Economia

Leilão do 5G começa nesta quinta. Entenda o que é e as mudanças que podem vir com a nova conexão

Das 15 empresas, cinco já prestam serviços no Brasil; Expectativa é disponibilizar cobertura 5G em todas as capitais até julho de 2022

Foto: Divulgação

A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) começa a analisar às 10h desta quinta-feira (4) a documentação das 15 empresas interessadas no Leilão do 5G. Das empresas que enviaram propostas, cinco já são prestadores do serviço de telefonia no país. Devido ao número de participantes, a previsão é de que a análise por parte da Anatel se estenda até sexta-feira (5).

A licitação é orçada em R$ 49,7 bilhões, dos quais R$ 10,6 bilhões são referentes ao direito de explorar o serviço comercialmente. O governo federal estima R$ 169 bilhões em investimentos totais nos próximos 20 anos.

O leilão prevê que parte do valor seja revertido para a ampliação da infraestrutura de telecomunicações no Brasil. As empresas vencedoras do processo terão de atender as áreas sem o serviço ou com pouco atendimento em todas as localidades com mais de 600 habitantes e com tecnologia 4G ou superior.

Prazo de implantação

Segundo o Ministério das Comunicações, todas as capitais brasileiras devem ter cobertura de 5G até julho de 2022. O novo sistema vai proporcionar uma conexão de internet móvel até 100 vezes mais rápida e mais econômica. De acordo com a Anatel, estão previstos “compromissos de atendimento já com tecnologia 5G” para os municípios com população superior a 30 mil pessoas.

A previsão é que 60% desses municípios estejam atendidos até dezembro de 2027, meta que sobe para 90% até dezembro de 2028 e 100% até dezembro de 2029. Também está prevista a construção da Rede Privativa de Comunicação da Administração Pública Federal, medida considerada estratégica para a segurança nacional.

As operadoras que arrematarem capacidade na faixa de 3,5 GHz, a chamada faixa de ouro do 5G, também serão responsáveis pela migração da TV aberta via satélite (parabólica), que atualmente ocupa a mesma frequência. Pelo edital, as famílias que fazem parte do Cadastro Único (CadÚnico) do governo federal terão direito à troca gratuita do equipamento de TV parabólica por outro que não será afetado com interferências no sinal.

Para ter acesso à rede 5G, os consumidores precisarão comprar celulares compatíveis com a nova rede. Atualmente, os lançamentos no Brasil das grandes marcas de smartphones já disponibilizam a tecnologia 5G.

Veja quem participa do leilão desta quinta-feira para explorar a rede 5G no Brasil:

– Algar Telecom S.A.
– Brasil Digital Telecomunicaçoes Ltda
– Brisanet Serviços de Telecomunicações S.A
– Claro S.A
– Cloud2u Industria e Comercio de Equipamentos Eletrônicos Ltda
– Consórcio 5G Sul
– Fly Link Ltda
– Mega Net Provedor de Internet e Comércio de Informática Ltda
– Neko Serviços de Comunicações Entretenimento e Educação Ltda
– NK 108 Empreendimentos e Participações S.A
– Sercomtel Telecomunicações S.A.
– Telefônica Brasil S.A
– TIM S.A.
– VDF Tecnologia da Informação Ltda
– Winity II Telecom Ltda

O que é a conexão 5G?

Segundo o professor livre-docente do departamento de engenharia de sistemas eletrônicos da Poli-USP e membro do Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos (IEEE), Marcelo Zuffo, novas gerações de telefonia móvel surgem a cada dez anos, aproximadamente — e toda vez que isso ocorre, a expectativa é sempre que haja melhorias de desempenho nas funcionalidades de voz e vídeo dos smartphones. Desta vez, no entanto, é diferente. O 5G deve trazer uma grande novidade, que é a possibilidade de conectar todas as coisas.

“Trata-se de uma revolução tecnológica que recebeu o nome de Internet das Coisas, ou Internet of Things. Um exemplo muito claro que temos disso atualmente é o relógio inteligente da Apple”, afirma o professor.

“Mas, com o 5G em uso, pequenos dispositivos vão ser instalados em tudo quanto é tipo de coisa: botões, bengalas, coleiras de pets. Desta forma, seria possível rastrear um idoso que se perdeu na rua, por exemplo”, completa.

Outra grande diferença entre as conexões 5G e 4G é a rapidez: a nova tecnologia deve ser algo em torno de dez a 100 vezes mais rápida do que a geração de internet móvel em uso atualmente.

A mudança, claro, trará uma onda de investimentos na infraestrutura de comunicação do Brasil — e, consequentemente, também uma série de oportunidades nos setores de serviços, como aplicativos, transporte e agropecuária.

De acordo com o CEO da Deep Center, empresa de gestão da informação, Gabriel Camargo, a conexão 5G promete entregar, de início, de 10 a 20 Gbps de velocidade em uma latência de apenas 1 milissegundo. Na prática, a conexão se daria em tempo real.

“Além disso, o 5G pode facilmente manter 1 milhão de pessoas conectadas por quilômetro quadrado, algo que é impensável atualmente, visto que temos problemas sérios de infraestrurura e comunicações no país. Todos já estiveram em áreas de sombra ou de alta densidade, como estádios, devem ter passado por problemas de conexão em razão de sobrecarga”, diz.

Com tantas melhorias de desempenho e avanços tecnológicos, os especialistas garantem que o 5G certamente será mais caro, mas para o alívio dos brasileiros, a tecnologia não será uma imposição. Todos poderão continuar usando seus celulares e dispositivos antigos sem nenhum problema. Segundo Zuffo, as novas gerações de internet móvel sempre “conversam” com as anteriores, que no caso são as conexões 3G, 4G e até mesmo 2G.

Desafios para a implementação do 5G no Brasil

Uma pesquisa da empresa de tecnologia de teste Viavi Solutions divulgada em junho deste ano aponta que, atualmente, os três países com mais cidades onde a conexão 5G está disponível são China (376), Estados Unidos (284) e Filipinas (95). No Brasil, por sua vez, ainda há uma série de barreiras a serem superadas para que a tecnologia seja devidamente implementada, sendo a primeira delas a infraestrutura.

De acordo com Camargo, a porta de entrada para as empresas, que consta no edital do leilão de quinta-feira, é a utilização de uma faixa de frequência já bastante desenvolvida no Brasil, a 3,5Gh — mas, como a frequência é mais alta do que as amplamente utilizadas, o sinal tem menos cobertura e alcance. Portanto, serão necessários investimentos com antenas e equipamento para aumentar e amplificar o alcance do sinal. Este deve ser o principal investimento das empresas de telecomunicações que trabalharão com 5G.

“A faixa de frequência a ser utilizada pelo 5G é utilizada atualmente pelas antenas parabólicas que levam TV aberta para 30% da população brasileira. Dos 72 milhões de domicílios, 21,5 milhões usam parabólica no país. Então, ainda há muitos testes e investimentos a serem feitos pela frente”, afirma.

Fonte: R7