Economia

Economia portuária: navegando do Espírito Santo para o mundo

O Estado é responsável por cerca de 25% das operações com outros países, com aproximadamente 40% da economia capixaba passando pelos portos

Foto: Thiago Soares/Folha Vitória

*Artigo escrito por Pedro Henrique Mariano, MBA em Controladoria e Finanças, consultor e executivo de Controladoria, Planejamento, Finanças, Orçamento, Resultado e Processos e membro do Comitê Qualificado de Conteúdo de Economia do IBEF-ES.

O meio de transporte de mercadorias mais utilizado no mundo é o marítimo, o que revela a importância da economia portuária, sendo que mais de 80% do comércio internacional se dá por meio dos mares e oceanos. 

Os portos são fundamentais nas operações internas, de importação e exportação dos países, dada sua eficiência no transporte de grandes volumes de cargas a longas distâncias, em apoio ao escoamento de insumos, bens e produtos.

Para se criar um parâmetro a nível global, seguem exemplos de algumas das principais rotas mercantis e sua capacidade anual aproximada: 

1) Canal do Panamá, unindo as águas do Oceano Atlântico e Oceano Pacífico, com 12 mil navios; 
2) Canal de Suez, conectando o Mar Mediterrâneo e o Oceano Índico, com 15% do comércio e 20 mil navios; 
3) Estreito de Gibraltar, ligando o Mar Mediterrâneo e o Oceano Atlântico, com 80 mil embarcações; 
4) Estreito de Malaca, na Ásia entre Malásia e Singapura, com 30% do comércio e 50 mil navios; 
5) Estreito de Ormuz, no Golfo Pérsico em Dubai, movimentando 20% de todo o petróleo.

No Brasil, o modal aquaviário por mares, rios e lagos representa mais de 10% da carga transportada internamente. 

Segundo a Antaq (Agência Nacional de Transportes Aquaviários), a movimentação portuária de cargas do primeiro semestre de 2023 foi de 495 milhões de toneladas. Para o comércio exterior, todo o complexo portuário funciona como portal de entrada e saída de mercadorias.

O governo federal anunciou, em 2023, mais de R$ 10 bilhões em investimentos nos setores de portos, aeroportos e hidrovias. 

O portal de serviços e informações do Brasil ainda destaca, como investimentos no setor portuário, “a assinatura de seis contratos de adesão no valor total de R$8,2 bilhões, referentes à autorização de novas instalações nos estados do RN, PA, SP, RJ, RO e MS. 

Além de oito termos aditivos assinados com portos dos estados do MA, ES, BA, RJ e AM, com valor total de R$628,4 milhões.”

Relevância do atual cenário capixaba

O Espírito Santo é protagonista no cenário nacional, responsável por cerca de 25% das operações com outros países, com aproximadamente 40% da economia capixaba passando pelos portos. 

O Estado possui uma localização estratégica no mapa e conta com boa infraestrutura de apoio, a exemplo da integração com a malha rodoviária. Ainda, tem sua operação portuária considerada uma das mais eficientes do país.

Larissa de Aquino Fleischmann, gerente de Gente na Vports, primeira autoridade portuária privatizada do país, destaca, para o Porto de Vitória, em 2023, “recordes na movimentação de cargas, retomada do setor de óleo e gás, com novos contratos com a TechnipFMC e a atração de novos negócios, como o embarque da primeira carga de lítio verde do Brasil (Sigma Lithium).”

Tecnologia e processos não são suficientes para operar um porto de forma eficiente, tendo as pessoas um papel fundamental nesse ramo de atividade. “Mirando um crescimento sólido e sustentável, a companhia aposta na implantação de uma gestão moderna, disciplinada e inovadora, para o alcance dos resultados planejados.”

“Para manter um time engajado, entre as prioridades estão o desenvolvimento de lideranças, a construção de uma cultura forte e um ambiente de trabalho que proporcione experiência positiva ao empregado, bem como um diferencial de carreira, equilibrando performance e humanização. A meta é construir um modelo de negócio robusto, referência no país, que gere valor compartilhado para acionistas, comunidade, clientes e parceiros, e impulsione, cada vez mais, a vocação natural do Espírito Santo no setor logístico.”, reafirma Larissa.

Em 2022, de acordo com a Antaq, o Terminal de Tubarão foi o terceiro maior porto em volume de operação de cargas, com 68 milhões de toneladas. Em 2023, as principais mercadorias movimentadas são minério e pelotas de ferro, sendo o maior do mundo nessa categoria.

O complexo portuário de Aracruz opera majoritariamente em apoio ao mercado de petróleo e gás, com as atividades offshore, e ao mercado de celulose, com carga das operações da Suzano, que é líder global em produção de celulose de eucalipto. 

O município de São Mateus escoa o petróleo terrestre do norte do estado. Ainda, os portos do ES movimentam, também, carvão mineral, granéis sólidos, fertilizantes, mármore/granito e carga geral.

Desafios para o Espírito Santo assumir o protagonismo

O governo do Estado, pela Secretaria de Economia e Planejamento do ES, possui um plano de desenvolvimento de longo prazo com horizonte no ano de 2030. 

Neste documento está previsto desenvolver a infraestrutura, fator essencial para a economia portuária, realizando investimentos públicos nas principais vias de transporte, a BR 101 e a BR 262. 

Deve-se lembrar que, no Brasil, o transporte de mercadorias no modal rodoviário representa 75% do total, portanto é necessário para compor uma eficiente logística portuária.

“Atrair e apoiar investimentos privados em portos orientados ao aproveitamento de potencialidades locais que reforcem a integração e a inserção competitiva do Espírito Santo nos mercados externos”, integra a lista de propostas de investimentos do planejamento estratégico 2030.

A logística de toda a operação dos portos é complexa por si só, mas, somada à burocracia instalada para essa atividade, há um aumento no custo do transporte aquaviário. Esse fato impede que o país se torne mais competitivo, tanto pelo preço final das mercadorias quanto pelo tempo de espera para carga e descarga.

Vitória assume efetivamente o papel de capital do estado ao consolidar sua operação portuária que continua crescendo, favorável a novos negócios e atraindo investimentos para as terras espírito-santenses. 

O ES tem um povo trabalhador e competente, que está à altura dos desafios de crescimento do estado junto com a economia portuária. Ao governo, cabe apoiar e criar condições para a economia capixaba consolidar, cada vez mais, sua posição no mercado nacional e internacional.