Startup investida pelo Fundo Soberano amplia atuação na América Latina e quer faturar R$ 4 milhões no próximo ano
A conclusão do processo de privatização da Codesa, empresa que administra o Porto de Vitória, coloca em perspectiva uma série de investimentos de modernização, que somarão R$ 800 milhões ao longo do período de concessão de 35 anos.
Um dos primeiros investimentos, que deve ser concluído em um prazo de até 24 meses – segundo o contrato de concessão firmado entre o Governo e a gestora – é a reforma dos Armazéns do Cais do Porto, que se encontram abandonados há décadas e com problemas na estrutura da edificação.
Entendemos que essa área deve se tornar um polo turístico, gastronômico e cultural, para apoiar na revitalização do Centro da cidade e atrair capital e fluxo de pessoas para Vitória, como fizeram Buenos Aires com o Puerto Madero e Porto Alegre com o Cais Embarcadero. Entenda.
PORTO DE VITÓRIA: PRIVATIZAÇÃO E POTENCIAL TURÍSTICO INEXPLORADO
Sem dúvidas, os aportes voltados à expansão da movimentação de cargas e ganho de eficiência no Porto de Vitória (CODESA) — recentemente privatizado e vendido para a gestora paulista Quadra Capital — são fundamentais.
Entretanto, entendemos que a empresa gestora não pode perder de vista o potencial turístico e cultural de determinadas áreas do Porto de Vitória, que tem capacidade de movimentar o PIB local e reviver o turismo na capital.
Aqui nos referimos, em especial, aos abandonados Armazéns 4 e 5 do Cais Comercial, que ficam à beira da Avenida Princesa Isabel, no Centro de Vitória, um dos pontos mais movimentados do estado do Espírito Santo.
Em 2017, a (ainda estatal) Codesa tentou dar uma destinação cultural aos Armazéns 4 e 5, mas o projeto não foi para a frente. No passado, o Armazém 5 já funcionou como espaço cultural, mas caiu no abandono da gestão pública.
PUERTO MADERO (BUENOS AIRES) E CAIS EMBARCADERO (PORTO ALEGRE): CASOS DE SUCESSO REPLICÁVEIS
A exploração turística de zonas portuárias tem cases de sucesso ao redor do Brasil e do mundo, como no caso da Estação Docas, em Belém; e do mais recente Cais Embarcadero, em Porto Alegre, foi inspirado no Puerto Madero, em Buenos Aires.
Vale notar que esses galpões não podem ser demolidos, como se pretendia anteriormente, uma vez que estão em processo de tombamento histórico.
Um ponto em comum entre esses locais: atraem centenas de milhares de turistas todos os anos e movimentam milhões de reais para as economias locais.
A iniciativa da autoridade portuária seria complementar aos projetos da Prefeitura de Vitória de revitalização do Centro Histórico da Cidade. Questionado se poderíamos ali fazer um “Puerto Madero capixaba”, o prefeito da capital, Lorenzo Pazolini, disse que “podemos fazer ainda melhor”.
A própria Prefeitura, aliás, já manifestou interesse no último ano em assumir a gestão dos galpões — como fez com sucesso com os quiosques da Curva da Jurema, por exemplo.
Os galpões dos Armazéns 4 e 5 do Porto de Vitória foram erguidos durante o boom do café no Espírito Santo, mas desde que o café passou a ser transportado em contêineres, o espaço ficou inutilizado.
O consórcio privado que agora administra a Codesa, terá liberdade para fazer o uso do espaço da forma que preferir. A Prefeitura de Vitória já manifestou interesse em transformar o local em polo gastronômico, mas ainda não apresentou um projeto para a área.
A transformação de áreas portuárias em polos turísticos coleciona casos de sucesso ao redor do Brasil e do Mundo.
O Puerto Madero, em Buenos Aires, foi construído no começo do século XX e originalmente estava constituído por quatro grandes docas e mais de uma dúzia de armazéns de vários andares, com espaço suficiente para depositar as mercadorias movimentadas através do porto.
Após muitos anos abandonado foi reformado e convertido num moderno e elegante bairro, que ostenta o metro quadrado imobiliário mais caro de toda a América Latina. A partir de 1989 começa a reestruturação do porto com a construção de novos edifícios, uma faculdade, e um importante número de restaurantes.
O processo de revitalização de Puerto Madero transformou galpões e celeiros em residências e lojas. Silos de cereais hoje são ocupados por hotéis de luxo, movimentando milhões de dólares na beira da Zona Portuária Argentina.
O Porto de Hamburgo, na Alemanha- décimo quinto maior porto do mundo e porta de saída e entrada da Europa- é outro caso de região portuária que se tornou turística.
Caso similar também é o projeto do Porto Maravilha, no Rio de Janeiro — que talvez ainda não tenha vingado, mais pelo momento político e econômico do estado vizinho do que efetivamente pela viabilidade do projeto.
Após a privatização, o Porto de Vitória tem o potencial não apenas de se tornar uma referência em gestão e eficiência operacional de movimentação logística.
Sua forte vocação turística conversa com o potencial da cidade, voltada para o mar, em meio a um momento adequado, de revitalização do Centro Histórico da capital, com o Saldanha da Gama renovado e reformas na Rua Sete e no Mercado da Capixaba.
Ou seja, os Armazéns de Vitória são o ‘Porto Maravilha’ que tem tudo pra dar certo. Uma rodada de diálogo entre a CODESA, a Prefeitura e empresas do mercado imobiliário cairia bem para transformar essa ideia em realidade.
*Procuramos o novo Presidente do Porto de Vitória, o sr. Ilson Hule, por meio de sua assessoria de imprensa, para comentar a matéria. Não conseguimos contato.
As informações/opiniões aqui escritas são de cunho pessoal e não necessariamente refletem os posicionamentos do Folha Vitória