* Artigo escrito por Eric Alves Azeredo, advogado atuante na área do Esporte e do Entretenimento, pós-graduado em Direito do Trabalho e Membro do Comitê Qualificado de Conteúdo de Empreendedorismo e Gestão do IBEF-ES.
Que o Brasil é o país do futebol é algo que escutamos sempre, desde que nascemos.
Do ponto de vista de talentos, não há dúvida alguma nessa afirmação, pois o Brasil permanece no topo do ranking de maior exportador de talentos no futebol mundial, com 1.289 jogadores brasileiros atualmente no exterior, conforme estudo publicado pelo CIES Football Observatory.
Quando se fala também de salários, o Brasil está muito à frente dos nossos vizinhos sul-americanos.
Observa-se jovens talentos internacionais e alguns já consagrados em suas carreiras esportivas, vindo jogar no Brasil em busca de melhores condições financeiras e, por conseguinte, melhores condições estruturais de trabalho.
E isso se reflete, obviamente, na competitividade esportiva: times brasileiros venceram as últimas quatro edições da Copa Libertadores da América, podendo disputar mais um título na edição de 2023, na final que será disputada no Rio de Janeiro.
Em contrapartida, porém, contrastando com tamanha pujança econômica e tantos talentos individuais, há uma estranha condição que sempre acompanha os clubes no Brasil: a dificuldade financeira e os constantes casos de crises econômicas. “Se fôssemos definir em uma palavra, ela seria ‘gestão’”.
Ainda hoje, quase que a totalidade dos clubes brasileiros tem a natureza jurídica de associações sem fins lucrativos.
Essa natureza jurídica, por si só, não significa e não é sinônimo de incompetência de seus dirigentes, no que acho válido sempre mencionar o gestor no futebol, Felipe Ximenes: “Amador não é sinônimo de incompetente, da mesma forma que ser executivo profissional não significa, necessariamente, competência”.
O que é preciso entender e o que deve ser buscado, sempre, é uma lógica de mercado, na qual a receita deve ser maior que as despesas em um clube de futebol. Simples assim.
Diante desse cenário diretivo, mercadológico, operacional e competitivo, hoje existe a figura da SAF, que pode representar a única forma de salvação para muitos clubes no Brasil, pela injeção de capital e pelos novos modelos de governança.
Deve-se pensar o clube como um todo, ter compliance, entender o mercado em que está inserida a instituição, a base de torcedores, as fontes de receita, as formas de parcelamento de dívidas, o contínuo desenvolvimento de suas estruturas, as quais levarão o clube para um possível patamar de excelência.
A profissionalização no futebol é um caminho sem volta, com seus processos internos, seus objetivos e metas bem definidos a serem cumpridos em curto, médio e longo prazo.
Transparência é sinônimo de investimento e de um requisito mínimo para que empresas se juntem e queiram associar as suas imagens, muito bem construídas, aos clubes de futebol.
A maior incerteza reside no torcedor, ativo maior de um clube de futebol, com sua visão apaixonada e de resultados imediatos. Será ele capaz de ter paciência para processos mais longos? Só o tempo dirá.