*Artigo escrito por Juliana Frasson, especialista em Logística & Supply Chain e Gestão Empresarial, membro do CQC de Empreendedorismo e Gestão do IBEF-ES; e Roberta Valiatti Ferreira, advogada de Direito Empresarial, Governança, Gestão de Riscos e Compliance, e membro do CQC de GRC do IBEF-ES.
No fim dos anos 90, fruto da logística integrada e da preocupação com um melhor atendimento das necessidades do consumidor (Fleury, 2002), passou a prevalecer a visão da cadeia de suprimentos complexa, que interligava logística empresarial, cadeia de fornecedores, bem como a de clientes.
Dessa forma, o processo de gerenciamento da cadeia passou a ser identificado como um conceito, o de Supply Chain Management (SCM).
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Suprimentos: empresas buscam compras estratégicas
Segundo o Blog NaGarage, em 2023, 67% das empresas que responderam a um questionário global pretendiam focar na economia de custos em compras estratégicas.
De acordo com a ILOS (Instituto de Logística e Supply Chain), o valor dos insumos adquiridos anualmente pelas empresas representa mais de 40% da receita, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos.
Ainda de acordo com o mesmo instituto, estima-se que o departamento de Compras seja responsável pela aquisição de 89% dos volumes adquiridos pelas empresas.
Os números acima indicados demonstram a importância de uma gestão eficaz dentro da cadeia de suprimentos, que visará, dentre outros aspectos, a redução de custos em diferentes setores, como estocagem, entregas e distribuição.
Sistema operacional
A utilização de um sistema operacional robusto também ajudará na produção de dados que poderão salientar a eficácia ou não dos processos constituídos. “Savings” (economias feitas em negociações) costumam ser considerados um bom sinal de que o setor está plenamente operacional.
Contudo, existe uma diferença sólida entre preço e custo que precisa ser ponderada todas as vezes que os resultados destas negociações forem computados.
Outro fator igualmente preponderante para designar o sucesso da operação de um setor de suprimentos estratégico é o seu alinhamento às melhores práticas de “compliance”.
Medidas contra fraudes e desvios
Ainda que uma empresa não tenha condições de estabelecer um completo programa de “compliance”, é preciso adotar medidas de combate a desvios e fraudes, inclusive aquelas originadas dentro do seu time.
De acordo com a Pesquisa Global sobre Fraudes e Crimes Econômicos 2022 da PwC, 57% das fraudes sofridas por empresas envolvem agentes internos, o que demonstra o quão importante é cuidar da conformidade especialmente “dentro de casa”.
Outro grande exemplo da relevância do assunto foi a Operação Lava Jato, que descortinou a forma como contratos com fornecedores eram utilizados para ganhos ilícitos de agentes internos e externos.
Mesmo em organizações muito menores, porém, há riscos relacionados a corrupção e suborno, conflitos de interesses e fraudes dos mais variados tipos.
Entre elas, destacamos fraudes no pagamento ou na entrega, que podem ser total ou parcialmente desviados; fraudes na qualificação do produto ou do fornecedor; além da criação de demanda fictícia, visando favorecer determinado agente externo em associação a um agente interno.
Criação de um código de conduta
O combate a tais práticas pode ser feito através da adoção de algumas medidas básicas, a começar pela criação de um código de conduta e uma política de compras; medidas de controle interno, como as alçadas de decisão e o acompanhamento dos KPI,s; “due diligence” dos fornecedores, visando conhecê-los melhor; além de treinamentos, que podem incluir os próprios fornecedores.
Deve-se, ainda, estar atento à condição pessoal de cada colaborador, pois situações como graves crises financeiras na família podem ser elementos de pressão que o levem ao cometimento da fraude.
Assim, o peso da cadeia de suprimentos no processo produtivo demonstra o quão importante é a adoção de medidas que garantam a conformidade dessas atividades não apenas à legislação, mas aos próprios valores, processos e normas internas da empresa e, sobretudo à sua estratégia.
Além de garantir o melhor resultado financeiro direto da atividade empresarial, evitará perdas indiretas, como os danos à sua reputação.
Este texto expressa a opinião das autoras e não traduz, necessariamente, a opinião do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Espírito Santo.