O presidente do Grupo Tristão, Jônice Tristão, foi homenageado pelo Espírito Santo em Ação, no último dia 07, com a medalha Americo Buaiz. O objetivo da honraria é reconhecer a contribuição de personalidades para o desenvolvimento do Espírito Santo.
Tristão é presidente do conselho das empresas Tristão, conglomerado que atua principalmente nas áreas de comercialização, armazenagem, industrialização e exportação de café, com sede em Vitória, escritórios em diversas cidades brasileiras e no exterior.
Ele tornou-se um dos maiores empresários brasileiros do café, atividade iniciada por seu pai, José Ribeiro Tristão, em 1935, e mantida pela família, até os dias atuais, que, 75 anos depois, está na quarta geração empresarial.
Em 1960, ele fundou a Tristão Companhia de Comércio Exterior e a Triscafé de armazéns gerais, iniciando as exportações de café do grupo, e, em 1971, a Realcafé Solúvel do Brasil S/A e o Café Cafuso, empresas, hoje, comandadas por seu filho, Sérgio Tristão, tendo ao seu lado sua irmã Patrícia.
Já em 1978, foi fundada a Tristão UK, em Londres e em 1981, a Tristão Trading, em Nova York, ambas hoje, comandadas pelo seu filho Ricardo Tristão, ficando Ronaldo Tristão responsável pela área financeira e de investimentos.
Durante a solenidade de entrega da honraria, Tristão contou sua história e homenageou o empreendedor visionário que dá nome à medalha, Americo Buaiz.
Veja na íntegra o discurso feito por Jônice Tristão:
“É uma dupla honra receber a medalha Americo Buaiz, não só pelo homem que ele foi, mas pelas afinidades e grande amizade que tivemos.
Tentarei retratar um pouco do nosso excelente convívio, desde 1953, quando ele já formatava os sindicatos que deram vida à Federação do Comércio do ES. Quatro anos mais tarde ele fundaria também a Federação das Indústrias do ES.
Naquela época eu assumira as compras das nossas empresas e meu pai me levou para conhecer os atacadistas, na antiga Rua do Comércio. Um deles era o Sr. Alexandre Buaiz, com quem comprávamos pregos, sacolas etc. O Sr. Buaiz, por sua vez, apresentou‐nos a Americo.
Aos 23 anos, eu era fisicamente bem menor que ele. Nunca me esqueço de seu olhar, que parecia dizer ‘em que esse garoto vai dar?’ Vejam a foto no telão, tirada anos depois que parece retratara mesma situação.
Em 1960 vim para Vitória, quando iniciamos a exportação de café. Nosso contato tornou‐se mais assíduo, e em 64 estreitamos os laços, quando nos tornamos vizinhos no Barro Vermelho. Em minha quadra de tênis, o esporte nos aproximou pois além de formar um ótimo grupo de amigos, nossas famílias se integraram.
Eu e ele fomos auto‐didatas, mas seu estilo era peculiar e muito eficiente, refletindo sua personalidade, seja ao empunhar a raquet e na elegância dos movimentos, seja no pragmatismo de correr pouco e matar os pontos na rede.
Repetia assim o que gostava de fazer em sua vida profissional: muitos gols. E ele era craque!
Eu e Américo tivemos vários aspectos em comum, em nossas vidas. Entre estes aspectos, destaco os nossos pais. Seu pai, Alexandre, que foi mascate e fez crescer as raízes da família com muito trabalho e talento, e meu pai, José, comerciante do interior que através do escambo do café por mercadorias, também deu sólido início à árvore familiar da Tristão. Alexandre e José tinham experiência de vida e instintos espetaculares e sua sabedoria nos foi fundamental.
Vejam também que ambos os Grupos, Tristão e Buaiz, chegaram bem à terceira geração da família, com mais de sete décadas de existência, fato raro na atualidade. Fomos competidores, nos cafés Cafuso e Número Um, mas também fomos sócios na Urbe junto com Wilmar Barroso e meu tio Geraldo Siqueira, na aquisição de áreas da Enseada do Suá.
