*Artigo escrito por Pedro Henrique Correa, MBA em Controladoria e Finanças, consultor e executivo de Controladoria, Planejamento, Finanças, Orçamento, Resultado e Processos e Membro do Comitê Qualificado de Conteúdo de Economia do IBEF-ES.
Com o desejo de desenvolver máquinas com capacidade humana de pensar e agir, desde o início do século XX existem estudos e investimentos em tecnologias que resultaram no que conhecemos como inteligência artificial.
O objetivo almejado com a inteligência artificial é que um robô possa criar respostas e soluções para tarefas e desafios humanos de forma autônoma, incluindo aprendizado a cada tentativa, para melhorar nosso modo de viver.
Temos, então, diversas áreas da sociedade e economia que já se beneficiam diretamente de soluções baseadas em inteligência artificial e podem intensificar ainda mais as aplicações.
Por exemplo, tem-se na área da saúde a análise de dados e imagens para diagnósticos e tratamentos; na educação, modelos de aprendizagem com personalização de conteúdo; na segurança, se utiliza do monitoramento de atividades suspeitas, no mundo físico e digital; no ramo do varejo, o estudo comportamental e a customização de experiência dos clientes; nas finanças, as análises de risco, fraude e modelos preditivos de mercado; para a logística, o controle e otimização de tráfego e veículos autônomos; e no direito automação de atividades legais, regulatórias e gestão de contratos.
Como consequência, o mercado de trabalho passa por mudanças nas quais a aplicação de inteligências artificiais tem representado um salto de produtividade e apoio às atividades econômicas.
A expectativa é que o ser humano tenha a oportunidade de otimizar seu potencial intelectual e criativo uma vez que seja possível dedicar cada vez mais tempo e energia em tarefas menos operacionais e mais estratégicas.
Oportunidade: transformar preocupação em preparação
Profissões com tarefas padronizadas, repetitivas e bem definidas devem sofrer maior impacto na oferta de vagas de emprego da forma como estamos habituados, porém, a robotização também está criando novas oportunidades, principalmente em áreas como engenharia e programação para sistemas automatizados.
Temos, então, uma chave já conhecida atualmente para absorver os impactos de toda a transformação tecnológica: qualificação e adaptação.
Bigtechs estão à frente das tecnologias baseadas em inteligência artificial, sendo a onda mais recente de atenção voltada para o chatGPT, quando a OpenAI anunciou uma versão ainda mais poderosa da ferramenta: o GPT-4.
Se trata de uma inteligência artificial generativa, na estrutura de chatbot e responsiva à linguagem natural, com a capacidade de criar novas informações a partir de conjuntos de dados pré-existentes.
Além de apresentado com grande potencial revolucionário, o chatGPT também já gera controvérsias e discussões sobre a coleta não autorizada de dados e criação de mecanismos que filtrem o uso mal intencionado da ferramenta.
Porém, a Microsoft investiu mais de 1 bilhão de reais na OpenAI e deve integrar a inteligência com suas soluções atuais, como o Microsoft 365 Copilot que é sua ferramenta de apoio a tarefas diárias nas empresas.
A gigante Google, por sua vez, oferece diversos produtos e serviços de inteligência artificial. Como destaque das soluções empresariais está o Contact Center AI, em que é possível criar agentes virtuais para atendimento e assistência a usuários/clientes, com capacidade de identificar o motivo e o sentimento de uma chamada através de linguagem natural.
Nesse mesmo fluxo, a Meta, de Mark Zuckerberg, tem direcionado seu foco para o desenvolvimento de inteligências artificiais.
Além de a empresa não obter retorno compatível com os investimentos anteriores no metaverso, o seu ambiente de realidade virtual, essa mudança de rumo visa acompanhar as tendências do mercado.
Christopher Pissarides, economista vencedor do Prêmio Nobel e professor da London School of Economics especializado no impacto da automação no emprego, minimiza as preocupações sobre demissões em massa ocasionadas pelos rápidos avanços na tecnologia através da capacidade de adaptação às ferramentas baseadas em inteligência artificial.
