Economia

Analistas de mercado do ES dizem que situação da Americanas preocupa

A inconsistência de R$ 20 bilhões, segundo o especialista, equivale a praticamente o dobro do valor de mercado da empresa

Isabella Arruda

Redação Folha Vitória
Foto: Divulgação

Após anúncio pela Americanas de que foram detectadas inconsistências em lançamentos contábeis, em valor estimado na dimensão de R$ 20 bilhões, o Folha Vitória conversou com analistas do mercado financeiro do Espírito Santo para entender a situação e de que forma um potencial “rombo” impactaria investidores.

Inicialmente, para Elcio Cardozo Miguel, sócio da Matriz Capital, assessoria vinculada à XP Investimentos, as notícias que foram veiculadas desde quarta-feira (11) são graves para a empresa.

Nesse sentido, a inconsistência de R$ 20 bilhões, segundo o especialista, equivale a praticamente o dobro do valor de mercado da empresa, ou seja, a dívida em questão seria duas vezes maior que todo o valor da empresa hoje.

“As ações da Americanas caíram 76% neste momento e outras empresas também podem ser afetadas, como por exemplo os bancos, que são credores dela e podem sofrer com a incerteza de que a empresa poderá cumprir seus compromissos financeiros”, disse Miguel.

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Suspeita é de que dívida seja maior

Para Vinicius Torres, estrategista-chefe da APX Invest, o caso precisa ser investigado, podendo até mesmo configurar uma fraude contábil. 

"A fraude contábil seria o caso de a empresa acabar se utilizando de artifícios ilegais ou não, mas não consistentes com as normas contábeis, para maquiar o balanço e fazer parecer que a empresa está mais saudável do que realmente está", pontuou. 

Nesse caso da Americanas, o mercado suspeita de uma possível dívida muito maior do que era anunciado pelo mercado.

Nas palavras do agora ex-CEO da empresa, Sérgio Rial, que assumiu a Americanas no último dia 2 e, em 10 dias, verificou as inconsistências e deixou o cargo, a empresa não foi 100% transparente. A partir daí, um comitê independente vai investigar se houve fraude.

"Isso levanta uma suspeita para todo o setor de varejo, que não tem histórico de resiliência. Há casos emblemáticos como a Mesbla e outras. Então abrimos o dia com ações caindo bastante. O mercado como um todo acabou até respondendo bem, poderia ser pior. O Ibovespa fecha em vermelho, mas algo em torno de 0,55% negativo apenas", continuou. 

De todo modo, Torres afirmou que algumas empresas acabaram sendo afetadas pelo caso em questão. 

"A Americanas passou boa parte do dia em leilão. Acabamos tendo um volume de ordem de compras ou vendas que fazem travar o ativo e impossibilita negociação do ativo enquanto durar este leilão. Mais para o final do dia voltaram as negociações, mas com uma queda de 76% do preço de abertura, valendo R$ 2,80. Uma queda bem forte, mas de certa forma esperada", disse.

Resolução extrajudicial

Para Cardozo Miguel, deverão ser feitas investigações e auditorias para que se verifiquem as possíveis punições aos responsáveis.

“A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) tem a função de proteger os investidores e poder de agir nestes casos. E o acionista que se sentir lesado poderá ingressar na Câmara de Arbitragem e de Mercado, que é um órgão extrajudicial, para tentar reaver seus prejuízos. Apesar disso, historicamente esse é um caminho bastante difícil”, ponderou.
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