Em um mercado com investidores ainda cercados por tabus, mesmo quando diferentes usos da cannabis vêm ganhando espaço no mercado, seja por meio de medicamentos, óleos, cosméticos e até combustíveis, ainda se questiona se é recomendável investir nos fundos ligados a esta indústria. Sobre o assunto, a reportagem do Folha Vitória buscou especialistas.
Para o sócio da Matriz Capital, assessoria vinculada à XP Investimentos, Elcio Cardozo, os fundos que investem na indústria que utiliza a maconha são investimentos como outros quaisquer.
“Não podemos ficar enviesados, com preconceitos ou receio de investir em uma indústria que ainda é criminalizada no Brasil ou até contestada, quando falamos de fins medicinais. O que o investidor deve ter em mente é a possibilidade de diversificar a carteira de investimentos, ante os mais tradicionais, como títulos de renda fixa ou ações, principalmente aqui no Brasil, que não conta com empresas do setor listadas em bolsa”, disse.
Além disso, para o assessor de investimentos, observando-se em longo prazo, a indústria ligada à maconha tem grande potencial de crescimento. Neste sentido, caso um investidor brasileiro queira investir nela, este investimento deve ser feito via algum fundo do setor que seja distribuído no Brasil.
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Ativos performaram mal mas têm futuro promissor, segundo sócio da Matriz Capital
O setor relacionado à cannabis apresenta perdas, as quais já acumulam mais de 60% desde seu lançamento. Apesar disso, segundo Cardozo, é possível afirmar que o futuro seja promissor.
“É cada vez mais frequente vermos descobertas científicas apontando o canabidiol, por exemplo, com propriedades medicinais capazes de gerar efeitos positivos para diversas doenças. Em função deste potencial, o setor vem atraindo as atenções de empresários em diversos países e aumentando os investimentos neste setor”, esclareceu.
Na visão do especialista, o principal risco é o regulatório, já que, por muito tempo, os medicamentos com CBD foram proibidos no Brasil. Atualmente, apesar de ser possível o uso destes medicamentos, a importação é extremamente burocrática e essa é uma realidade em boa parte dos países.
“Em relação às precauções que o investidor deve ter, toda carteira de investimentos de um investidor moderado deve ser diversificada. A diversificação é a principal ferramenta para reduzir os riscos de qualquer tipo de investimento”, acrescentou Elcio.
Há divergências no mercado de ações
Enquanto para Cardozo o futuro dos investimentos na indústria da maconha é promissor, para Ricardo Brasil, fundador da Gava Investimentos, pelo contrário, a expectativa parece um pouco equivocada, por haver regulação e consequentes restrições ao setor.
“Há uns 4 anos houve um hype (moda) com esses fundos, mas foi realmente uma expectativa um pouco equivocada. É um setor complicado, depende muito do quanto os países vão aceitar, até mesmo para remédio à base de canabidiol. Não é tão simples assim, geralmente se consegue no Brasil por liminar na Justiça. Então, eu não recomendaria”, disse.
O especialista comparou o investimento nesta indústria com o voltado ao Bitcoin (criptomoeda ou dinheiro eletrônico), por exemplo.
“Isso porque existe perspectiva de aceitação no mundo inteiro para transacionar. Mas você vai aos locais e não consegue pagar com esse tipo de moeda. Acho que com o mercado da maconha a expectativa também ainda não é real, mesmo sendo liberado em alguns lugares o uso da maconha e derivados. Não me parece um bom investimento, mas algo bem arriscado”, explicou.
Sobre o futuro, Brasil afirmou que poderia até ser promissor a depender dos governos, caso haja um retorno muito maior que passe a interessá-los.
Rentabilidade
Sobre como investir no setor, o assessor de investimentos da Matriz Capital explica que atualmente não existem empresas do setor listadas na Bolsa brasileira, apenas fora do país.
“Assim, caso o investidor não queira abrir conta em uma corretora fora do país e fazer remessas internacionais de valores, o investimento na indústria canábica deve ser feito via fundos de investimentos, distribuídos em algumas corretoras no Brasil. Existem diversos fundos distribuídos no país pelas mais diversas corretoras e bancos. Em média, estes fundos acumulam perdas acima de 40% nos últimos 12 meses”, disse.
Também segundo Ricardo Brasil, para investir no setor, basta procurar algum fundo que seja lastreado em derivativos da maconha, como o CBD, por exemplo. “Importante falar que a rentabilidade não tem sido boa”, pontuou.