Assim como em todos os setores da economia, a produção agrícola precisou enfrentar momentos delicados nos últimos anos: pandemia, incertezas climáticas, inflação e, mais recentemente, a guerra entre Rússia e Ucrânia, que parece ser algo distante, mas que pode afetar o setor do agronegócio.
No Espírito Santo, os produtores rurais, especialmente os cafeicultores, estão de olho no mercado brasileiro e de importação. A perspectiva de uma boa safra em 2022 é vista como positiva, mas é preciso pensar mais a frente, no momento pós-colheita, com o uso de fertilizantes.
O assunto foi debatido durante a realização do 2º Encontro Agro Business, ocorrido nesta quarta-feira (30), em Linhares. O encontro foi promovido pelo Folha Business (Rede Vitória) e pela Apex Partners e reuniu produtores e empresários do agronegócio capixaba.
Um dos debates contou com a participação do Head de Agronegócio – EloGroup, Octaciano Neto; do presidente do Centro do Comércio de Café de Vitória (CCCV), Márcio Cândido; e do presidente da Cooabriel, Luiz Carlos Bastianello.
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A elevação nos preços dos insumos para produção agrícola, por exemplo, é uma das incertezas encontras pelos produtores rurais.
Bastianello destacou que os fatores encontrados nos últimos anos fizeram com que fosse necessário ao produtor se reinventar, o que pode ser uma alternativa para o momento atual.
“Sabemos tomar decisão quando temos informações, mas não tínhamos quando começou a covid. Era uma preocupação muito grande. No ano passado tivemos a crise de logística e conseguimos atravessar. Quando a gente achava que fosse caminhar, veio a guerra Rússia x Ucrânia. Só o anúncio já fez os produtos subirem e impactou na nossa produtividade. No fim do mês, a conta não fecha. Toda crise tem seu benefício. Nos reinventamos na pandemia e vamos fazer isso agora também”, afirmou.
O presidente da Cooabriel destacou, ainda, que muitas pessoas não tinham o conhecimento da dependência do Brasil em relação aos fertilizantes da Rússia.
Segundo ele, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, afirmou, durante reunião com representantes de produtores que não faltarão fertilizantes no Brasil.
“Diante do receio da falta, os preços foram nas alturas. É claro que existe um pouco de oportunismo neste mercado. Como produtor, precisamos ter cautela neste momento. Até quando perdura essa guerra da Ucrânia? Não sabemos o que de fato vai acontecer”, disse.
“No agro precisamos estar sempre fortes para buscar saídas, nos reinventar e rever conceitos.”
Luiz Carlos Bastianello, presidente da Cooabriel
O presidente do CCCV destacou a importância do café para o mercado mundial. Ele falou sobre a alta nos valores de comercialização e a competitividade que o Brasil encontra perante outros países produtores, como o Vietnã.
“Conilon é extremamente necessário para o café mundial. As principais marcas de café no Brasil não tem como ter seus produtos na gôndola com menos de 75% de conilon. É um mercado que os produtores têm como cativo. O Vietnã é mais competitivo do que Brasil. Eles oferecem robusta a 50 dólares por saca para o mundo mais barato que nosso conilon. Não podemos fechar os olhos para o que está acontecendo”, avaliou.
Cândido destacou que o café é visto como fundo de investimento, que opera nas bolsas mais importantes do mundo. Para ele, o produtor precisa estar atendo ao que ocorre diante das necessidades do mercado.
“A música diz que ‘quem sabe faz a hora, não espera acontecer’. No café, esperar acontecer é ser refém do que estava antecipado. Não podemos ser como adolescentes, que tem os olhos e ouvidos para enxergar e ouvir o que agrada”, disse.
Para Cândido, durante a pandemia o mundo mostrou a necessidade de ter algo na porta de casa, nascendo uma demanda e supervalorizando o produto, o que foi positivo para a exportação brasileira.
“O primeiro impacto da pandemia na nossa agricultura é que o mundo precisava de café na porta de casa. Antes da pandemia, outros países compravam estoque para um ou dois anos. Agora, além de comprar, eles pedem para antecipar o quanto puder. Nasceu uma demanda exacerbada em um período que supervalorizou o café. O Brasil conseguiu fornecer e surfou nessa onda”.
Para o Head de Agronegócio do EloGroup, Octaciano Neto, o Brasil tem um desafio para os próximos anos com a produção do agronegócio aliado à eficiência ambiental.
“O próximo desafio do Brasil é produzir alimentos para três bilhões de pessoas até 2050. Não há espaço para desmatamento no mundo e o produtor tem que ser mais eficiente na sua área. Parece que o agro brasileiro é um só, mas é tão diversa e desigual quanto o Brasil. São 500 mil produtores e eles precisam avançar e aumentar a produtividade”, destacou.
Para Neto, o produtor precisa apostar na tecnologia em diversas áreas para evitar gastos desnecessários, reduzir o consumo de insumos e aumentar a produção.
“A diferença entre os produtores que se destacam é quem usou tecnologia. As tecnologias querem reduzir uso de insumos. A tecnologia digital faz com que um trator, por exemplo, passe, olhe a plantação e faça uma ressonância magnética, olhando a infestação por planta e não por um setor. Em algumas plantas não é preciso colocar nada e outra precisa. Com isso, reduz o gasto”.
Ele ainda destacou que a perspectiva de produção dos diversos setores do agronegócio é boa, mas que o produtor precisa se adaptar às novas realidades.
“Produzimos alimento, fibra, celulose e energia. Temos terra para produzir esse alimento e vai sobreviver quem usar tecnologia, novos fertilizantes, tratores mais potentes. É fantasioso acreditar que quem produz é o grande. Temos 450 mil produtores pequenos que produzem muito”, destacou.
Linhares recebe o encontro pela segunda vez
O 2º Encontro Agro Business é realizado pelo Folha Business, maior plataforma de comunicação sobre negócios do Espírito Santo, e reúne empreendedores, produtores e importantes nomes do agronegócio do estado em Linhares, que sedia o evento pela segunda vez.
Para o vice-prefeito de Linhares, Bruno Marianelli, a iniciativa da Rede Vitória é de grande importância para o município e para os agricultores.
“Para a prefeitura de Linhares a agricultura é um setor muito importante. Essa caminhada começou em 1997 e os frutos começaram a ser colhidos. Linhares vem despontando e desde 2017 nós viemos trazendo novas perspectivas para o mercado linharense. Linhares é fruto de planejamento, de uma rota traçada. Os solavancos e obstáculos do caminho são naturais, mas com muito esforço, conseguimos chegar onde estamos hoje”, destacou.
Já o diretor executivo da Rede Vitória de Comunicação, Geraldo Vimercati, destacou que o setor não pode ser ignorado, visto que é um importante pilar para a economia capixaba. Ele ainda revelou novidades na programação da TV Vitória.
“A agricultura vem passando por um grande desenvolvimento tecnológico. É um segmento que emprega uma grande quantidade de pessoas em nosso estado e, por isso, merece nossa atenção. A partir de abril, teremos o programa Agro Business no ar todos os domingos, às 8 horas, com a apresentação de Sthefany Sampaio, na tela da nossa TV Vitória”.