Por tudo isso, além da honra, esta medalha me traz a emoção de ter mais próximo o saudoso amigo Américo Buaiz.
A descrição da medalha Américo Buaiz indica que fui merecedor de recebê‐la, por conta da minha contribuição ao desenvolvimento do Estado do Espírito Santo.
Muito me orgulha este merecimento, e posso afirmar que, para obtê‐lo, foram fundamentais as duas grandes paixões da minha vida: o Café e minha bela amada Ilza. A paixão pelo café originou todos os meus empreendimentos e minha paixão por Ilza originou nossa sólida família, que também adotou o mundo do café. Meus três filhos, Ronaldo, Sérgio e Ricardo, são homens do café, e minha caçula Patrícia, marketeira do café.
Para o café voltei todo o meu foco, trabalho e entusiasmo. Desde o início, ainda em Afonso Cláudio, apaixonei‐me mais pelo negócio do café que pelo comércio nas lojas. Ao iniciar as exportações de café, em 1960, minha paixão cresceu, e foi além, com a criação, em 1971, da Realcafé, indústria de café que também originou o Café Cafuso.
Com a Realcafé, surgiu a necessidade de expandir‐se a produção de café Conilon, e isto motivou uma verdadeira saga, que contribuiu positivamente para a vida econômica do estado. A audácia de lançar aos produtores o lema: ‘Plante, que a Tristão garante’, transformou as 100 mil sacas de produção da época em cerca de 10 milhões hoje, 44 anos depois.
Todos os nossos outros empreendimentos foram sub‐produtos do café, inclusive a Pousada Pedra Azul, um projeto idealista que visou, há 30 anos, o desenvolvimento do turismo de montanha no nosso estado. Pedra Azul hoje é uma referência nacional.
Também há 30 anos, criei a Fundação Jônice Tristão, hoje dirigida por Cacau Monjardim, cujo propósito é estimular a cultura e a educação na comunidade capixaba. Falando em educação, registro meus parabéns aos homenageados Marcos Magalhães, por seu excepcional trabalho no Instituto Co‐Responsabilidade na Educação; e Andreia Manhães, pelos 4 anos de excelente desempenho de sua escola. Quem sabe poderíamos trabalhar juntos em algum projeto?
Finalizo reafirmando que o café é o grande homenageado desta noite, por sua contribuição aos nossos negócios, e principalmente ao Espírito Santo e ao Brasil. Quanto a detalhes da minha história, já foram narrados algumas vezes, inclusive recentemente no ‘Contando Histórias’ da Findes e nas comemorações de 80 anos da Tristão, agora em 2015, todos acessíveis na internet”.
Visionário
O empresário Americo Buaiz faleceu em 1999. Responsável pela construção de indústrias no Espírito Santo, Buaiz abriu caminho para a transição do modelo agrícola para o padrão industrial no Estado. Americo Buaiz formou os primeiros sindicatos que deram vida à Fecomércio-ES e fundou a Findes, da qual foi presidente por 10 anos, entre 1958 e 1968, e também criou a Amcham-ES, entre outras instituições. O empresário foi diretor do Sesc, do Senac, do Sesi e do Senai e integrou a CNI e o Conselho Rodoviário do Espírito Santo. É considerado uma das figuras exponenciais da história recente do Espírito Santo. Dessa forma, ao instituir a Medalha Américo Buaiz, o Espírito Santo em Ação reconhece e valoriza a importância de todos os empreendedores capixabas.
Criação da Medalha
Uma das mais conceituadas artistas plásticas capixabas, Ana Paula Castro, criou e confeccionou a Medalha Americo Buaiz. Além da imagem do empresário, a peça traz a gravura de alguns ícones do Espírito Santo: a Baía de Vitória, a Terceira Ponte, o Convento da Penha e a bandeira do Estado.