Produzir mais consumindo menos. Os micro e pequenos empreendedores estão cada vez mais ligados na sustentabilidade. Além de consumirem menos e ajudarem o planeta, viram na eficiência energética uma forma, também, de aumentar a lucratividade.
A primeira vista, utilizar uma energia alternativa e sustentável pode parecer complicado ou caro. Mas para o empreendedor, recuperar o investimento não leva muito tempo.
“Acompanhamos um projeto de uma padaria que fica em Vitória que verificou que uma parte significativa dos preços dos produtos ofertados tinham embutidos o custo da energia elétrica. O proprietário decidiu, então, investir em energia solar. No primeiro mês de operação, conseguiu economizar 15 dos custos totais. Ele então reduziu o preço dos produtos em 10 e ainda lucrou mais 5”, conta o engenheiro eletricista, João Olívio.
O especialista, no entanto, acredita que falta incentivo governamental para que as energias alternativas ganhem força. “Os investimentos para usufruir dos benefícios de uma energia renovável são relativamente altos e precisam de uma mão de obra qualificada e cara. O poder público pouco fomenta esse tipo de energia e também falta informação para o micro e pequeno empreendedor”, completa.
Há empresas, no entanto, que vão além. Produzem energia e negociam o excedente no chamado Mercado Livre de Energia (entenda mais abaixo). A Suzano, uma das maiores produtoras de celulose do mundo, que tem fábrica em Aracruz, no Norte do Espírito Santo, é uma das seletas empresas que participam deste mercado.
“A produção de celulose consiste basicamente em separar a celulose do resto da madeira proveniente de nossas florestas plantadas. O que sobra é um composto orgânico rico em lignina chamado licor negro, que é um combustível bastante eficiente e renovável. Com a evolução das tecnologias esse processo se tornou cada vez mais eficiente, a ponto de toda a energia gerada ser suficiente para atender todo o consumo de uma fábrica de celulose, e ainda sobrar”, afirma o coordenador de negócio de energia da Suzano, Fábio Campanholo.
(+) Para fomentar a informação sobre o uso de energias renováveis, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) lançou uma cartilha para o micro e pequeno empreendedor saber mais sobre as energias sustentáveis e como isso pode impactar na lucratividade. O projeto é inicial e pode ser conferido neste link.
Mercado Livre de Energia
Já pensou se você pudesse escolher de onde quer comprar energia elétrica para utilizar? Como se houvesse um “supermercado” de energia? Talvez você não saiba, mas essa modalidade já existe, mas não é para todos. O Mercado Livre de Energia (MLE) está disponível no Brasil apenas para empresas e indústrias que consumam muita energia.
Para ter acesso, o consumo precisa ser de, no mínimo, 1.500 kW. Em casos especiais, como empresas que contratem fornecimento de energia a partir de fontes sustentáveis, é possível entrar no MLE com consumo mínimo contratado de 500 kW.
“Quando se fala no consumo de energia, as indústrias e grandes empresas têm essa vantagem de negociar a compra e venda de energia elétrica, que é mais barata do que a residencial que a maioria da população utiliza. O custo final pode ser de até 35% a menos”, afirma o engenheiro eletricista, João Olívio.
A Suzano, além de produzir a própria energia através de fontes renováveis, vende o excedente no MLE.
“A quantidade de energia vendida varia de acordo com a produção de celulose. Em 2020, o total de energia injetada no GRID Brasileiro foi de 177,8 MWM, o suficiente para atender aproximadamente 620 mil habitantes”, afirma o coordenador de negócio de energia da Suzano, Fábio Campanholo.
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No mundo
O Brasil é considerado um país com muitas restrições de acesso ao Mercado Livre de Energia. Com uma cota mínima de 500 kW ou 1.500 kW, fica em um cenário parecido com outros países em desenvolvimento como o México e a Índia.
Por outro lado, o País está bem distante de países em que não há restrição de entrada no MLE. Na Alemanha, França e Reino Unido, por exemplo, a população pode escolher de quem vai comprar a energia elétrica que vai consumir, independente da quantidade utilizada.
O Mercado Livre de Energia como negócio
Produzindo energia – através de fontes renováveis – e vendendo o excedente, a Suzano transformou este tipo de energia em um modelo de negócio. A maioria da eletricidade vendida é para empresas de Aracruz, no Norte do Espírito Santo, onde a empresa tem fábrica.
Parte da energia que produzimos foi consumida por outras unidades da própria Suzano, o excedente é o suficiente para abastecer uma 220 mil habitantes. E é justamente essa energia que é vendida para empresas em todo o Brasil, inclusive do Espírito Santo”, completa Campanholo.
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