Economia

Mesmo com grandes investimentos, falta de planejamento causa prejuízos no setor de logística do Espírito Santo

“Precisamos buscar uma forma de baratear o custo porque o Brasil e o mundo está nos cobrando isso”, afirma o presidente da Findes, Marcos Guerra

Investimentos tem sido feitos para ampliação e modernização da planta industrial Foto: TV Vitória

A última reportagem da Série “Logística é a Solução”, exibida nesta sexta-feira (30), no programa ES no AR da TV Vitória/Record, mostra o que tem sido feito para o Estado obter eficiência no setor e atrair novos investimentos.

Foram quase três anos de trabalho. Com a construção do terceiro concentrador na Unidade de Germano, em Minas Gerais; da quarta usina de pelotização, em Ubú, no Espírito Santo; e do terceiro mineroduto, com 400 quilômetros de extensão, a Samarco aumentou em 37% a sua capacidade de produção. Um salto de 22, 5 milhões de toneladas para 30,5 milhões de toneladas de pelotas de minério por ano. A capacidade de transporte de minério das minas até a usina é de 44 milhões de toneladas por ano. “Para transportar as 44 milhões de toneladas ao ano via caminhão, que é outro modal logístico, a gente precisaria de dois milhões e 200 mil viagens de caminhão com cada um transportando 20 toneladas. É inviável ambientalmente”, afirma o gerente de produção da Samarco, Álvaro Pereira. 

Do início da operação em Minas Gerais até o final do processo, que é o carregamento dos navios, a Samarco investiu R$ 6,4 bilhões na ampliação e modernização da planta industrial. Esse foi o maior investimento privado no Brasil nos últimos dois anos. Tudo isso para garantir a competitividade do minério que de Ubú é exportado para mais de 20 países em quatro continentes. 

Se, por um lado, as empresas alcançam ganhos de eficiência e redução de custos; por outro, têm suas conquistas parcialmente anuladas por perdas causadas por fatores externos. Muito já se falou sobre a falta de infraestrutura, mas, para a maioria dos empresários, a burocracia e a falta de planejamento causam mais prejuízos que estradas ruins. “O Brasil tem um modelo muito forte que é o da centralização, tanto da arrecadação, quanto da decisão. O Espírito Santo tem toda vocação para ser uma solução para as nossas demandas, mas também uma solução para boa parte do país. Ficamos em dependência de uma democracia muito travada. Uma hora por falta de planejamento, outra hora por falta de projeto. Em alguns momentos por falta de licenciamento”, destaca o presidente do Movimento Empresarial ES em Ação, Luiz Wagner Chieppe. 

Exemplos dessa falta de planejamento não faltam. O presidente do Sindicato dos Transportadores de Cargas, Liemar Pretti, reclama da falta de planejamento na esfera federal. Como exemplo, ele cita a chamada lei do motorista, que instituiu, entre outras regras, a obrigação de parar a cada quatro horas de trabalho. Para o empresário, a lei obriga a pausa, mas não cria as condições para que os motoristas possam repousar em segurança. O artigo que obrigava a construção de paradas nas estradas foi retirado pela Presidência da República. “Para nós cumprimos a lei, temos necessidades hoje de pontos de paradas. Quando sancionou a lei, a presidente retirou a obrigatoriedade das empresas que ganharam a licitação da construção dos pontos de paradas, que ficou para não sei quem fazer. Hoje nós temos problemas porque temos que cumprir horários que são oito horas, com fracionamento de quatro em quatro horas e o motorista precisa parar para descansar”, disse. 

O presidente do Terminal de Vila Velha, Cléber Lucas, salienta a necessidade de segurança jurídica para a realização de investimentos de longo prazo. “A tarefa do governo e das autoridades seguradoras, se bem definido o marco regulatório, o nível de investimento público direto cai e aumenta substancialmente o nível de investimento privado”, explica. 

Investimentos que dependem do Governo Federal são, na opinião de muitos empresários, o “calcanhar de Aquiles” da economia capixaba. “Não existe outra solução porque o porto e o aeroporto estão na mão do Governo Federal. Agora eu li no jornal que eles vão retomar as obras do aeroporto em junho, mas não disseram de que ano, não sei se vou viver para ver isso”, afirma o presidente do Sindiex, Severiano Imperial. 

Para tentar suprir as lacunas deixadas pela falta de planejamento, as Federações das Indústrias dos quatro estados da região Sudeste apostam na integração. Recentemente, elas uniram forças para lançar um projeto de diagnóstico das demandas e gargalos logísticos da região. “Esse projeto visa dar mais competitividade no transporte dos produtos produzidos nessa região e na região central. O país é muito forte na exportação de commodities, sejam minerais ou agrícolas, e nós precisamos realmente buscar uma forma de baratear esse custo porque o Brasil e o mundo estão nos cobrando isso”, disse o presidente da Findes, Marcos Guerra.