A crise causada pelo conflito entre Rússia e Ucrânia deixa reflexos em diversos países. A produção cafeeira no Espírito Santo também pode ser afetada pela guerra do leste europeu. Boa parte dos insumos para produção de fertilizantes são derivadas da Rússia e isso pode impactar nos valores ou na escassez do produto.
Nesta quarta-feira (30), o CEO da Robusta Coffee, Thiago Orletti; o presidente do Sindicato dos Corretores de Café do Espírito Santo (SCCES), Marcus Magalhães; e o produtor rural e empresário Eduardo Bortolini abordaram o assunto durante realização do 2º Encontro Folha Business, que aconteceu em Linhares.
A conversa girou em torno da situação atípica nos últimos anos diante da pandemia da covid-19. Para a cafeicultura, os efeitos foram representativos em toda a cadeia, desde o produtor até o consumidor.
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“Tudo aumentou. Todos os itens de produção. Também tivemos um descolamento de preço do café histórico. Foi algo que nunca tinha sido visto. Positivamente é importante para o produtor, mas do outro lado da cadeia é ruim, pois o valor para o consumidor aumenta”, disse o CEO da Robusta Coffee.
Orletti explicou que a Rússia é uma grande compradora do café brasileiro. Além do grão, produtos industrializados, como café solúvel e o café torrado e moído são exportados para o país.
“Em 2018 o Brasil não representava quase nada na importação. Hoje temos 350 mil sacas exportadas para Rússia anualmente”, disse.
Segundo Orletti, os efeitos do conflito provocado pela Rússia não devem ser sentidos pelos produtores capixabas imediatamente, mas a médio e longo prazo.
“Temos que tomar cuidado para saber esses efeitos para a cafeicultura. Quando se fala de uma recessão de um consumo global, isso começa a fechar para o outro lado. Precisamos acompanhar com preocupação o que ta vindo a longo prazo”, afirmou.
O presidente do SCCES classificou o momento vivido pela cafeicultura como uma “tempestade perfeita”, pois mesmo diante das adversidades, o aumento do preço do produto foi um ponto positivo.
“Vivemos um momento interessante e desafiador da cafeicultura. Uma tempestade perfeita. Estamos vindo da (pandemia) covid, apagão logístico, seca, geada. Isso deixa todo mundo no mercado meio perplexo e tivemos no Brasil a política do Banco Central para tentar derrubar a inflação. Mas foi na via inversa e derrubou o dólar”, disse Magalhães.
“Temos conflitos indefinidos. A guerra militar pode acabar, mas e a guerra econômica? Como fica o mundo pós conflito? Esse novo mundo é diferente e ninguém de nossa geração viveu. Enquanto isso não tiver claro, o mercado patina”, completou.
Magalhães afirmou que a perspectiva é de que a safra para 2023 seja boa, mas o mercado cafeeiro é dependente das condições climáticas, que não tem como prever.
“Se nós tivermos uma geada, uma seca, o bicho pega. Teremos três meses de estresse, mas três anos é sucesso. O único país que pode mudar a história do café é o Brasil. Por mais que a gente tem a frente possibilidades de safras boas, temos estoques baixos. Mas o agro está igual o Flamengo, mudou de patamar. Vamos trabalhar daqui para frente em níveis que remunerem o produtor”, afirmou.
“Lá na frente o mercado pode melhorar muito. Acho que o agro sempre vai ser ouro verde dessa nação”
Marcus Magalhães, presidente do SCCES
Já o empresário Eduardo Bortolini destacou os inúmeros desafios enfrentados pelo produtor rural, mas que isso não interfere na capacidade de produção.
“O produtor virou um craque em produzir. Da porteira para dentro, ele sabe produzir bem. Depois da seca, nosso parque cafeeiro evoluiu muito. O olhar agora deve ser mais voltado para dentro da fazenda, entender o custeio. É preciso ter noção de fluxo de caixa, os custos internos e saber disso bem claro. O mercado tem isso disponível para fora da porteira”, afirmou.
Bortolini destacou ser preciso compreender o mercado externo e como está a produção desses países.
“O produtor tem que se qualificar mais do outro lado da gestão. Da parte agronômica, nosso parque cafeeiro está indo para um nível de produtividade muito alto. Precisamos estudar modelos para parar de depender de fertilizantes. Temos um longo caminho para estudar sobre isso e mudar nossa cultura. O produtor tem que compreender como está o mercado e a relação de troca para tirar o risco de ficar com uma safra toda para frente. Virá um momento de voltar a ficar bom essa relação”, disse.
Linhares recebe o encontro pela segunda vez
O 2º Encontro Agro Business é realizado pelo Folha Business, maior plataforma de comunicação sobre negócios do Espírito Santo, e reúne empreendedores, produtores e importantes nomes do agronegócio do estado em Linhares, que sedia o evento pela segunda vez.
Para o vice-prefeito da cidade, Bruno Marianelli, a iniciativa da Rede Vitória é de grande importância para o município e para os agricultores.
“Para a prefeitura de Linhares a agricultura é um setor muito importante. Essa caminhada começou em 1997 e os frutos começaram a ser colhidos. Linhares vem despontando e desde 2017 nós viemos trazendo novas perspectivas para o mercado linharense. Linhares é fruto de planejamento, de uma rota traçada. Os solavancos e obstáculos do caminho são naturais, mas com muito esforço, conseguimos chegar onde estamos hoje”, destacou.
Já o diretor executivo Rede Vitória de Comunicação, Geraldo Vimercati, destacou que o setor não pode ser ignorada, visto que é um importante pilar para a economia capixaba. Ele ainda revelou novidades na programação da TV Vitória.
“A agricultura vem passando por um grande desenvolvimento tecnológico. É um segmento que emprega uma grande quantidade de pessoas em nosso estado e, por isso, merece nossa atenção. A partir de abril, teremos o Programa Agro Business no ar todos os domingos, às 8 horas, com a apresentação de Sthefany Sampaio, na tela da nossa TV Vitória”.