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O sistema de saúde moderno se organizou em dois modelos ao redor do mundo: um cuja visão é o tratamento de doenças e outro que propõe um atendimento integral, com foco no acompanhamento e prevenção.
“No último século, fizemos uma adaptação do modelo remediativo no Brasil. Isso mudou com a constituição de 1988, que universalizou a saúde e abriu portas para uma atenção integral à saúde– mesmo que ela ainda não seja democratizada”, diz Alexandre Ruschi, capixaba e ex-presidente da Central Nacional Unimed.
Hoje, Ruschi é uma voz ativa na defesa da atenção integral na saúde pública e privada. No Espírito Santo, ele ajudou a construir um dos maiores programas de atenção à saúde primária no Brasil– e contou à coluna um pouco de sua visão sobre o assunto.
A atenção à saúde se divide em três instâncias: a terciária, que trata doenças e lesões mais graves; a secundária, que exige a atenção de um especialista como oftalmologista ou dermatologista; e a primária, focada na prevenção e acompanhamento durante toda a vida do paciente.
Como resultado de estudos e visitas de campo internacionais, Alexandre Ruschi– capixaba que está entre os principais nomes na gestão de saúde do Brasil e preside a Federação Unimed no Espírito Santo– concluiu que o melhor modelo é o integral.
Esse modelo, que une a atenção primária, secundária e terciária, consegue antecipar e prevenir acometimentos mais graves e é o vigente em países europeus como a Inglaterra, onde os médicos de família têm forte presença no sistema de saúde.
Mas essa não é uma realidade do Brasil, lamenta Ruschi. “No último século, investimos muito na atenção terciária e pouco na primária. Um desequilíbrio que sinaliza uma cópia do sistema de saúde americano”, afirma.
“Com a Constituição de 1988, começamos a desenvolver estratégias para atendimento primário, mas ainda existe uma grande deficiência de médicos de família e a atenção primária ainda não é democrática”, contou Ruschi à coluna.
O movimento por reverter esse vácuo no sistema de saúde brasileiro teve apoio de Ruschi no Espírito Santo. Em 2008, ele iniciou um movimento para buscar alternativas para o modelo de atenção à saúde no Espírito Santo e participou de debates sobre o tema com a academia, governo e empresas de saúde.
“Vivíamos um cenário de desarranjo e resultados desanimadores no sistema de saúde. Por isso, viajamos para conhecer modelos de atenção à saúde em todo o mundo desenvolvido e a convicção de que se consolidou no atendimento integral à saúde, como foco na prevenção e acompanhamento contínuo”, explica.
Um dos principais exemplos internacionais que ele cita, nesse sentido, é o de Valência, na Espanha, que ele foi conhecer de perto. “Todo o sistema de saúde [em Valência] é privatizado e acessível para a população. O governo contrata os serviços e controla os indicadores e a qualidade dos serviços. Os sistemas de saúde são integrados e permitem maior atenção para o atendimento primário”, conta.
Em 2011, essa transição idealizada por Ruschi foi posta em prática. A Unimed Vitória, junto a outras operadoras de planos de saúde no Brasil, começaram a desenvolver produtos de atenção primária. Como resultado desses esforços, a Unimed Vitória calcula ter alcançado 50 mil beneficiários em programas de atenção primária.
“Esse tipo de usuário tem um médico de referência, que sempre pode contar. Na Unimed Vitória, alcançamos um dos resultados mais expressivos no Brasil nesse sentido, mas ainda é muito pouco. Estimo que o sistema de saúde suplementar tenha menos de 1 milhão de beneficiários em atenção primária em todo o país, em um universo de 47 milhões de beneficiários”, afirma.
Para o presidente da Federação Unimed Espírito Santo, a transformação da saúde brasileira, com ampliação da atenção integral, passa por uma aproximação sinérgica entre o setor público e privado. “Nos países referência que visitamos, a saúde privada e pública são parceiras: o governo conta com hospitais privados para prestar serviços e fiscaliza a atuação. Apesar da expressiva participação privada no SUS, não há sinergia entre as duas partes e, como resultado, pouca atenção à saúde primária, integral e preventiva”, argumentou Ruschi.
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