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Green Bay Packers: lições de gestão para clubes de futebol no Brasil

O Green Bay Packers pertence aos torcedores e é um exemplo de gestão que pode inspirar clubes de futebol brasileiros

Imagem gerada por IA/Freepik
Imagem gerada por IA/Freepik

*Artigo escrito por Eric Alves Azeredo, professor, executivo, advogado, CEO da AZRD e membro do Comitê Qualificado de Conteúdo de Empreendedorismo e Gestão de 2024 do IBEF-ES.

O futebol americano (football) surgiu nas universidades dos Estados Unidos em meados do século XIX, como adaptação do rugby e do futebol (soccer).

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Esporte mais popular dos americanos, é comandado pela National Football League (NFL), uma das quatro grandes ligas esportivas profissionais estadunidenses, formada por 32 times, divididos igualmente entre duas conferências: a National Football Conference (NFC) e a American Football Conference (AFC).

Os campeões das respectivas conferências disputam o Super Bowl, evento que marca o final da temporada e mobiliza diversos setores da economia norte-americana e mundial.

No ano passado, estima-se que, só nos Estados Unidos, mais de 113 milhões de pessoas assistiram à decisão e esses números justificam o alto preço cobrado pelos espaços comerciais.

Para se ter uma ideia, um filme de apenas 30 segundos, exibido durante o jogo, custa mais de US$ 5 milhões (cerca de R$ 28 milhões).

O primeiro campeão do Super Bowl foi o Green Bay Packers, time da cidade de mesmo nome, no estado de Wisconsin, e a terceira franquia mais antiga da NFL.

Clube é dos torcedores

Fundado em 1919, o Packers é o único time da liga principal que não tem fins lucrativos e que pertence à comunidade, um modelo de gestão singular, que pode servir de inspiração para os clubes de futebol no Brasil.

O clube é uma organização de propriedade de seus torcedores, ou seja, pertence a 537 mil acionistas, em sua maioria que torcem para o time, e que em 2023 registrou um lucro de mais de R$ 350 milhões.

Esse modelo de gestão diferenciado permitiu que o Green Bay Packers criasse uma profunda conexão entre o clube e a comunidade local.

A sua governança é estruturada para garantir total participação nas decisões como, por exemplo, quando se pensou em ampliar o seu estádio inaugurado em 1957.

Em 2022, foi realizada uma rodada de captação de recursos follow-on que arrecadou R$ 335 milhões. Com essa reforma o estádio teve sua capacidade ampliada de 32.500 para cerca de 81.000 torcedores.

A grande novidade verificada nos últimos anos com relação ao modelo de gestão de alguns clubes do futebol brasileiro foi a implantação das Sociedades Anônimas de Futebol (SAF’s), que permitiu que os clubes pudessem ser transformados em empresas.

Com isso, abriu espaço para a entrada de investidores permitindo que os clubes aplicassem mais recursos em infraestrutura e formação de bons elencos.

Senso de comunidade

O modelo de gestão implantado pelo Green Bay Packers é totalmente oposto, pois o senso de pertencimento e comunidade fez com que os torcedores deixassem de ser meros consumidores e passassem a ser “donos”, preservando a origem e a identidade cultural do clube.

Diante do exposto fica a pergunta: seria possível no futebol brasileiro, que sempre se caracterizou por uma relação intensa com sua torcida, se criar um modelo de gestão semelhante ao adotado pelo Green Bay Packers?

Os torcedores do Fortaleza EC certamente responderiam que sim, é possível, já que o modelo de SAF implantado pelo time cearense, semelhante ao do Green Bay Packers, tem levado a excelentes resultados técnicos e financeiros.

Poderia se pensar também em uma abordagem híbrida com as SAF’s, de modo a incorporar elementos de ambos os modelos. Ficam as opções para uma reflexão.

Este texto expressa a opinião do autor e não traduz, necessariamente, a opinião do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Espírito Santo