O perigo dos fundos imobiliários em 2020
Por que conhecemos e investimos tão pouco na Ásia, apesar dela representar 60% da população global? Como a Índia, país pequeno em comparação com o Brasil e com população pobre consegue estar entre os líderes globais de tecnologia?
Rafael Ottaiano, capixaba, fundador da Positiv Network e alumni do Global Competitiveness Leadership Program (Georgetown University), recentemente fez uma visita às maiores empresas e cidades indianas para entender como os 1,3 bilhão de indianos se organizam para produzir tanto — e conseguem se colocar na vanguarda da inovação mundial — em uma sociedade que a primeira vista nos parece tão caótica. Entenda mais a seguir.
No último Novembro, Ottaiano visitou a Índia com o grupo chamado Legado para Juventude Brasileira (capitaneado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso), que todo ano faz uma viagem de negócios para um país diferente para conhecer cultura, sociedade, ambiente de negócios e política local.
No destino do último ano, Ottaiano notou que a Índia é um turbilhão de 1,3 bi de pessoas, que falam, apesar das 2 línguas oficiais (inglês e hindi), outros 23 idiomas/dialetos e se organizam em quase uma dezena de religiões. Um caldeirão cultural.
A maioria das pessoas são hindus (~80%) e muçulmanos (~15%), sendo que os primeiros sào a maioria à frente governo. Para Rafael, isso promove um leque de valores diferentes do encontrado no Brasil, de maioria Cristã. No hinduísmo, eles estão mais ligados à espiritualidade e vários deuses.
Aos poucos, a sociedade indiana tenta eliminar o sistema de castas – uma espécie de divisão social baseada no nascimento – em que cada classe fica determinada a uma função (“comerciante, guerreiro, clérigo”). Essa tradição que durou 5000 anos foi encerrada há apenas 70 anos. Ottaiano aponta que nos negócio essa divisão não tem mais tanta relevância, apesar de ainda ainda ser presente em situações esdrúxulas (para nós brasileiros) como anúncios de casamento nos jornais.
No ambiente de negócios indiano, Rafael destaca dois principais fatores: a grandeza dos grupos empresariais e a ultra competitividade da mão de obra.
Sobre os trabalhadores, Ottaiano aponta que “quando um empresário demite no Brasil, pode ser demorado encontrar alguém para preencher a vaga. Na Índia, isso não acontece: sempre há uma fila de pessoas para entrar no trabalho. Afinal, a população da Índia é 6 vezes maior que a brasileira e ainda é jovem”. Isso gera uma competitividade enorme e leva o indiano médio a ser muito direcionado pelo dinheiro. “São 1,3 bi de pessoas disputando o mesmo espaço.”
O grande problema é que a relação de trabalho ainda é precária comparado ao Brasil: “visitei algumas indústrias no interior e a segurança e estrutura são muito precárias. Pessoas trabalhando sem equipamento de segurança, ou sequer roupas adequadas”.
Apesar de todos os desafios, a Índia vem mantendo um crescimento econômico acima de 6% ao ano com consistência. Para Ottaiano, um grande impulsionador disso é o sentimento de grandeza compartilhado entre empresas, governo e sociedade indiana. Empresários querem ver a economia indiana dobrar de tamanho em pouco tempo e levam isso no seu dia a dia.
Enquanto desenvolve tecnologia de ponta e grandes grupos empresariais com presença mundial, a Índia ainda enfrenta desafios básicos como água, esgoto e higiene e tenta deixar para trás seu legado de castas e divisão social. Sem dúvidas um país em desenvolvimento mas com mão de obra farta e ambiente de negócios cada vez mais desenvolvido, seguindo o caminho de privatizações, tende a ser um destino para empreendedores e investidores ficarem atentos.
A Índia tem desenvolvido nos últimos anos um capitalismo agressivo e competitivo. Empresários criaram até o próprio “Vale do Silício” onde se concentra o desenvolvimento tecnológico, na cidade de Bangalore. Desta e outras regiões surgiram os megagrupos empresariais, que muitas vezes podem ser maiores que o Brasil em termos de clientes.
O grupo de telefonia Jio, da Reliance Industries, por exemplo, que seria análogo à Vivo ou Claro no Brasil, possui cerca de 350 milhões de clientes na Índia, o que representa 100 milhões de pessoas a mais que a totalidade da população brasileira.
O maior conglomerado, o Tata Group, emprega 700 mil pessoas distribuídas em linhas de negócios como automóveis, mineração, tecnologia e até alimentício. Entre 2017 e 2018, o Grupo Tata teve uma receita de 110 bilhões de dólares.
O Grupo Infosys, localizado em Bangalore, construiu um campus de aproximadamente 360.000 m2 (35 campos de futebol), onde se mistura produção de tecnologia e locais de teabalho e vivência para os funcionários. Isso proporciona infraestrutura de qualidade que substitui a precariedade dos centros urbanos. Isso porque na Índia, apesar do forte desenvolvimento tecnológico, ainda enfrenta-se problemas básicos em saúde, habitação e saneamento.
Rafael Ottaiano nos contou sobre o comparativo brasileiro das cidades indianas. Nova Delhi é a sede do governo, como Brasília; Mumbai é uma cidade urbanizada semelhante a São Paulo; e Bangalore (foto) equivale ao Vale do Sílicio concentrando tecnologia.
Crescimento assimétrico define muito bem a Índia. Apesar do forte desenvolvimento da indústria e do setor de tecnologia, os governos locais indianos ainda não tem muito a fazer quanto a saneamento, higiene e infraestrutura.
Crescimento econômico (2019): 6.1% India / 0.9% Brasil
PIB (2018): US$2,7 tri Índia / US$1,8 tri Brasil
População: 1,3 bilhão IÍndia / 209 milhões Brasil
IDH: 130º Índia / 79º Brasil
Liberdade econômica (Heritage): 129º Índia / 150º Brasil
Faturamento do maior grupo privado: US$110bi (Tata) Índia / US$ 42bi (Itaú) Brasil
As informações/opiniões aqui escritas são de cunho pessoal e não necessariamente refletem os posicionamentos do Folha Vitória