Economia

Americanas deve quase R$ 11 milhões a cinco shoppings no ES

Em todo o Brasil há pelo menos 100 centros de compras com valores a receber da empresa varejista, que está em recuperação judicial

Marcelo Pereira

Redação Folha Vitória
Foto: Divulgação

Na lista de credores da Americanas, que enfrenta uma imensa crise fiscal no mercado brasileiro, há pelo menos 100 shopping centers em todo o Brasil com valores a receber da empresa varejista. 

No Espírito Santo, a empresa está endividada em cinco shoppings: Shopping Vitória, Shopping Mestre Álvaro (na Serra), Shopping Moxuara(em Cariacica), Shopping Praia da Costa (Vila Velha) e Shopping Sul (em Cachoeiro de Itapemirim). O valor total das dívidas chega a R$ 10.821.554,55.

Entre os centros comerciais no Estado, o Shopping Vitória tem o maior valor a receber da empresa. São três dívidas da varejista totalizando R$ 10.575.315,04. 

As administradoras não esclarecem qual a natureza das cobranças. Não se sabe se os débitos se referem a atrasos de taxas de condomínio ou de aluguel. 

Na última terça-feira (24), a Americanas encaminhou à 4ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro a proposta de recuperação judicial, que soma um passivo de R$ 41,2 bilhões a serem pagos a quase 8 mil credores.

Além dos shoppings, há dívidas com bancos, fabricantes de produtos de tecnologia, artigos para casa e escritório, brinquedos, guloseimas. 

Entre os bancos, a maior dívida é com o Deutsche Bank, devendo R$ 5,2 bilhões. Depois seguem o Bradesco, com R$ 4,5 bilhões de dívida; o Santander, com R$ 3,6 bilhões; e o BTG Pactual, com R$ 3,5 bilhões.

Já entre os fabricantes e fornecedores da varejista, a maior dívida é com a Samsung, com uma dívida de R$ 1,2 bilhão. Já com a Nestlé, esse valor é de R$ 259 milhões.

Renúncia após "rombo" de R$ 20 bilhões

Um dos maiores grupos varejistas do país, a Americanas entrou em crise após o CEO da empresa, Sergio Rial, deixar a companhia, ao revelar ao mercado em 11 de janeiro que detectou inconsistências estimadas no total de R$ 20 bilhões nos balanços contábeis. Ele ocupava o cargo há 10 dias.

Posteriormente, uma análise interna indicou que a dívida era ainda maior: R$ 40 bilhões. 

A repercussão foi imediata no mercado financeiro. As ações da Americanas despencaram 77,3% no pregão de 12 de janeiro e fecharam a R$ 2,72. Foi a maior queda já registrada por uma empresa no Ibovespa, índice de referência dos investidores, desde 1994.

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Em 13 de janeiro, a Americanas obteve da Justiça uma medida cautelar que impedia a execução antecipada de dívidas por 30 dias. 

Nos argumentos apresentados, a empresa afirmava que as chamadas "inconsistências contábeis" poderiam alterar seu grau de endividamento e acarretar o vencimento antecipado do débito de R$ 40 bilhões.

A empresa também argumentou que conta com 146 mil acionistas, dela dependem mais de 100 mil empregos diretos e indiretos e paga anualmente R$ 2 bilhões em impostos. 

Ao fim do período de proteção dado pela Justiça, a empresa tem a opção de entrar com um pedido de recuperação judicial ou a decisão perde a eficácia.

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No mesmo dia, as ações da empresa fecharam em alta de mais de 15% após a queda da véspera.

Um dos credores, o banco de investimentos BTG Pactual, não ficou satisfeito com a decisão e entrou com recurso, sendo negado pela Justiça fluminense. 

O pedido de recuperação judicial foi encaminhado ao Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro no dia 19 de janeiro. A varejista informou que o valor total de sua dívida é de cerca de R$ 43 bilhões.

O pedido é o quarto maior da história do país. Ficando atrás somente dos da Odebrecht, da Oi e da Samarco. 

A quantia em caixa, segundo a varejista, estaria em R$ 800 milhões.

O pedido foi aceito no mesmo dia. A decisão foi do juiz Paulo Assed Estefan, da 4ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro.

A recuperação judicial é solicitada quando uma empresa se encontra em dificuldades financeiras. 

Com o pedido aceito, eventuais execuções judiciais de dívidas são paralisadas por 180 dias. Da parte da empresa, ela deve apresentar em 60 dias uma proposta que inclua formas de pagamento aos credores e uma reorganização administrativa, de forma a evitar que a situação piore e se constitua falência.

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Mesmo em recuperação judicial, as operações nas lojas físicas e no site de vendas da Americanas irão continuar normalmente.

O que diz a Americanas

A Americanas foi procurada para comentar sobre a lista de credores e estratégia de pagamento das dívidas. 

Por meio de nota, informou que os valores de aluguéis vencidos e não pagos até a data do pedido da recuperação judicial "constituem dívidas que seguirão as exigências do processo, que a impede de efetuar pagamentos cujo evento de origem seja anterior ao início do pedido realizado", frisou. 

Acrescentou que para eventos posteriores ao início da recuperação, a operação da companhia segue em regime de normalidade.

O que dizem os shoppings

A administradora do Shopping Vitória informou que não comentará o assunto e que vai aguardar os desdobramentos na Justiça.

A reportagem do Folha Vitória procurou o Boulevard Shopping Vila Velha, pois inicialmente havia a informação de que a Americanas estaria devendo ao centro de compras um total de R$ 225.477,79.

Em nota enviada à redação, o Boulevard informou "que não há nenhuma pendência da Americanas com o centro de compras, localizado em Itaparica. Todos os compromissos firmados foram devidamente quitados".

Os demais shoppings do Espírito Santo presentes na lista de credores foram procurados. 

Também foi pedido um posicionamento da Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce) sobre a possibilidade de que a Americanas, não pagando as dívidas, terá que responder a ações de despejo, com as atividades de suas lojas sendo encerradas nos centros comerciais. 

Esta reportagem será atualizada quando as respostas dos shoppings e da Abrasce forem enviadas.

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