Salário mínimo de 2022 não compra nem duas cestas básicas no ES
Segundo Dieese, último valor da cesta em Vitória, calculado em novembro de 2021, equivalia a 55,12% do novo salário mínimo
O valor do novo salário mínimo de R$ 1.212 não será suficiente nem para comprar duas cestas básicas na cidade de Vitória.
Levando em conta o último dado do custo da cesta na Capital capixaba, informado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos em novembro de 2021, que foi de R$ 668,17, o trabalhador capixaba teria que desembolsar mais R$ 543,83 se quisesse levar para casa duas cestas básicas. O valor de cada cesta equivale a 55,12% do salário mínimo.
Já o custo em dezembro de 2021, segundo o Dieese, será divulgado até o final desta semana.
A cesta básica é composta por 13 itens: carne, leite, feijão, arroz, farinha, batata, tomate, pão, café, banana, açúcar, óleo e manteiga. No Brasil, a quantidade de cada ingrediente varia de acordo com a tradição alimentar de três grandes áreas do país: a região Sudeste, as regiões Sul e Centro-Oeste e as regiões Norte e Nordeste.
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Há valores que variam entre as regiões do país e, por isso, representam uma parcela diferente do salário em cada uma delas. Na maioria das 17 capitais pesquisadas, no entanto, o preço da cesta em novembro representa mais da metade do salário mínimo.
Segundo o Dieese, em novembro de 2021, o salário mínimo necessário para a manutenção de uma família de quatro pessoas deveria equivaler a R$ 5.969,17. Isso equivale a quase cinco vezes o valor estabelecido para 2022.
O departamento indica que mais de 56 milhões de pessoas têm o salário mínimo como referência para cálculo de seus rendimentos.
Valor compromete ainda mais orçamento das famílias de baixa renda, aponta economista
O economista Eduardo Araújo calcula que houve um aumento de R$ 11,36% na cesta básica em Vitória, se comparado os valores da cesta em novembro de 2021 e dezembro de 2020. Já o INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) subiu 10,02% em 2021.
Nesse comparativo, a cesta básica teve um aumento de 1% comparando com a inflação em 2021. Pode parecer um índice baixo, mas para uma família de baixa renda isso é bastante significativo porque o orçamento dessas pessoas fica muito comprometido com aquisição de alimentos. E não é só comida que as pessoas precisam comprar. Há as despesas com energia elétrica, gás de cozinha, combustível (embutida na tarifa de ônibus)", explica.
Por causa disso, segundo ele, as pessoas com renda mínima são as mais impactadas pelo aumento de preços. "A correção do salário mínimo, infelizmente, não acompanha a variação de alguns custos. O Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M), que é referência para o setor de moradia e para variação do aluguel, subiu 17%. Quem mora de aluguel, apesar do aumento do salário, tem seu poder de compra diminuído", pontua.
O economista acredita que a inflação em 2022 deve desacelerar. "Ela vai subir em torno de 5%, o que é metade do que tivemos em 2021. Os preços podem continuar subindo mas não na velocidade como no ano passado", acredita. "Mas isso não significa que as pessoas terão essa percepção de redução de preços. Os custos continuarão altos", aponta.
Sem aumento real
O novo valor do salário mínimo de 2022, de R$ 1.212, foi confirmado em medida provisória publicada na última sexta-feira (31) e passou a valer a partir de 1º de janeiro.
O aumento de R$ 112 (representando acréscimo de 10,18%) em relação ao valor que vigorou durante o ano de 2021 (R$ 1.100) não representa aumento real, mas apenas a recomposição de perdas inflacionárias.
O Ministério da Economia explicou que é usada a taxa de inflação medida pelo INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) - que abrange as famílias com rendimentos de 1 a 5 salários mínimos e tem por objetivo a correção do poder de compra dos salários.
O ministério diz que o cálculo do novo salário mínimo considerou uma alta de 10,02% como INPC previsto para todo o ano de 2021.
"Neste percentual, foram considerados os valores realizados do INPC para os meses de janeiro a novembro e as projeções do governo para o mês de dezembro", diz a nota.