A equipe do governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), se reúne na semana que vem com representantes da concessionária Eco101, responsável pela gestão da BR-101, para ter acesso a todos os dados e números envolvendo o contrato firmado entre a empresa e o Estado.
A informação foi repassada pelo ex-senador e atual vice-governador eleito, Ricardo Ferraço (PSDB), durante participação no 10º Encontro Folha Business, realizado nesta quinta-feira (08), em Vitória.
Em julho deste ano, a Eco101 anunciou desistência da concessão. Por isso, o encontro entre a área técnica do governo e a concessionária foi apontado pelo senador como mais um passo dado em busca da solução para o impasse causado pela decisão da empresa em deixar de administrar a via.
LEIA TAMBÉM: Governo do ES estuda assumir BR-101 após desistência da Eco101
“O governador Casagrande já endereçou uma equipe técnica que está trabalhando. Assinamos, recentemente, um acordo de confidencialidade. Deveremos ter, nos próximos dias, na próxima semana, uma reunião com a concessionária. Por esse acordo, vamos ter acesso a todos os números e dados ativos, passivos, para conhecer o tamanho do nosso desafio”, disse.
O vice-governador eleito ainda ressaltou a importância da atuação do governo em busca de alternativas visando a uma solução, o mais rápido possível, para a quebra do contrato celebrado com a Eco.
LEIA TAMBÉM: 10º Folha Business: lideranças apontam boas perspectivas para o Brasil em 2023
“Se nós não participarmos da solução desse problema, vamos ter que esperar cinco, seis, sete, não sei quantos anos, para que possa haver retomada dessa que é uma obra de infraestrutura fundamental para a segurança e o conforto das pessoas, dos trabalhadores que se servem dessa rodovia”, frisou.
Exemplo do Mato Grosso
Assim como Ferraço, o governador reeleito pelo Mato Grosso, Mauro Mendes (União Brasil) também participou do 10º Encontro Folha Business. O mandatário veio trazer sua experiência em situação parecida com a que o Estado vive hoje com a Eco101.
Em dezembro do ano passado, a concessionária Rota Oeste (CRO) entrou com o pedido de devolução amigável da BR-163/MT, e uma eventual relicitação levaria, em média, de 2 a 3 anos para ser concluída e de 4 a 5 para início dos investimentos, segundo informações publicadas no site do governo de Mato Grosso.
LEIA TAMBÉM: Justiça federal no ES condena Eco 101 a pagar R$ 2 milhões de indenização por danos morais
O caminho achado pelo estado de Mauro, neste caso, foi o próprio Executivo estadual assumir a administração da via. Em setembro deste ano, o Tribunal de Contas da União (TCU) autorizou o processo.
Durante sua participação no evento promovido pela Rede Vitória com apresentação da Apex Partners, Mauro destacou os caminhos seguidos por sua gestão na solução dos problemas relacionados à concessão da BR-163/MT, em um contexto semelhante ao do Espírito Santo com a Eco101.
“Nós vivemos em Mato Grosso uma situação muito semelhante a que vocês têm aqui na BR-101. A concessão federal feita há algum tempo atrás. Por motivos que não cabem aqui adentrar, mas fato é que essa concessão colapsou, não conseguiu cumprir seu papel. Nosso caso lá, são 850 quilômetros que entram na região Sul do meu estado e vai até quase que a metade do estado”, começou explicando o governador.
Na sequência, ele continua: “Foi lá em 2013, no pacote de 2013 das concessões pelo governo federal, de 8 rodovias concedidas, sete colapsaram e só uma vingou. Então, existia, provavelmente, algo errado no modelo, ou aconteceu algo no meio desse caminho que levou a esse ponto”, contextualizou.
Mauro, então, destacou que uma das primeiras opções pensadas por seu governo passava por uma tentativa junto ao mercado. “Fato é que nós estávamos há dois, três anos, tentando via mercado, conseguir construir uma solução para esse problema. O prazo se encerrou em 2019, e não se conseguiu viabilizar via mercado. Aí, seria necessário tomar o caminho da relicitação”, lembrou.
Para o governador, no entanto, o caminho da relicitação parecia pouco atraente, tendo em vista a burocracia e a lentidão, segundo ele, envolvidas no processo.
“O problema da relicitação é a lentidão. Diante desse cenário, nós entramos. Vamos, então, fazer o investimento, e não vamos continuar ‘ad aeternum’ como concessionário, porque esse não é o papel de um governo estadual, ser concessionário de concessão federal No entanto, é papel de qualquer governo entrar estrategicamente em qualquer problema que tenha grande impacto social”, pontuou.
O que diz a ECO101 sobre a reunião com o governo do ES
A reportagem do Folha Vitória buscou contato com a Eco101 para saber mais detalhes acerca da reunião com o governo do Estado, na semana que vem. Até o fechamento desta matéria, a concessionária ainda não havia respondido. Em caso de retorno da empresa, este texto será atualizado.
Entenda o interesse do governo pela concessão
Em outubro deste ano, o governo demonstrou interesse em assumir o trecho da rodovia BR-101 no Estado, atualmente cedido em concessão para a empresa Eco101.
Em julho, em primeira mão, a coluna De Olho no Poder revelou que a concessionária estava desistindo do contrato, após formalizar o pedido junto à Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).
Uma reunião foi realizada em Brasília, no mesmo mês, entre representantes do governo estadual e da ANTT.
À época, o secretário Ricardo Pessanha, titular da Secretaria de Ciência, Tecnologia, Inovação, Educação Profissional e Desenvolvimento Econômico (Sectides), disse que a reunião foi para discutir, com a agência, a viabilidade do Estado em assumir a rodovia, a partir do que aconteceu em uma via federal em concessão no Mato Grosso.
Por lá, o governo do Mato Grosso assumiu o controle da concessão de trecho da BR-163, antes nas mãos da empresa Odebrechet Transport (OTP). O processo de devolução ao setor público foi feito porque empresa alegou que não recursos para concluir as metas de investimentos previstos no contrato.
A justificativa da Eco101 para abrir mão da concessão
Entre as justificativas alegadas para a desistência do contrato, iniciado em maio de 2013, estão a demora nas liberações de licenciamento ambiental e desapropriações de áreas, além de decisões do Tribunal de Contas da União (TCU) sobre a forma de devolução do dinheiro do pedágio para as obras ainda não executadas.
O consórcio também alega prejuízo financeiro. Em nove anos, afirma ter investido R$ 2,3 bilhões, e faturado R$ 1,7 bilhão.
A Eco101 informou também que já entregou trechos duplicados em Anchieta (2,5 km), Ibiraçu (4,5 km), João Neiva (2,7 km), Contorno de Iconha (7,8 km) e 30 km entre os municípios de Viana, Vila Velha e Guarapari.
Disse ainda que estão em andamento obras em mais 22 km da rodovia, entre as cidades de Guarapari e Anchieta, com entrega prevista para o final deste ano e que conta com cerca de R$160 milhões em investimentos.
VEJA A GALERIA DO EVENTO: