Economia

Empresas investem em qualificação profissional e na diversidade do quadro de funcionários

Um dos setores mais impactados pela falta de mão de obra qualificada é o industrial

Gustavo Fernando

Redação Folha Vitória
Foto: Divulgação

Por causa da pandemia do novo coronavírus e após um período de redução na atividade de diversos setores da cadeia produtiva, provocada por uma crise econômica, milhões de brasileiros ainda buscam uma oportunidade no mercado de trabalho. Apesar do alto índice de desemprego que atinge o país, empresas tem encontrado dificuldade na hora de contratar porque falta mão de obra qualificada.

Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua Mensal, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o desemprego no Brasil chegou a taxa recorde de  14,6% no terceiro trimestre de 2020, atingindo 14,1 milhões de pessoas. É a maior taxa já registrada na série histórica da pesquisa, iniciada em 2012. 

No mesmo período, a taxa de desocupação no Espírito Santo atingiu 13,9%, e afetou 286 mil pessoas, alta de 3,3 pontos percentuais em relação ao mesmo trimestre de 2019, e de 1,6 pontos percentuais em relação ao 2º trimestre de 2020. 

Foto: Divulgação/IBGE

Se por um lado tem tanta gente desempregada, não há como negar a falta de mão de obra especializada. Diante deste cenário, como se diferenciar em um mercado de trabalho cada vez mais competitivo? Segundo especialistas, o principal caminho é a qualificação profissional. Apesar do desemprego, vagas não estão sendo preenchidas. Por conta disso, empresas não tem conseguido completar o quadro de funcionários e como consequência estão perdendo em competitividade. A falta de qualificação também diminui consideravelmente o tempo do trabalhador no mesmo emprego. 

A IMPORTÂNCIA DA QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL

Um dos setores mais impactados pela falta de mão de obra qualificada é o industrial. Em um país com milhões de desempregados, metade das fábricas revelam dificuldades para encontrar mão de obra qualificada. Os dados integram um estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI). 

Em 2015, uma pesquisa realizada pelo Fórum Econômico Mundial colocou o Brasil em 78º lugar na qualificação de mão de obra dentre os 124 países pesquisados e em 15º da América Latina. Isto ressalta a importância de investimento em qualificação da mão de obra.

Nesse contexto, muitas empresas têm buscado na capacitação profissional um caminho para fortalecer suas qualidades produtivas e, assim, conseguirem se destacar dentro do seu setor de atuação. Um dos exemplos de quem adota essa estratégia é a Suzano, líder mundial na fabricação de celulose de eucalipto e uma das maiores fabricantes de papéis da América Latina.

A empresa, que está construindo uma nova fábrica de papel em Cachoeiro de Itapemirim, no Sul do Espírito Santo, buscou na região a mão de obra necessária e soube perceber a necessidade de investir na qualificação destes trabalhadores. Para o preenchimento de parte das vagas, selecionou 47 pessoas e firmou uma parceria com o Senai do município. Segundo a Suzano, mais de 300 pessoas atuam na construção da fábrica. Outras 214 pessoas vão trabalhar no local após o início das operações.

“A fábrica de Cachoeiro de Itapemirim gera uma expectativa muito grande no grupo Suzano e no mercado brasileiro. Sabemos da responsabilidade que temos diante de um mercado tão competitivo, estamos construindo um time forte e gentil, e temos a certeza de que com muita segurança, disciplina e engajamento entregaremos um produto inovador, e com alto padrão de qualidade", relata Vander Henrique da Silva Rios, Gerente Industrial da Suzano em Cachoeiro de Itapemirim.  

Um dos funcionários que passou pelo processo de capacitação foi Fagner Fassarella. Ele revela que após ser selecionado para vaga, passou por treinamentos teóricos e práticos.

DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL 

Com milhões de jovens matriculados, o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) é o principal responsável pela formação técnica e profissional de jovens e trabalhadores brasileiros para vários setores da indústria.

A coordenadora pedagógica do Senai, na unidade de Cachoeiro do Itapemirim, Tânia Mara de Oliveira Barros, ressalta a importância de empresas como a Suzano perceberem a necessidade do desenvolvimento profissional de seus colaboradores.

