*Artigo escrito por Alessandro Coutinho, pró-reitor de Pesquisa, Pós-graduação e Extensão na UVV e Líder do Comitê Qualificado de Conteúdo em Inovação e Tecnologia do IBEF-ES.
Em tempos de rápidas transformações científicas, tecnológicas e crescente demanda por inovação, surge uma figura que desafia os padrões tradicionais do mundo acadêmico: o cientista empreendedor.
Longe do estereótipo do pesquisador isolado em seu laboratório de pesquisa e pilhas de artigos científicos, este novo perfil na universidade combina o rigor da pesquisa científica com a ousadia do mundo dos negócios.
Como exemplo, o caso do Vonau Flash, medicamento desenvolvido pelo cientista Humberto Ferraz, em colaboração com a empresa Biolab, que tornou-se uma patente milionária da Universidade de São Paulo e já representou aproximadamente 90% da arrecadação em royalties da instituição.
A essência do cientista empreendedor é que ele enxerga além dos tubos de ensaio e artigos científicos, e percebe oportunidades de mercado em suas descobertas.
Mais do que isso, tem a coragem e a habilidade para transformar o conhecimento em realidade com produtos, processos ou serviços que beneficiam a sociedade e a indústria.
No entanto, essa jornada é repleta de desafios, e o primeiro deles é a própria estrutura das instituições de ensino e dos programas de pós-graduação no Brasil.
Como conciliar uma pesquisa acadêmica com a agilidade exigida pelo empreendedorismo? Como fomentar uma cultura que valorize tanto o questionamento científico quanto a inovação de mercado?
Essas são algumas perguntas que as universidades em todo o mundo estão enfrentando.
O segundo desafio é de natureza mais pessoal. O cientista empreendedor precisa balancear dois universos, por vezes, dissonantes: o da ciência, com sua precisão e método, e o dos negócios, repleto de dinamismo, riscos e volatilidade.
A solução para esses desafios está no processo de formação de cientistas empreendedores nas universidades e, para isto, é essencial:
a) Fomentar a criação de equipes multidisciplinares para o desenvolvimento de projetos de inovação e empreendedorismo com potencial de transformação em startups, oriundos de tecnologias concebidas por pós-graduandos;
b) Introduzir aos pós-graduandos aspectos relacionados à criação e gestão de startups em diversos setores econômicos;
c) Proporcionar conhecimento sobre metodologias de elaboração e apresentação de planos de negócios baseados em inovações, com o objetivo de captar recursos financeiros de fontes públicas, privadas e/ou atrair fundos de investimentos e/ou investidores anjos.
d) Facilitar o relacionamento entre instituições de pesquisa e a indústria. Isso facilita a transferência de tecnologia, permite a validação prática de descobertas e ajuda na comercialização de inovações. Programas de parceria, estágios e incubadoras são algumas das maneiras de fortalecer essa conexão.
Ainda há muito a ser feito em políticas públicas, investimentos em infraestrutura de pesquisa e uma reestruturação curricular nas universidades.
É preciso, também, mudar mentalidades, valorizar a ciência e criar um ambiente propício para que o cientista empreendedor se desenvolva e floresça.
Por fim, o cientista empreendedor representa uma nova era na ciência e nos negócios.
Se apoiado e cultivado, tem o potencial de colaborar com o posicionamento do Brasil como líder global em inovação.
E, mais do que isso, de melhorar a vida das pessoas, transformando descobertas científicas em soluções concretas para os desafios da atualidade.