*Artigo escrito por Renan do Amaral, contador especialista em Controladoria, Finanças, Investimentos e membro do Comitê Qualificado de Conteúdo de Finanças do IBEF – ES.
Não é de hoje que se discute as consequências do endividamento na saúde e na qualidade de vida das pessoas.
As dívidas em excesso reduzem o poder de compra, impactam no planejamento financeiro e consequentemente diminuem a autoestima das pessoas afetando diretamente e rigorosamente na produtividade diária do trabalhador.
Quando é visto nos noticiários que a inadimplência segue em alta, deve-se parar para pensar que, em regra, todo esse endividamento é de pessoas inseridas no mercado de trabalho, que exercem as mais diversas funções, e que empresas que essas pessoas trabalham em sua maioria são pequenas e médias, não oferecendo, no geral, altas remunerações aos seus funcionários, devido às limitações de seus faturamentos.
O acúmulo de dívidas gera angústia, preocupação e pessimismo. As preocupações tomam conta dos pensamentos, começam a fazer parte da rotina e a pessoa se volta a ter comportamentos negativos, o que gera o surgimento de problemas de saúde.
Entre eles: dificuldade para dormir, ansiedade e crise de pânico, depressão, gastrite, obesidade e refluxo (devido à má alimentação). Todas essas situações podem gerar o afastamento do colaborador do trabalho
Devido ao excesso de estresse pelo endividamento, o comportamento das pessoas pode mudar em seu ambiente de trabalho, prejudicando as relações, impactando na comunicação e consequentemente nos resultados almejados em equipe.
Outro ponto é que muitas vezes, nesse cenário, o funcionário pede adiantamentos de 13º salário e de férias, e em alguns casos extremos pede ajuda aos donos para poder arcar com suas dívidas.
Essa situação gera tensão e desconforto para ambos os lados, porque, na visão correta do empresário, ele já paga o seu colaborador pelos seus serviços prestados, entretanto, muitos acabam ajudando por compaixão.
Devido à mudança de comportamento, sem saber o que realmente se passa, as pessoas podem rotular o endividado, causando ainda mais desânimo e afastando-o ainda mais das pessoas.
Cenário no Brasil
Não é difícil observar que a cada ano as coisas ficam cada vez mais caras, tornando proporcionalmente mais difícil arcar e renegociar as dívidas.
O número de brasileiros inadimplentes passa de 70 milhões, o que é um recorde na série histórica, pois corresponde a mais de 30% da população. E ainda mais impressionante é o aumento do valor dessas dívidas, crescendo em média 19%.
De acordo com o Serasa, a inflação e o juros altos são os fatores que estimulam o aumento da inadimplência no país.
Esse tipo de situação é muito ruim, pode piorar, isso desanima ainda mais o trabalhador, pois apesar de muitos não entenderem o porquê economicamente nos encontramos nessa situação, sentem na prática (no bolso) o peso da inflação, vide desvalorização e defasagem de seu salário.
Em contrapartida, a grande maioria das empresas fica de mãos atadas porque também não veem seu faturamento crescer ou ser reajustado para fazer frente ao tão disputado mercado.
As pessoas que conseguem se organizar financeiramente estão mais satisfeitas no trabalho voltando sua cabeça para serem mais produtivas e mais criativas, e com isso possuem ais chances de crescimento.
Vários estudos sugerem que a produtividade do funcionário está ligada à sua saúde mental. Em uma pesquisa realizada pela FGV em 2022 foi inferido um sistema de pontuação em que se chegou à conclusão de quanto maior o bem-estar de um colaborador maior a pontuação para o desempenho de suas atividades exercidas.
Daí que surge a pergunta: mas o que as empresas podem fazer para ajudar seu colaborador a sair de uma situação de dívida?
Como a empresa pode ajudar seu colaborador
A empresa pode e deve orientar sobre hábitos de consumo, começando pela conscientização em relação à educação financeira e o controle de dívidas de todos seus colaboradores, o que não se trata apenas de matemática ou economia, mas sim de hábitos e costumes.
Muitas empresas têm investido em iniciativas de educação voltada a finanças pessoais por já entenderem que satisfação vai além de oferecer salários compatíveis e atrativos.
Resgatar os próprios funcionários de dívidas mal contraídas pode fazer uma diferença importante no dia a dia do funcionário, pois ele começa a enxergar que há uma luz no fim do túnel, o que pode gerar retornos práticos à própria empresa.
Hoje em dia existem profissionais e empresas que são focados em dar cursos, palestras e workshops sobre esse tema, e ainda ensina seus clientes (empresas que contratam seus serviços) e mensurar essa melhora de produtividade.
Algumas pessoas sempre perguntam se tem como mensurar essa melhoria, e a resposta é sim, através de cursos e palestras de orientações financeiras para funcionários há uma via de mão dupla de aprendizado.
Por um lado, o colaborador aprende na prática a repensar e reorganizar sua vida financeira, a contrair dívidas com uma maior qualidade, e pelo outro lado a empresa fica menos exposta a embaraços de seus funcionários e ainda aumenta a satisfação e à produtividade que pode melhorar seus indicadores.
Estabelecer indicadores e métricas antes e após os cursos e as orientações é a maneira mais eficaz de medir o impacto na melhoria da produtividade.
Já imaginaram um vendedor desmotivado, desgostoso e totalmente focado e mergulhado em suas dívidas? Você realmente acha que ele consegue deixar isso para fora da porta da empresa? Para uma empresa que vive de vendas (a maioria), isso pode se tornar fonte de perda de receita.