Economia

Em alta no ES, gasolina chega a R$ 5,62; entenda o porquê do aumento

Depois de alta determinada pela Petrobras, preço médio do combustível teve variação de 16,9% nos últimos 30 dias no Espírito Santo

Foto: Reprodução TV Vitória
Posto em Vitória: gasolina vendida já com aumento determinado pela Petrobras

Valores nas alturas e subindo, demissão do presidente da Petrobras, protesto e fechamento de BR, discussão política e promessa de medidas para resolver o problema. E o problema é o preço dos combustíveis. Para se ter ideia, o preço médio da gasolina comum no Estado foi de R$ 4,73 em 25 de janeiro para R$ 5,53 nesta quarta (24), segundo dados do Monitor de Preços de Combustíveis da Secretaria de Estado da Fazenda (Sefaz). Um aumento de 16,9% em um mês. E os o preço continua subindo.

A Petrobras anunciou um aumento de 10,2% nas refinarias no último dia 18. No Estado, cada município tem um preço diferente, em função da distância de transporte e quantidade de combustível que compra. Em Linhares, por exemplo, o preço médio da gasolina está em R$ 5,62. Em Cachoeiro, fica em R$ 5,59. Já em Colatina, o preço bate em R$ 5,53, o mesmo valor cobrado, em média, em Domingos Martins. Em Vitória, o preço médio é de R$ 5,17; em Vila Velha fica por R$ 5,03; em Cariacica por R$ 5,05; e na Serra por R$ 5,11.

Mas, o que provoca esse aumento? Para entender, primeiro é preciso saber como é composto o preço dos combustíveis. No caso da gasolina, segundo dados oficiais do Ministério da Economia, o preço no Sudeste com referência a agosto do ano passado é composto da seguinte forma:

Composição do preço da gasolina (Fonte: Ministério da Economia)
32% vem da gasolina
12,2% do etanol
16,3% de tributos federais
27,9% de tributos estaduais
1,1% de margem de distribuição
10,5% de margem de revenda

Segundo o professor de Microeconomia da Fucape, Felipe Storch Damasceno, o preço final da gasolina, e dos combustíveis de uma forma geral, é influenciado por muito mais que percentuais de impostos ou margem de lucro de distribuidoras e postos. 

"A gente tem um conceito em economia que é a elasticidade. É a sensibilidade da demanda em relação a mudança de preços. Há alguns produtos que o consumidor responde muito e outros pouco. Muito são os produtos que têm muita importância e poucos substitutos. É o caso da gasolina e do diesel. Quando a Petrobras aumenta o preço, o posto pode repassar quase inteiro o aumento ou até mais porque sabe que a gente precisa abastecer. É uma questão da característica do produto", disse.

O professor também chamou a atenção para a elevação dos preços do petróleo no mercado internacional e para a escalada do dólar no País.

 "Em qualquer empresa exportadora ou qualquer grande empresa, como é o caso da Petrobras, se os preços sobem no mercado internacional, vale a pena exportar mais. Então, quem compra aqui dentro do País precisa pagar caro também. Se a Petrobras, mesmo que utilize o petróleo que produz aqui, for vender mais barato, é ruim para os  acionistas. A empresa escolhe ser menos lucrativa. Se não for fazer a paridade com o preço do petróleo lá fora, a Petrobras estaria comprando mais caro e vendendo mais barato. Isso já aconteceu lá atrás, no governo Dilma, e custou R$ 100 bilhões para a Petrobras. Não tem mais espaço para fazer isso porque os investidores deixam de investir na empresa, no País", explicou. 

Foto: Reprodução/Fucape
Professor de economia da Fucape, Felipe Storch Damasceno

Felipe Storch Damasceno também disse que a redução de impostos seria uma solução apenas a curto prazo e que teria consequências potencialmente desastrosas para a economia do País no futuro. 

"Reduzir o imposto agora não é sustentável no longo prazo porque levanta desconfiança dos investidores. Quando a empresa decide fazer isso, praticar política econômica e não ser petroleira, está assumindo que vai deixar de lado a lucratividade. Quando gera essa desconfiança, o investidor duvida se não vai fazer isso de novo e se questiona se terá segurança para colocar o dinheiro na empresa. E não falamos apenas dos grandes investidores, mas de gente comum, pequenos investidores, fundos de pensão".

A solução, para o professor, seria estruturar a economia como um todo. Mas, nada que poderia ser feito no curto prazo. 

"A solução é organizar a economia do Brasil e não adianta procurar soluções fáceis para problemas complexos. Criar competição, melhorar o ambiente tributário, atrair investidores, gerar crescimento econômico com empresas investindo. Ter ganho de produtividade, mais investimento em máquinas, equipamentos. Tudo isso atrai investidores, reduz custos, provoca a entrada de dólares. Assim a cotação e os preços de produtos caem. A solução imediata, na verdade, é parar de fazer bagunça e aliviar um pouco a Petrobras", concluiu o professor. 

Repercussão política

Por causa desse aumento dos combustíveis, uma discussão política tomou conta não só do Estado como também do País. Horas após a Petrobras ter anunciado um novo aumento de 10,2% no preço da gasolina e 15,2% no preço do diesel nas refinarias, no último dia 18, o presidente Jair Bolsonaro disse que iria zerar os impostos federais que incidem sobre o diesel e o gás de cozinha a partir de março. 

Na segunda-feira (22), Bolsonaro disse que é possível uma redução no preço do combustível e citou, por exemplo, a bitributação do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), que é alvo do governo federal a partir de um projeto de lei enviado ao Congresso há duas semanas. 

Ao mesmo tempo, o governador do Estado, Renato Casagrande (PSB), em reunião com a bancada capixaba e com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PP,) na última segunda (22), deu uma declaração contundente, quando questionado sobre uma possível redução de impostos estaduais para os combustíveis.

"Se não tivermos cuidado, isso enfraquece todos os estados. O que tem elevado o preço dos combustíveis é o dólar e o valor do petróleo no mercado internacional. Isso é que causa o aumento. Temos que ter clareza que em 2011 a gasolina tinha um custo de R$ 2,60 e o ICMS do combustível era o mesmo. Agora a gasolina está perto de R$ 5,60, R$ 5,70, e o combustível tem o mesmo percentual de ICMS. Então é preciso que a conversa seja consistente e o Congresso pode assumir esse papel de chamar os governadores para preservar as finanças dos estados e ao mesmo tempo caminhar em direção a reduzir a carga tributária", afirmou Casagrande. 

Na esteira da decisão, Bolsonaro demitiu o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, e anunciou o general Joaquin Silva e Luna para o cargo. O general estava no comando da Itaipu Binacional. O anúncio provocou uma reação imediata e as ações da Petrobras chegaram a cair 20% na Bolsa.