Economia

"O Brasil precisa de um projeto reformista de verdade", diz Moro no 7º Encontro Folha Business

Pré-candidato à presidência participou do painel de encerramento do 7º Encontro Folha Business, na noite desta sexta-feira, no Centro de Convenções de Vitória

Rodrigo Araújo

Redação Folha Vitória
Foto: Vitor Machado

O ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, e pré-candidato à Presidência da República pelo Podemos, Sergio Moro, participou do painel de encerramento do 7º Encontro Folha Business, realizado na noite desta sexta-feira (11), no Centro de Convenções de Vitória.

O debate, mediado pelo editor-chefe da Apex Partners e colunista do Folha Business, Luan Sperandio, girou em torno das ideias da chamada "terceira via" das eleições presidenciais deste ano, que pretende bater de frente com as candidaturas de Jair Bolsonaro e do ex-presidente Lula.

Apontado como um dos principais nomes dessa terceira via, Moro ressaltou a importância do próximo governo tocar as reformas que o Brasil precisa — tributária, administrativa, entre outras.

"O Brasil precisa de um projeto reformista de verdade, precisa entrar em uma rota de modernização. O que temos visto nos últimos tempos, com raras excessoes, é uma sucessão de maus governos, especialmente no sentido de que existe uma série de reformas que a gente sabe que precisa fazer, mas a gente não consegue fazer. A política brasileira tem sido incapaz de apresentar e realizar entregas que são necessárias para a construção de um país moderno", ressaltou.

Sergio Moro criticou a forma como o governo Bolsonaro vem tratando das reformas e garante que o Congresso Nacional não foi empecilho para que as matérias fossem adiante.

"Eu acho que foi muito pouco pelo que foi prometido. A reforma administrativa ficou de fora. Eu estava no governo em 2019 quando ouvi do presidente que a reforma administrativa era algo para segundo mandato. E a tributária, que se fala há muito tempo, é essencial para restaurar a produtividade e a competitividade da nossa indústria. Mas não tenho visto essas grandes reformas".

Para o ex-ministro, a reforma administrativa precisa focar no aprimoramento do serviço público, em vez de simplesmente diminuir os custos da máquina pública.

"Eu acho um grande erro quando a gente fala de reforma administrativa com objetivo de reduzir custos. Ela pode até reduzir custos, e é bom que isso aconteça, mas a reforma administrativa é para você gerar serviço público de qualidade. Quando você começa o discurso dizendo que precisa cortar os custos, você já vai gerar resistência das corporações, vai colocar um viés errado num problema que é muito mais sério", afirmou.

"Se você pega um pai de família e pergunta a ele se ele quer mandar o filho para uma escola pública de qualidade ou de baixo custo, ele vai escolher o primeiro caso. Então essa história de baixar os custos da administração pública como objetivo número um da reforma é um viés que vem do mercado. O discurso tem que ser diferente", completou.

Além das reformas administrativas e tributárias, Moro defendeu a chamada reforma ética, que consiste no fim do privilégio para a classe política.

"Nossa proposta é contra privilégio. Uma das coisas é acabar com o foro privilegiado, que é um privilégio de políticos, inclusive do presidente da República. A reforma ética vai envolver o fim da reeleição para presidente e o fim do foro privilegiado. Não tem porque tratar político como alguém que merece tratamento, pela lei, melhor que o cidadão comum. Não tem justificativa moral para isso. E, do ponto de vista prático, causa blindagem para quem faz coisa errada".

Possível aglutinação entre candidatos da terceira via

O ex-juiz disse ainda que espera que haja uma aglutinação política de outros nomes da chamada terceira via em torno de sua candidatura à presidência. Ele destaca o fato de ser o mais bem colocado, desse meio, nas pesquisas eleitorais, que indicam, até o momento, uma disputa mais restrita a Lula e Bolsonaro.

Moro conta que se reuniu, ao longo de 2021, com outros possíveis candidatos ao Palácio do Planalto, como o empresário João Amoêdo, o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta e os governadores de São Paulo, João Doria, e Rio Grande do Sul, Eduardo Leite.

Segundo ele, há um compromisso informal de uma aglutinação em torno do candidato da terceira via com mais chances de êxito na disputa com Lula e Bolsonaro.

