Economia

Estreia de Galípolo no Copom atrai atenção do mercado

Economistas afirmam que aumento dos juros de 12,25% para 13,25% ao ano já está dado e o importante é saber qual o tom da comunicação após a reunião

Galípolo: mercado de olho principalmente nas informações de boletim pós Copom. Crédito: Geraldo Magela/Agência Senado
Galípolo: mercado de olho principalmente nas informações de boletim pós Copom. Crédito: Geraldo Magela/Agência Senado

Comitê de Política Monetária (Copom) deve seguir o script definido em dezembro na decisão desta quarta-feira, 29: aumentar a taxa Selic em 1 ponto percentual, de 12,25% para 13,25%, e manter o tom conservador na sua comunicação, segundo economistas ouvidos pela reportagem.

A estreia de Galípolo no Copom atrai atenção do mercado. Esta será a primeira reunião sob a presidência de Gabriel Galípolo e com a participação de três novos diretores: Nilton David (Política Monetária), Gilneu Vivan (Regulação) e Izabela Correa (Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta).

Em dezembro, o Copom deu uma sinalização de duas reuniões, com altas de 1 ponto. É consenso entre os analistas que a indicação para março será mantida.

Mas há dúvidas sobre uma eventual indicação para a reunião subsequente, de maio. Os economistas ouvidos pela reportagem avaliam que qualquer comentário nesse sentido, se houver, deve ter um tom qualitativo, buscando comprar graus de liberdade para o Banco Central.

Na única aparição pública de um membro do comitê em 2025, o diretor de Política Econômica, Diogo Guillen, reiterou que o forward guidance (orientação futura sobre os rumos dos juros) continua válido.

Mas ele destacou que a autoridade monetária continua monitorando os dados, com destaque para o “termômetro da atividade”.

Dada a elevada incerteza doméstica e externa, o Copom provavelmente vai manter o guidance para a reunião de março, mas pode escolher ficar em silêncio sobre a reunião de maio, ou dizer que o ciclo de aumento vai se estender além de março, mas que a magnitude das altas na taxa de juros dependerão dos dados. Alberto Ramos, diretor de pesquisa macroeconômica do Goldman Sachs para a América Latina

Desde a última reunião, as medianas do relatório Focus para a inflação de 2025 e 2026 subiram 1,38 e 0,52 ponto percentual, respectivamente, para 5,50% e 4,22%.

O IPCA-15 de janeiro mostrou uma piora na dinâmica da inflação de serviços, observada de perto pelo BC.

Em contrapartida, o dólar perdeu força frente ao real e, desde a semana passada, opera abaixo da linha de R$ 6,00.

A atividade econômica também passou a dar sinais de desaceleração, e a trajetória de Selic esperada pelo mercado aumentou.

Esses fatores devem levar as projeções do Copom para a inflação de 2025 e do terceiro trimestre de 2026, que agora deve se tornar o horizonte relevante da política monetária, de 4,50% para 4,80% e de 3,60% para 3,80%, segundo Ramos.

“Essas projeções serão chaves para calibrar a trajetória da taxa Selic e o tamanho do ciclo de alta. Esperamos que o balanço de riscos para a inflação permaneça assimétrico para cima”.

O economista do Santander Brasil Marco Caruso calcula que a projeção do comitê para o terceiro trimestre de 2026 deve subir para 3,90% – uma alta suficiente para manter a orientação futura e elevar a Selic em 1 ponto porcentual nesta reunião, mas não o bastante para obrigar o BC a renovar a sinalização para duas reuniões.

Nesse cenário, a tendência é que o Copom tente preservar seus graus de liberdade, afirma.

Segundo Caruso, essa flexibilidade é importante porque o próprio BC já indicou que pode estar caminhando para um “overshoot” dos juros reais – ou seja, para a eventual necessidade de aumentar a Selic mais do que seria normalmente necessário, já que há evidência de algum “entupimento” dos canais de transmissão.

O próprio Guillen afirmou, em janeiro, que a política monetária está contracionista e caminhando para se tornar “muito contracionista”.

Dado que você está com os canais entupidos, precisa entregar mais do que as condições normais de temperatura e pressão sugeririam. Mas, se está fazendo esse a mais com a alta de 3 pontos percentuais (de dezembro, janeiro e março), em algum momento se justifica você reduzir o passo e avaliar os efeitos cumulativos e defasados, porque o risco depois passa a ser entregar uma atividade muito mais fraca do que se esperava antes. Marco Caruso, economista do Santander

A economista-sênior da LCA 4intelligence Thaís Zara também espera que o comitê busque alguns graus de liberdade, possivelmente sinalizando que vai acompanhar a evolução dos dados e que pode dar continuidade ao ajuste, se necessário.

Na avaliação dela, há evidências de que a “atuação tempestiva do BC” surtiu efeito em dezembro, e a autoridade monetária deve observar os efeitos da política monetária nos próximos meses.

Quando a gente olha as expectativas de inflação subindo, a despeito do que foi feito e sinalizado em termos de política monetária, há uma tentação de deduzir que a alta de juros, a comunicação, não surtiu efeito. Mas, dado o tamanho da depreciação, e dos potenciais efeitos nas expectativas, sem essa reação do BC a alta das expectativas poderia ter sido ainda mais forte do que a gente viu. Thaís Zara, economista-sênior da LCA 4intelligence

“Agora, o importante é o BC manter essa comunicação que já foi fornecida, sinalizar que vai persistir neste ajuste até se sentir mais confortável com as projeções de inflação, ao mesmo tempo que acompanha a evolução do cenário externo – que ainda tem bastante incerteza – e do cenário doméstico”.