Café conilon valoriza 143% em um ano e saca já ultrapassa R$ 1800
Se internamente a economia brasileira já se vê acossada por fatores internos, que geram instabilidades sobretudo pela ameaça de uma ambiência sob a dominância fiscal, externamente não se vislumbra um cenário de “céu de brigadeiro”. Tudo indica que mundo estará sujeito, em grande medida, à dominância do embate de forças geopolíticas e geoeconômicas entre ocidente, leia-se Estados Unidos, e oriente, pela China. Mas, quais são as expectativas do impacto disso para a economia capixaba?
Orlando Caliman | Num olhar sob a perspectiva da economia capixaba para este ano o que podemos vislumbrar é que do lado interno o imbróglio fiscal, com consequente desaceleração nas atividades econômicas em geral, poderá frear o ímpeto do crescimento do que denominamos de PIB cíclico – sobretudo comércio e serviços.
Se forem confirmadas as expectativas de um crescimento no entorno de 2% em nível nacional, o PIB cíclico capixaba não deverá se comportar longe desse patamar. Como já pontuei em artigo recente nesse mesmo espaço, em 2022, por exemplo, o PIB cíclico capixaba cresceu cerca de 2,6%, percentual bem próximo dos 2,9% do PIB nacional; contrapondo-se a uma queda do PIB total capixaba de 1,7%.
O que praticamente sempre tem feito a diferença no desempenho da economia capixaba foi o peso da sua abertura externa. Basta vermos que em 2024 o valor do comércio exterior, somando-se exportações e importações, chegou a aproximadamente 25 bilhões de dólares, ou seja, em torno de 150 bilhões de reais ao câmbio atual. Para um PIB projetado de 203 bilhões isso equivale a 73%.
O que quero dizer com isso é que temos que olhar mais para o que poderá acontecer lá fora do que internamente ao país. E nesse caso, as atenções deverão estar centradas nos nossos principais parceiros comerciais externos. Do lado das exportações, os Estados Unidos, em 2024, foram receptores de 28% do total, ante apenas 4,2% por parte da China. Já nas importações, a China foi responsável por 34%, enquanto os Estados Unidos 14%.
Esses dois países praticamente se igualaram em termos de valor do fluxo comercial com o Espírito Santo. Cerca de 5,1 bilhões dos EUA e 5,2 bilhões da China. O primeiro nos favoreceu com um saldo comercial de praticamente 1 bilhão de dólares, enquanto a China um déficit de 4,3 bilhões. Os EUA compraram 63% das nossas exportações de aço, 78% de rochas, 51% de celulose, 88% de outras ligas de aço e apenas 7% de café, apenas citando os mais importantes.
O minério de ferro sob a forma de aglomerado já não teve mais a China como maior mercado para o produto capixaba em 2024: 2% do total apenas. Curiosamente o Egito despontou em 2024 como maior importador, com 18% do total, seguindo-se EUA (13%) e Argentina (12%). No caso da celulose, a China foi responsável por apenas 15%.
Dada a importância das exportações para a economia estadual, os Estados Unidos tornam-se assim o principal mercado a receber a atenção do Espírito Santo. Portanto, para a economia capixaba, entre Trump com as suas distopias, e Xi Jinping com sua aparente tranquilidade, é com Trump que teremos que ficar mais atentos aos seus movimentos.
*Orlando Caliman é economista, ex-secretário de Estado do Espírito Santo e diretor econômico da Futura Inteligência
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