Economia

Heron do Carmo: 'Com deflação, não vejo razão para o BC elevar de novo os juros'

Ele não vê razão para uma nova alta dos juros na reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central marcada para os próximos dias 20 e 21

Foto: Agência Brasil

O economista Heron do Carmo, professor sênior da FEA/USP e um dos maiores especialistas em inflação do País, não descarta a possibilidade de uma nova deflação neste mês – que seria a terceira consecutiva, após os resultados de julho e agosto. 

Por conta disso, ele não vê razão para uma nova alta dos juros na reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central marcada para os próximos dias 20 e 21. A seguir, os principais trechos da entrevista.

Como o sr. avalia o quadro atual de preços e a deflação pelo segundo mês seguido?

De 2020 para cá, tivemos quatro choques que não foram naturais que afetaram os preços. O choque da pandemia que foi deflacionário. O segundo choque foi o da saída da pandemia, que puxou preços para cima, como o do petróleo. O terceiro choque foi a guerra da Ucrânia, que impulsionou combustíveis e alimentos. E, agora, no Brasil tivemos um choque deflacionário, com a redução de impostos sobre serviços de utilidade pública e combustíveis. O fato de a guerra da Ucrânia entrar numa certa estabilidade e o mercado de produtos agrícolas reagir com oferta maior por conta de várias safras acabou contribuindo para o arrefecimento dos alimentos.

Qual sua previsão para a inflação no ano?

Em torno de 6%. Cheguei a projetar mais de 10%. Mas, depois das medidas de corte de impostos e da mudança do comportamento do câmbio, reduzi a projeção

A deflação veio para ficar?

Há possibilidade de termos deflação em setembro, mas, depois, a meu ver, não.

A deflação registrada em agosto, a segunda consecutiva, deve frear a intenção do BC de elevar os juros?

Não vejo razão para aumentar juros. A taxa real de juros já está positiva em relação à inflação passada: é de 13,75% ao ano para uma inflação em 12 meses abaixo de 9%. O efeito de mais uma alta seria muito pequeno.

Como explicar essa dissonância entre a deflação registrada pelos índices e o fato de a população não ter dinheiro para fazer compras no supermercado?

A situação está um pouco mais confortável, mas de jeito nenhum está normalizada. Apesar da deflação, as pessoas vão continuar sentindo desconforto entre a sua renda e os preços. É preciso um tempo suficientemente mais longo para que os preços relativos voltem ao padrão anterior ao das crises.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.