Luís Cordeiro, de engraxate a gestor de um investimento de R$ 600 mi
Por Ricardo Frizera | A negociação de BDRs (Brazilian Depositary Receipts), recibos de ações estrangeiras negociadas na bolsa brasileira, a B3, foi liberada a partir de ontem (22) para todos os investidores brasileiros. Antes, a compra e venda estava restrita apenas a investidores qualificados, com mais de 1 milhão de reais aplicados. Agora, pequenos investidores podem adquirir recibos de ações americanas como Facebook, Apple e Google — e, em um futuro breve, ETFs (fundos de índice) e títulos de dívida emitidos no exterior. A seguir, explicamos porque essa mudança de regra representa uma das maiores revoluções na história do nosso mercado financeiro.
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De forma geral, percebemos que o mercado e os investidores receberam de forma muito positiva a mudança de regras que permite que qualquer investidor compre BDRs. Em um momento de ‘financial deepening’, aprofundamento do conhecimento da sociedade brasileira em finanças e bolsa de valores, em que investidores saem do “arroz com feijão” da poupança e CDB e buscam formas diversificadas de investir seus recursos, a mudança é importante.
Especialmente neste momento de juros baixos estruturais (a Selic está em 2% ao ano, menor nível da história), os brasileiros estão buscando cada vez mais ativos de risco, como ações, para valorização de patrimônio no longo prazo. Vide a relevante alta de investidores entrando na bolsa esse ano — já são mais de 2 milhões de brasileiros.
Nesse contexto, a liberação de BDRs é um golaço para a cultura de investimentos do Brasil, já que qualquer pessoa pode se tornar sócio de empresas de alto crescimento nos Estados Unidos como Google, Amazon e Apple, e algumas das companhias mais sólidas do mundo como Coca-Cola, Visa e Johnson&Johnson.
Vale notar também que os investidores que compram BDRs estão expostos à variação das ações e à variação do dólar neste papel. Logo, a investidor pode perder com a desvalorização da ação e do dólar — ou ganhar com os dois, como foi agora na crise do coronavírus.
DIVERSIFICAÇÃO E DESCORRELAÇÃO
Em nossa visão, a liberação de operações com BDRs por qualquer brasileiro proporciona uma forma barata e acessível de descorrelacionar seu portfólio de ações. A descorrelação é a evolução da diversificação.
Sempre bom lembrar que antes de buscar ‘bons ativos/boas ações’’, o investidor deve buscar a compor seu portfólio descorrelacionado em diferentes classes de ativos. Isso significa que devemos buscar investimentos que tem variações opostas quase sempre. Isso proporciona um menor risco para a sua carteira.
Isso se deve ao fato que ações americanas têm fatores de risco diferente das ações brasileiras. Ao diversificar sua carteira de ações comprando empresas brasileiras de diferentes setores, o investidor segue correndo o “risco Brasil”, isto é, o risco político, o risco econômico e o risco fiscal brasileiro.
Ou seja, depende do Brasil crescer nos próximos anos, dos nossos políticos costurarem bons acordos e dos governantes estarem dispostos a reduzir o nível da dívida pública (cá entre nós, já faz mais de uma década que não vemos isso por aqui)
Contudo, ao comprar recibos de ações americanas, o investidor expõe seus investimentos ao dólar e a fatores de crescimento dos EUA. É uma forma de não colocar todos os “ovos na mesma cesta”.
DIVIDENDOS
O investidor também pode se expor a empresas que pagam dividendos no exterior. É o caso por exemplo da gigante de telecomunicação americana AT&T, que paga cerca de 7,5% de dividendo anual. O dividendo sofre um imposto retido na fonte do governo americano na ordem de 30% e mais uma taxa de cerca de 3% para ser recebido direto na sua conta no Brasil.
Alguns investidores tem reclamado dessa taxa nos BDRs, no entanto cabe lembrar que essa taxa se aproxima muito do investidor que faria uma operação de transferência internacional de recursos via SWIFT – dado que ele iria pagar, além do IOF, o SPREAD para transformar dólar em real (fora o tempo e a trabalheira).
ETFs
A BlackRock recentemente também anunciou que irá liberar ETFs – fundos passivos de índices, que acompanham um determinado referencial (benchmark) no mercado – americanos na bolsa brasileira até o primeiro trimestre de 2021.
Isso permitirá ao investidor mais uma camada de diversificação, conseguindo exposição a dezenas ou centenas de ativos no exterior comprando uma única ação, divididas normalmente por ‘eixo temático’: empresas sustentáveis, empresas pagadoras de dividendos, empresas de tecnologia, shoppings americanos, escritórios comerciais ou apartamentos em Manhattan e São Francisco e assim por diante.
AVANÇO…
Por isso, consideramos que a flexibilização das BDRs são um avanço extremamente relevante para o mercado de capitais brasileiro. Com essas medidas, investidor no exterior se tornou imensamente mais fácil — dolarizar o patrimônio agora é possível com alguns segundos. Consideramos que as BDRs são excelentes opções para investidores pessoas físicas diversificarem o patrimônio sem necessidade de abrir conta no exterior.
…MAS ATENÇÃO!
Por último, alertamos aos investidores com relação à empresas e corretoras que prometem abrir conta no exterior com facilidade e investir seu dinheiro no exterior a partir de uma TED. Recordamos que NÃO É POSSÍVEL FAZER REMESSAS INTERNACIONAIS VIA TED. O instrumento utilizado é o SWIFT, e ele é mais burocrático do que a TED. Se você manda uma TED para ‘investir no exterior’, em nome de terceiros, tome muito cuidado. Seu dinheiro pode estar indo para o lugar errado.
Não serão negociadas ações apenas dos EUA, apesar de o país concentrar 555 dos mais de 600 empresas com BDRs listados na B3. Países europeus e asiáticos também possuem BDRs na B3, como Reino Unido (22 BDRs), China (21 BDRs), Japão (9 BDRs), Holanda (7 BDRs) e Alemanha, Austrália, Coréia, Índia, Suíça (4 BDRs cada). A lista completa você encontra no site da B3.
As BDRs mais negociadas na B3 até setembro foram Apple (AAPL34), com 6,7% do volume; Amazon (AMZO34), com 6,4% do volume; e Mercado Libre (MELI34), com 5,2% do volume total de BDRs. As 10 ações mais negociadas correspondem a 43,2% do volume total de BDRs negociadas, o que evidencia a baixíssima liquidez da maioria dos papéis.
“A decisão que torna os BDRs mais acessíveis é uma forma de levar o mercado de capitais brasileiro para um patamar acima. Isso porque traz maior facilidade e aumenta as opções para os investidores brasileiros. Agora, todos poderão acessar os maiores mercados do mundo e usufruir de seus benefícios, ajudando a reter liquidez e recursos no mercado doméstico”, avalia Douglas Pezzin, no Blog da Apex Partners.
O volume financeiro dos BDRs (BDRX) saltou 64,7% nesta quinta-feira (22) com a estreia dos pequenosn investidores na negociação de BDRs. Os negócios somaram R$ 120 milhões ante a média de R$ 73 milhões diários até anteontem (21).
Segundo levantamento da EasyInvest, 59% das empresas com maior representatividade no mercado de BDRs tiveram desempenho acima do mercado, levando em consideração indicadores financeiros.
As informações/opiniões aqui escritas são de cunho pessoal e não necessariamente refletem os posicionamentos do Folha Vitória