*Artigo escrito por Teuller Pimenta Moraes, advogado, jurídico interno da empresa Ghisolfi Logística e Transporte e membro do Comitê Especial de Tributação Empresarial do IBEF-ES e do IBEF Academy.
A figura do empreendedor, principalmente aquele de sucesso financeiro, é frequentemente mal compreendida. Muitas vezes, ele é rotulado como ganancioso ou insensível; é visto como alguém que busca apenas o lucro em detrimento de qualquer valor social ou humano.
Este estereótipo é especialmente forte no Brasil, onde, historicamente, há uma tendência cultural de associar o sucesso financeiro com práticas imorais ou injustas.
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Visão errada do empreendedor
Uma das principais razões para essa visão errada do empreendedor, especialmente do rico, é a falta de compreensão da complexidade e dos desafios que envolvem o empreendedorismo.
Os empreendedores enfrentam enormes riscos financeiros, apostando frequentemente seus próprios recursos e, muitas vezes, endividando-se para iniciar seus negócios.
O caminho até o sucesso raramente é linear e, para muitos, inclui uma série de fracassos, sacrifícios pessoais e profissionais.
A trajetória de Silvio Santos
Silvio Santos, conhecido como um dos maiores comunicadores do Brasil e fundador do Grupo Silvio Santos, enfrentou fracassos antes de alcançar o sucesso.
No início de sua carreira, trabalhou como camelô nas ruas do Rio de Janeiro, vendendo produtos diversos para sustentar sua família.
Embora tenha começado com pequenos sucessos como locutor de rádio e depois como apresentador de TV, suas tentativas de diversificação empresarial, como no setor bancário (Banco PanAmericano), enfrentaram grandes problemas. O escândalo de fraude bancária em 2010 quase levou sua carreira ao fim.
Empreender no Brasil envolve enfrentar um ambiente regulatório extremamente burocrático e complexo, o que exige resiliência e dedicação.
Novos negócios
De acordo com o SEBRAE, cerca de 30% dos novos negócios fecham nos primeiros dois anos de atividade.
No entanto, esses desafios geralmente não são levados em consideração quando as pessoas enxergam o empreendedor de sucesso, focando apenas nos resultados aparentes: a riqueza acumulada.
A partir disso, vigora o famoso “jeitinho brasileiro” – entendido como aquela tendência de encontrar soluções informais ou contornar regras – que está profundamente enraizado na cultura nacional.
Embora possa ser visto como uma forma de adaptação, ele também reflete uma percepção de que o sucesso só é possível se as regras forem contornadas.
Corrupção e visão negativa sobre empreendedor
O Brasil é, de fato, marcado por constantes escândalos de corrupção, tanto no setor público quanto no privado. Exemplo notório de casos de corrupção envolvendo grandes empresas e figuras políticas, como os escândalos da Lava Jato, alimentam a visão de que a riqueza é frequentemente adquirida por meios ilegítimos.
Nesse cenário, a maneira como a mídia aborda o tema contribui para a percepção equivocada sobre o empreendedor.
Casos de corrupção ou práticas empresariais antiéticas recebem grande destaque, e os escândalos corporativos muitas vezes são atribuídos a uma “ganância natural” do empreendedor.
Isso gera uma generalização injusta, levando à crença de que todo empreendedor é um explorador ou alguém que age de maneira predatória para enriquecer.
No entanto, essa visão ignora o fato de que os empreendedores, sobretudo os de sucesso, frequentemente são grandes geradores de emprego e inovação.
Pequenas e médias empresas são as principais responsáveis pela criação de novos postos de trabalho e, muitas vezes, trazem soluções inovadoras para problemas sociais e econômicos.
A importância do empreendedor para o crescimento econômico é inegável. O empreendedorismo não só impulsiona a inovação, como também contribui para o crescimento do país, por meio de novos negócios, geração de receita e movimentação econômica.
Empreendedores bem-sucedidos pagam impostos, ajudam a desenvolver suas comunidades e geram oportunidades para milhares de pessoas.
Pequenos empreendedores
Segundo dados do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), as micro e pequenas empresas (MPEs) são responsáveis por cerca de 30% do PIB do Brasil.
Em termos de emprego, as MPEs têm um papel primordial na economia. Elas são responsáveis por 54% dos empregos formais no país e por 44% da massa salarial.
A figura do empreendedor rico ainda é vista com desconfiança, talvez pelo medo e pela insegurança que o sucesso dos outros pode despertar. Em uma sociedade em que a pobreza é palpável, o sucesso financeiro acaba sendo frequentemente associado a privilégios injustos.
Embora possa ser verdade que o sistema econômico atual beneficie desigualmente alguns, não se pode generalizar todos os empreendedores como símbolos desse desequilíbrio.
É essencial uma visão mais equilibrada do empreendedor! Ele deve ser visto não apenas como alguém que busca o justo lucro, mas também como um agente de mudança e desenvolvimento social e econômico.
É necessário que a sociedade reconheça as dificuldades e os desafios enfrentados no caminho para o sucesso, valorizando não só o resultado final, mas todo o esforço e sacrifício envolvido.
A visão negativa do empreendedor pode, muitas vezes, esconder uma verdade mais profunda: o reflexo de uma sociedade invejosa.
A crítica ao empreendedor pode ser feita, mas com base na compreensão de seu papel, desafios e complexidade, ao invés de estereótipos superficiais.
Este texto expressa a opinião do autor e não traduz, necessariamente, a opinião do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Espírito Santo.