*Artigo escrito por Paulo Cezar de Siqueira Silva, CEO da Irradiare Consultoria em Sustentabilidade e membro do Comitê Qualificado de Conteúdo ESG do IBEF-ES.
A importância dos aspectos ESG – ambientais, sociais e de governança – não é novidade para a sociedade e para as empresas.
Impressionante é observar que tantas lideranças ainda relutem na decisão de se apropriar desta pauta, mesmo com sinais tão evidentes de sua importância para a sociedade.
Ao longo do último século, a sociedade já se mobilizou, diversas vezes, em uma jornada em torno de assuntos relacionados a esta agenda: a Declaração Universal de Direitos Humanos na década de 40; a primeira Conferência da ONU sobre Meio Ambiente, na década de 70; a Rio92, na década de 90 e; nas últimas décadas, os diversos escândalos corporativos relacionados a condutas antiéticas, fraudes, denúncias de assédio moral e sexual, além de diversos acidentes ambientais e com trabalhadores, com perdas de inúmeras vidas, danos significativos ao meio ambiente e prejuízos financeiros bilionários.
Para exemplificar, as perdas econômicas globais decorrentes de desastres naturais, a maioria associada a eventos climáticos extremos, chegaram a US$ 275 bilhões em 2022 , dos quais, US$ 125 bilhões em perdas seguradas. Realidades incontestáveis da relevância desta agenda.
Estes fatos ampliaram a consciência de muitas lideranças sobre a necessidade de gerenciar de forma responsável os aspectos ambientais, sociais e de governança das organizações, sob risco de causar danos relevantes às pessoas e ao planeta, além de prejuízos financeiros significativos para a própria empresa e para a sociedade.
E esta consciência, mais recentemente, alcançou um ator importante deste jogo: o decisor do sistema financeiro, que começou a se importar e a agir em relação a estas questões.
E desde que Larry Fink, CEO da BlackRock, maior gestora global de fundos de investimento, passou a incorporar em suas cartas anuais aos CEOs de empresas um posicionamento mais contundente a respeito da importância da agenda ESG na criação de valor de longo prazo, esta agenda tem ganhado tração.
Cientes de que a má gestão das questões da agenda ESG traz impactos financeiros relevantes para os negócios, passaram a condicionar a alocação de seus recursos à capacidade das empresas demonstrarem a efetividade na gestão, não só em relação aos impactos causados por suas atividades, mas, também em relação aos impactos que as transformações da sociedade e do meio ambiente podem causar sobre os resultados do negócio, do curto ao longo prazo.
Empresas que demonstram bom desempenho ESG, aliado à boa performance financeira e de geração de valor, serão premiadas com custo de capital mais competitivo.
Como consequência desta realidade, as cadeias de fornecimento de grandes corporações têm exigido dos fornecedores uma postura mais ativa e transparente na gestão desses aspectos, passando a internalizar estas dimensões como requisitos diferenciadores no processo de compras.
Exemplo relevante neste campo é o Programa Integrado de Desenvolvimento e Qualificação de Fornecedores – PDRODFOR, coordenado pelo IEL/ES, em parceria com grandes empresas do Estado do Espírito Santo, representa uma ação conjunta destas para promover, de modo integrado, o desenvolvimento e qualificação de seus fornecedores de bens e serviços, também em temas relevantes da agenda ESG, como meio ambiente, saúde e segurança do trabalho, eficiência energética e compliance.
No varejo, os consumidores também têm se tornado mais exigentes em relação aos produtos consumidos, declarando a importância do desempenho socioambiental da empresa, na escolha de seus produtos.
E não tenhamos dúvidas que este comportamento crescerá no médio-longo prazo impactando, cada vez mais, as vendas de produtos e rentabilidade das empresas.
Diante deste cenário, a questão não é mais sobre se a empresa será impactada ou não pelas questões da agenda ESG, mas, quando. Resta-nos aprender com Cora Coralina: “Mesmo quando tudo parece desabar, cabe a mim decidir rir ou chorar, ir ou ficar, desistir ou lutar; porque descobri, no caminho incerto da vida, que o mais importante é o decidir.”
Cabe a você decidir!