"Para a capacitação dos selecionados pela empresa, até nossos instrutores tiveram que fazer uma imersão na fábrica já existente na Bahia, uma vez que nem o Senai tinha expertise na conversão de papel, foco da Suzano. Após isso, os 47 selecionados foram treinados pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial em vários cursos, mesmo durante o período de pandemia. O que percebemos nesse processo foi o interesse da empresa na capacitação dos funcionários e a possibilidade de desdobramentos futuros para outros profissionais", revela Tânia. 

Segundo a coordenadora pedagógica do Senai, o que normalmente se vê no mercado é a procura por profissionais já prontos, muitas vezes qualificados a partir de cursos da instituição. "Nesse caso, a empresa veio com a ideia de preparar o funcionário para a sua real necessidade. Pensou, desde o inicio, no desenvolvimento profissional dessas pessoas. Buscou mão de obra na região, como as qualificar e deu um novo sentido profissional para eles".

"O Senai tem se preparado para atender até as demandas mais específicas da indústria", afirma a coordenadora pedagógica . Conheça esse trabalho:

Qualificação Profissional

Foto: Divulgação/Senai

Segundo Lara Sathler,  diretora executiva da Associação Brasileira de Recursos Humanos do Espírito Santo (ABRH-ES), durante um processo seletivo, a qualificação e o conhecimento do profissional são fundamentais para o empregador.

"O profissional se qualifica quando busca cursos preparatórios, graduações e cursos livres. Através dessa aprendizagem, tem acesso a uma visão teórica, mas também ao conhecimento prático. Ele também deve acompanhar as tendências do mercado e se preparar para os desafios da profissão e para os que deve encontrar dentro da empresa", ressalta Lara. 

Foto: Divulgação/Governo do ES
                                Secretário de Estado de Desenvolvimento, Marcos Kneip Navarro

GRANDES OPORTUNIDADES NO ES

Para o secretário de Estado de Desenvolvimento, Marcos Kneip Navarro, o Espírito Santo deve ter neste ano um "boom" no mercado de trabalho, em razão da inauguração de novos empreendimentos e de grandes obras.

"Vários investimentos estão sendo feitos no Espírito Santo. Além da instalação de novas empresas, importantes empreendimentos vão sair do papel em 2021 e impactar diretamente o mercado de trabalho. Acredito que o setor empresarial já veja o Estado com bons olhos. Um dos exemplos é que alcançamos a melhor avaliação do Ensino Médio da Rede Pública do País no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Dessa forma, largamos na frente de outras regiões do país quanto a capacidade de aprendizagem de nossos jovens. Outro diferencial é o Programa Qualificar, que promove a qualificação profissional do cidadão capixaba com foco no empreendedorismo, na empregabilidade e na inovação.  E vale citar a importante atuação do Serviço Social do Comércio, do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial e do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas. São inúmeras as ferramentas à disposição da população para buscar a qualificação profissional e assim uma recolocação no mercado de trabalho e/ou novas oportunidades", destaca Marcos Kneip.

EMPREGABILIDADE E DIVERSIDADE 

Além da recolocação de vários trabalhadores e dos investimentos em qualificação profissional, as empresas apostam, cada vez mais, na diversidade no processo de seleção.

Ao abrir 90 vagas na unidade que está sendo instalada em Cachoeiro de Itapemirim, a Suzano também buscou a formação de uma equipe plural, com a participação de profissionais diversos, de quaisquer gêneros, etnias e crenças, além de pessoas com necessidades especiais.

Com relação à igualdade de oportunidades, uma das metas da empresa é de que, até 2025, 30% dos cargos de liderança sejam ocupados por mulheres. "A pluralidade na formação de nossas equipes é muito importante para a Suzano e só reforça nosso compromisso de desenvolver a população, gerar empregos e possibilidades”, pontua Luiza Xavier, gerente de Gente & Gestão da Suzano.

Além de melhorar a imagem da empresa, a diversidade pode impactar na produção, na redução de conflitos e fazer com que mais pessoas tenham  interesse em se juntar a ela. Isso facilita a atração de talentos, já que as opções de candidatos para preencher as vagas serão sempre abundantes e qualificadas. 

Lara Sathler, diretora executiva da Associação Brasileira de Recursos Humanos do Espírito Santo (ABRH-ES), reforça que uma equipe formada com olhar atento para a diversidade proporciona um ambiente melhor para os colaboradores. 

Lara Satlher- ABRH




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