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*Artigo escrito por Márcio Portugal Borba Onêda, especialista em Direito Empresarial, membro e diretor de Eventos do Programa Estruturado Ibef Academy.
Historicamente, o investimento na bolsa de valores e em ativos financeiros teve pouca penetração no Brasil. Isso é explicado pelo longo histórico de juros altos no país, as altas taxas de inflação e a baixa qualidade da educação oferecida. Logo, um número pequeno de pessoas investia em bolsa. Até por isso, era conhecido como “coisa de rico”.
Com o advento da tecnologia, das redes sociais e, também, por conta dos grandes incentivos monetários – juros baixos – concedidos por governos mundo afora durante a pandemia do covid, um grande número de pessoas começou a migrar para a bolsa, pois, acreditavam ser o caminho natural para buscar melhores rendimentos.
Tanto é verdade, que a bolsa de valores alcançou um número recorde de “CPFs ativos”, saindo de um patamar de 500 mil e ultrapassando a marca dos 5 milhões de investidores e isso em pouco mais de dois anos, segundo dados da própria B3 . Um fenômeno.
Contudo, a falta de conhecimento técnico e de estratégia desses novos investidores em renda variável logo tornou-se um problema.
O cenário de juros baixos, que para muitos iria durar uma eternidade, passou e os governos se viram obrigados a aumentar os juros para conter o aumento da inflação galopante. Pronto: crise à vista! Teremos recessão ou não?
Esses temores logo geraram um efeito perverso na bolsa, forçando a queda da cotação de muitos ativos que, surpreendentemente, haviam se valorizado demais durante os dois anos da pandemia.
Nesse turbilhão de emoções, muitos dos investidores desavisados começaram a voltar para o porto seguro da renda fixa, de olho nos altos retornos, já que a Selic ultrapassou a casa dos 13% a.a..
Mas, esse movimento deixou milhares de investidores desgostosos com a bolsa, já que, ao vender seus ativos desvalorizados, viram o valor do seu patrimônio cair drasticamente e alguns tiveram enormes prejuízos.
E nem vamos falar daquelas pessoas que migraram para a renda variável acreditando em promessas mirabolantes – e falsas, claro – de ganhos garantidos de mais de 10% a.m..
Por outro lado, percebemos que o movimento de tentar educar melhor financeiramente a população, para que pudessem investir em ativos de melhor qualidade veio para ficar, muito por conta das redes sociais e, também, em razão dos inúmeros influenciadores, que democratizaram o acesso a esse tipo de informação.
E, por mais que tenhamos muito conteúdo de baixa qualidade circulando na rede, agora é possível que informação de qualidade seja recebida por um enorme número de pessoas e sem custo algum.
Dessa forma, por mais que muitos investidores tenham migrado para a bolsa de valores no momento de euforia e depois tenham retornado para a segurança da renda fixa, acredito que o movimento de investimento em ativos financeiros de renda variável – principalmente aqueles disponibilizados na bolsa de valores – veio para ficar, mas talvez com um número menor de pessoas realmente ativas daqui para frente.
Por fim, a lição que o investidor deve tirar dessa história toda é que não adianta querer investir na Bolsa sem uma orientação adequada, uma boa estratégia definida e que decisões de investimento ou desinvestimento não podem ser tomadas no momento de desespero do mercado. Na Bolsa, paciência é uma virtude.