"É claro que essa aglutinação política é desejável, mas a gente precisa sempre combinar com o eleitor. A gente já viu, em 2018, que a aglutinação política de uma série de partidos não necessariamente reflete em votos", lembrou.

Moro, no entanto, não descarta abrir mão de sua candidatura caso um candidato com maior potencial de bater de frente contra o ex e o atual presidente surgisse antes da formalização das coligações. No entanto, destaca que o cenário ainda não é esse.

"Se tivesse aparecido alguém com potencial de êxito contra esses dois extremos, eu não teria vindo [como candidato]. Mas realisticamente não apareceu. A situação concreta é que eu estou em terceiro nas pesquisas. Então não faz sentido um candidato com mais chances abrir mão em relação a candidatos que mal pontuam", declarou.

"Até tenho ouvido, muitas vezes, que a rejeição de fulano é baixa. Sim, mas se a gente for pegar alguém desconhecido, é claro que a rejeição é baixa. O grande ponto é como ser conhecido e como ter um discurso, nesse ano de 2022, que encaixe na demanda do eleitor, e que seja um discurso consistente com a história daquele candidato", acrescentou.

Mesmo ainda atrás dos dois principais candidatos, nas pesquisas, o ex-juiz acredita que muita coisa pode acontecer até outubro. "A política é como nuvem: muda a todo momento. É claro que o cenário hoje das pesquisas, que não necessariamente retrata o que vai acontecer em outubro, apontam esses dois extremos. Mas muita água, pode ter certeza, vai rolar até la".

Encontro com Lula nas urnas

Sergio Moro também lembrou da época em que foi o juiz responsável pelas decisões de primeiro grau da operação Lava Jato. Em 2017, ele condenou Lula a 9 anos e meio de prisão por suposto envolvimento do ex-presidente no caso do triplex do Guarujá.

Questionado por Luan Sperandio sobre como seria enfrentar Lula agora nas urnas, Moro brincou: "Os debates, pelo menos, vão ter boa audiência".

Em seguida, lamentou a quantidade de réus condenados durante a operação e o volume de dinheiro público desviado.

"Isso é muito triste. Agora também não adianta a gente ficar chorando pelos cantos. A gente tem que encarar os desafios. Se for pensar, foram mais de 150 condenados só em Curitiba, na Lava Jato. E não foi só o Lula. Ninguém diz que a corrupção não aconteceu na Petrobras. Aconteceu e muito. A Petrobras declarou publicamente que recuperou R$ 6 bilhões, que já entrou nos cofres dela. Isso é um recorde mundial", afirmou.

O ex-juiz também classificou como um "baita erro judiciário" a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de anular as condenações de Lula, no âmbito da Lava Jato.

"Eu profiro uma sentença, no caso do Lula. O tribunal confirma, o STJ confirma, o próprio Supremo autoriza a prisão, em março de 2018, e três anos depois, vem dizer coisa diferente. Claro, vamos respeitar o Supremo. Ninguém vai defender invasão do Supremo, que se xinguem os ministros. Têm bons ministros lá, como o atual presidente, ministro Fux. Mas ali eles cometeram um baita erro judiciário", declarou.

"Esse país, que se anula condenação por corrupção, não porque diz que a pessoa é inocente, mas porque encontram lá, três anos depois, um 'vício formal' é profundamente errado. A gente precisa ter crescimento econômico com inclusão, mas a gente precisa construir um país em que você possa chegar na tua casa, olhar para seu filho e falar com ele que roubar é errado, que se ele fizer isso ele vai sofrer as consequências", completou Sergio Moro.

Encontro Folha Business

O projeto da Rede Vitória, em parceria com a Apex Partners, começou em 2020 e, desde então, já foram realizadas sete edições do Encontro Folha Business. O evento sempre conta com a presença de lideranças nacionais em política e mercado.

Nas seis edições anteriores, os encontros reuniram executivos e sócios das principais empresas, além de representantes da esfera pública do Espírito Santo, para sessões de conteúdo e debate com grandes nomes da iniciativa pública e privada do Estado e do país.

Na sétima edição do evento, que aconteceu na noite desta sexta-feira, lideranças políticas e econômicas discutiram as expectativas para o ano de 2022.

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