são a base de telas, área de manutenção em geral. Estamos tendo dificuldade com alguns componentes pequenos. Os fornecedores, tanto daqui quanto de São Paulo, que são de onde vem a maior parte, já não estão tendo [os produtos]”, afirmou Anderson Raynner Fernandes Mota, que também é técnico em manutenção de celular.
Raynner explica que, com a dificuldade de achar as mercadorias, os preços acabaram subindo e ele não teve outra alternativa senão reajustar os valores na loja.
“A gente está pagando um pouco mais, pela falta. E quem tem está cobrando mais são os grandes fornecedores. Uma média de 20% a 30%. E a gente tem que repassar isso ao consumidor final, infelizmente.”
As indústrias de confecção do Espírito Santo também já estão sentindo os impactos provocados pelo novo coronavírus, já que utilizam tecidos sintéticos, fabricados na China, para produção de peças de vestuário.
O vice-presidente da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes), José Carlos Bergamin, diz que ainda é cedo para calcular o tamanho do prejuízo. Enquanto isso, as cerca de 1,3 mil indústrias capixabas do ramo procuram alternativas.
“Está faltando algodão, porque nós não temos fios sintéticos vindos da China. As indústrias substituem sintéticos por algodão e, com isso, começa a faltar algodão, sendo que algodão não tem nada a ver com a China. Então você observa que isso é muito complexo. A extensão disso tudo nós ainda não começamos a dimensionar de uma maneira efetiva”, ressaltou.
Impacto na economia
Por causa desse problema na distribuição de materiais, os resultados da economia para o primeiro semestre de 2020 preocupam. Carlos Alberto afirma que ainda vai levar alguns meses até que a produção de mercadorias chinesas e as exportações delas voltem ao normal.
“A China te pede 30 dias entre o pagamento e a entrega do produto, mas isso não aconteceu nos 45 dias para trás. Então tudo que vai começar a ser feito, a gente pode colocar um prazo inicial com ontem, ou seja, mais 30 ou 45 dias para as mercadorias ficarem prontas e mais uns 45 a 50 dias para a carga chegar até o Espírito Santo. Ou seja, a gente não precisa fazer muita conta aqui: o Dia das Mães já está comprometido e, possivelmente, o primeiro semestre não vai ter mercadorias para vender no comércio de produtos importados”, afirmou.
A expectativa, no entanto, é que a falta de produtos chineses possa incentivar a produção brasileira, que deve ser motivada também pela alta do dólar e pelo consequente aumento dos preços de importados do país asiático.
“No contraponto da confecção, vêm também da China muitos produtos acabados têxtil e de confecção, e nós podemos substituir isso por produto brasileiro. Então, na medida em que há uma dificuldade para a indústria do Espírito Santo, pela falta de fio, nós podemos transformar isso numa possibilidade de negócio, à medida que as grandes cadeias do Brasil passem a comprar mais do produto brasileiro e, consequentemente, do Espírito Santo, que aqui se produz muito e bem”, destacou Bergamin.
Com informações da repórter Fernanda Batista, da TV Vitória/Record TV