Economia

ESG nas empresas seria uma política antiliberal?

A política ESG não prega um afastamento do lucro, mas sim uma abordagem mais consciente e sustentável para obtê-lo

Foto: Freepik

*Artigo escrito por Alice Effgen, engenheira mecânica, MBA em Gestão de Projetos e Processos e tecnóloga em Processos Gerenciais e Membro do IBEF Academy.

A adoção de uma política ESG (do inglês Environmental, social, and corporate governance) tornou-se tema relevante, sobretudo nos últimos anos, dadas as mudanças da sociedade e do mercado que anteriormente, sob influência da chamada “Doutrina Friedman”, enxergavam as empresas como instrumento essencial de maximização de lucros como sua única responsabilidade para com sócios, acionistas e empregados, não havendo que se falar em “responsabilidade social” da empresa.

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Embora seja equivocado afirmar que o pensamento do premiado Nobel de Economia é falho do ponto de vista econômico, tendo em vista todo o desenvolvimento produtivo mundial e a melhoria na qualidade de vida, desde a ascensão do capitalismo como modelo econômico vigente, é possível ao menos afirmar que o tempo mostrou a capacidade de modificação e adaptação do sistema capitalista, surgindo o chamado “Capitalismo de Stakeholders”.

“Stakeholders” podem ser caracterizados como todo e qualquer grupo que, de alguma forma, é impactado pela operação da empresa, como colaboradores, fornecedores, clientes e a comunidade à sua volta.

Logo, surge um cenário em que não apenas os acionistas são agentes relevantes, mas todos aqueles indivíduos que fazem parte do ecossistema em que a organização está inserida, diminuindo, pelo menos teoricamente, a importância do lucro e dando maior importância aos impactos sociais.

É nesse contexto que surge o questionamento: seria uma política ESG um princípio antiliberal? Evidentemente não.

É importante reconhecer que os princípios ESG não representam uma negação completa à maximização dos lucros. 

Na verdade, a integração dos critérios ESG às decisões empresariais pode, na verdade, ser um fator catalisador do aumento do lucro da empresa, à medida que fortalece as organizações a longo prazo, melhora significativamente sua reputação e aumenta a confiança de seus investidores, melhorando, dessa forma, a sua imagem diante do mercado consumidor.

Pesquisas recentes demonstram que tanto investidores, quanto consumidores, estão mais preocupados e atentos quanto às práticas sustentáveis assumidas pelas corporações. 

Ainda nesse ponto, os dados revelam, ainda, que o consumidor brasileiro é o que mais se preocupa com os aspectos ESG das empresas, enquanto três quartos dos investidores afirmam estar “mais propensos” a retirar o investimento de empresas com baixo desempenho ESG, ou que não cumprem com políticas assumidas.

Além disso, a política ESG não prega um afastamento do lucro, mas sim uma abordagem mais consciente e sustentável para obtê-lo. 

O fator ESG incentiva as empresas a adotarem práticas comerciais responsáveis, como a redução de emissões de carbono, a inclusão social, a equidade de gênero e a transparência na governança corporativa.

Dessa forma, a política ESG não pode ser entendida como uma oposição à “Doutrina Friedman”. 

Em sentido contrário, o fator ESG deve ser utilizado como um instrumento na prática empresarial que, por meio da adoção de certas medidas, é capaz de aumentar os lucros de uma organização.

A integração de critérios ESG às estratégias de negócios não apenas harmoniza abordagens, mas também abre um caminho para maiores lucros decorrentes dos atendimentos das demandas daquele que é o maior agente capaz de gerar lucros ou prejuízos à empresa: seu consumidor.