“Elas podem tirar muitas coisas chatas que fazemos no trabalho… e deixar apenas as coisas interessantes para os seres humanos”, disse Pissarides durante conferência em Glasgow se referindo às ferramentas de inteligência artificial.
Temos a possibilidade de caminhar para um cenário em que “poderíamos adotar uma semana de quatro dias facilmente”.
Pesquisa conduzida pela PwC busca medir o impacto de crescimento do Produto Interno Bruto, graças à aplicação da Inteligência Artificial, das regiões ao redor do mundo em uma projeção até o ano de 2030.
O resultado indica que países em desenvolvimento terão um crescimento menos acelerado, enquanto deve consolidar os EUA e a China como os líderes de incremento do PIB.
Segundo pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV), com apoio da gestora de previdência do Banco do Brasil, estima-se que em 2040 o número de pessoas de 60 anos ou mais no Brasil será de 57 milhões de pessoas.
Em complemento, estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em 2040, aponta que teremos 57% da força de trabalho constituída por profissionais acima de 45 anos.
Essa mudança do mercado se apresenta como um desafio extra de adaptação às novas tecnologias tanto por parte das empresas, quanto dos profissionais.
No aspecto da qualificação, a análise do professor Pissarides, nomeada “Futuro do trabalho e do bem-estar”, aborda aspectos de habilidades e resiliência requeridos por parte dos trabalhadores:
“À medida que os requisitos de habilidades mudam, os trabalhadores são obrigados a aprender habilidades novas e de nível superior.”
Pesquisa desenvolvida pela Google For Startups, que analisa os impactos e o futuro da tecnologia no Brasil, mapeou 702 empresas que trabalham com inteligência artificial.
As empresas entrevistadas entendem que, além do desafio da qualificação dos profissionais, a fuga de capital humano prejudica o crescimento do Brasil frente ao mercado de trabalho global, com ofertas de remuneração em dólar que geram desafios para a retenção de talentos.
As projeções de lançamento de novas ferramentas e soluções serão mais intensas do que nunca na história e serão encontradas barreiras para absorção das tecnologias em tempo hábil como resposta.
Porém, a mentalidade de se adaptar a novos meios de produção e mercado de trabalho, principalmente colocando em perspectiva as transformações e os saltos tecnológicos da humanidade desde o século XIX a partir da Revolução Industrial, já é discutida em larga escala e não deveria nos assustar como episódio inédito.
Análise: oportunidade ou ameaça
Avaliando possíveis impactos negativos na sociedade e na economia, usualmente nos deparamos com argumentos para temer ou frear a evolução da tecnologia.
Porém, não encarar de frente a realidade aonde há avanços exponenciais na humanidade e precisamos lidar com tais mudanças é o mesmo que remar contra a maré da tendência global.
Entre os principais riscos referentes às inteligências artificiais tem-se:
1) grandes poderes em decisões que podem ocorrer sem supervisão humana (poder com autonomia);
2) indivíduos e/ou grandes corporações podem se utilizar dessa ferramenta em benefício próprio (centralização do poder).
No entanto, vale lembrar que a tecnologia em si não é boa ou ruim, sendo que um fator determinante é o modo como ela é utilizada.
A alternativa é monitorar e medir constantemente os impactos, sejam eles negativos ou positivos, tanto em aspectos da produtividade e eficiência, como, também, em questões morais e éticas.
Deve-se direcionar energia na direção do diálogo com as novas tecnologias e identificação em quê e como o mercado de trabalho pode se adaptar e beneficiar do uso de ferramentas baseadas em inteligência artificial, principalmente em busca de aumentar a capacidade produtiva e criar novos horizontes para o desenvolvimento sustentável da economia com o apoio tecnológico.
Como reflexão, dado o histórico da humanidade e suas motivações, é razoável considerar que um grande risco em relação ao desenvolvimento de inteligência artificial não está nas máquinas de fato, mas sim no ser humano, sua relação com o poder e nas consequências decisórias resultantes do acesso a essas ferramentas.