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Clubes italianos estão à beira da falência: entenda a crise

O campeonato italiano, até a virada do século, era um dos mais fortes da Europa, mas os inúmeros casos de escândalos o transformaram

Após a partida, o departamento médico do Crystal Palace informou que o atleta iria precisar de 25 pontos para uma laceração na orelha. Crédito: Freepik.
Após a partida, o departamento médico do Crystal Palace informou que o atleta iria precisar de 25 pontos para uma laceração na orelha. Crédito: Freepik.

*Artigo escrito por Eric Alves Azeredo, professor, executivo, advogado, CEO da AZRD e membro do Comitê Qualificado de Conteúdo de Empreendedorismo e Gestão de 2024 do IBEF-ES.

A Itália dispõe de regras, uma espécie de fair play financeiro, que são extremamente rígidas em relação ao pagamento de dívidas. Pendências fiscais e atrasos salariais são intoleráveis no campeonato italiano, e a má gestão, nesse caso, fica evidente.

Com a intenção de evitar as falências e o desaparecimento dos clubes, em 2004, o então presidente do Comitê Olímpico Italiano (CONI), Giani Petrucci, criou a Lei Lodo Petrucci que permitia que um “clube fênix” surgisse, assumindo o lugar do clube falido. O termo se refere à ave mitológica fênix, que representa o renascer das cinzas.

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Clubes italianos em crise: a alternativa fênix

Algumas regras eram impostas pela lei Petrucci, como, por exemplo: para que um clube fênix assumisse um clube falido, esse deveria possuir “méritos esportivos”, ou seja, ter uma história construída no futebol profissional por um período de tempo significativo.

Assim, a lei reconhecia o novo clube como herdeiro de suas conquistas e seus títulos, mas o clube fênix não poderia usar as marcas comerciais (nome, escudo, logotipo) do clube falido, salvo se fosse adquirido tal direito por processos judiciais.

Com o passar do tempo, a lei Lodo Petrucci sofreu uma série de críticas, especialmente por criar “clubes fênix” presididos por empresários sem o mínimo conhecimento de como funciona uma instituição esportiva. Em 2014, a lei foi abolida, após mais de mil clubes terem ido à falência.

O campeonato italiano, até a virada do século, era, sem dúvida, um dos mais fortes da Europa, mas os inúmeros casos de escândalos transformaram a liga italiana numa espécie de série B do futebol europeu.

Escândalos no futebol italiano

Quem não se lembra do magnata Silvio Berlusconni, do Milan, grande símbolo da era do mecenato, e que por meio do clube pavimentou sua ascensão política que resultou em três mandatos como primeiro-ministro da Itália?

Em 2017, Berlusconni se afastou do clube e vendeu 99,93% das ações por 740 milhões de euros (R$ 4,4 bilhões) para um grupo de investidores chineses. Deu-se início a um desastre anunciado. O novo proprietário, o chinês Yong Long Li, declarou estado de falência, dez meses após ter comprado o clube.

Para sair dessa situação, o clube foi adquirido em 2018 pela Elliot Management Corporation, empresa americana de gerenciamento de investimentos que, em 2022, formou uma parceria com o fundo RedBird Capital Partners, no valor de 1,2 bilhão de euros (R$ 7,5 bilhões). Caso parecido aconteceu com o Parma, por muito tempo gerido e bancado pela Parmalat.

Após a saída da empresa investidora, o clube decretou falência, em 2015, por conta das dívidas acumuladas e precisou ser refundado com o nome de Parma Calcio 1913, em referência ao ano de sua fundação e na última divisão (série D) do futebol italiano, como é regra na Itália, quando um clube anuncia seu fracasso.

Atualmente, a crise ronda os clubes italianos e, dos vinte participantes da Série A, nove já faliram pelo menos uma vez, donde se conclui que de nada adianta muito recurso quando não se tem foco na gestão e na responsabilidade financeira.

Este texto expressa a opinião do autor e não traduz, necessariamente, a opinião do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Espírito Santo.