Brasília – Com base em dados do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e outros indicadores econômicos, estudo feito pelo banco Santander estima que apenas 1,2% das contas inativas do FGTS – cerca de 100 mil cotistas – têm saldo superior a R$ 17,6 mil que, somados, respondem pela grande parcela de R$ 20 bilhões depositados.
Ao mesmo tempo, outros 94% dos cotistas têm saldo entre zero e R$ 3,5 mil. Somado, esse grupo majoritário em número de trabalhadores responde pela parcela minoritária de 17% dos depósitos. Essa grande concentração de recursos na mão de poucos trabalhadores limita o impacto da liberação dos recursos sobre a demanda e o pagamento de dívidas, diz o banco espanhol: “Essa distribuição é ainda mais heterogênea que a observada na renda real. Em 2015, 1% do topo recebeu cerca de 10% do rendimento total do trabalho, Previdência e transferências sociais.”.
Para o Santander, o grupo de trabalhadores mais rico que possui metade do fundo não deve usar o dinheiro majoritariamente no consumo. “Eles parecem menos inclinados a usar os recursos seja para consumo ou redução da dívida. Ao invés disso, parece mais provável que simplesmente direcionem esses recursos para opções mais vantajosas de investimento”, dizem os analistas do banco.
Dívidas
O uso do dinheiro das contas inativas do FGTS para pagar dívidas deverá ter efeito “desprezível” sobre o comprometimento da renda e inadimplência. A previsão é do banco Santander. Mesmo na hipótese altamente improvável de que todos os recursos sejam destinados ao pagamento de dívidas, o impacto seria “limitado”. Um das razões é a concentração do saldo das contas na mão de poucos trabalhadores: 1% tem praticamente 50% do que será liberado. A concentração limita o impacto sobre demanda e endividamento, cita o banco.
Além de avaliar o impacto sobre o consumo, a equipe de economistas do Santander também projeto o impacto da liberação de R$ 41,4 bilhões das contas inativas do FGTS sobre o endividamento das famílias.
No caso extremo e improvável em que trabalhadores usassem todo o dinheiro inativo para quitar dívidas, o comprometimento da renda das famílias cairia até 0,60 ponto porcentual e a inadimplência diminuiria até 0,15 ponto.
“Dado que o efeito máximo é tão limitado, o impacto efetivo seria bem pequeno e definitivamente não mudaria o cenário”, dizem os analistas do Santander liderados pela economista Adriana Dupita. Para o banco espanhol, o possível impacto do uso do FGTS para quitar dívidas é “desprezível”. “Mesmo com a premissa extrema, o efeito máximo ficaria longe de ser considerado significativo”, dizem os analistas.
Nesse cenário improvável, o comprometimento da renda das famílias com dívidas cairia de 22,2% em novembro para algo próximo de 21,6%. Já a inadimplência cairia do patamar de 4,1% para 3,95%.
Como saber se o saldo poderá ser sacado
O ambiente online do FGTS exibe todas as contas abertas, em nome do trabalhador, pelas empresas que o empregaram e/ou empregam. Quando a interrupção do contrato de trabalho parte do empregador, a conta é encerrada e o dinheiro é disponibilizado ao empregado no momento da demissão. Quando a saída é de iniciativa do trabalhador, a conta fica cadastrada na Caixa como inativa, ou seja, não recebe mais a contribuição do contratante, mas não pode ser encerrada.
Os contemplados na retirada, que será iniciada a partir de março, possuem esse tipo de conta, desde que tenha sido finalizada em até 31 de dezembro de 2015. No Espírito Santo, 186.691 trabalhadores têm saldo disponível em 328.711 contas. Segundo o Ministério do Trabalho, o volume total em contas inativas no Estado é de R$ 526,5 milhões. Em todo país, 10,2 milhões de pessoas terão acesso a quase R$ 30 bilhões.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.