Economia

ARTIGO | Cassinos: o Brasil e o ES não podem mais dar sorte ao azar

Se for aprovado no Senado, as casas de jogos poderão ser instaladas em resorts como parte de um complexo de lazer

Foto: Freepik

Um novo bloco de senadores foi criado para tentar barrar na Casa a aprovação do projeto de lei que legaliza os cassinos no Brasil. O texto já foi aprovado na Câmara, no início do ano passado, por 246 votos favoráveis. 

Se for aprovado no Senado, os cassinos poderão ser instalados em resorts como parte de um complexo de lazer, estrutura que teria ainda de contar com pelo menos 100 quartos de alto padrão, além de locais para eventos, reuniões, restaurantes, bares e centros de compra.

A discussão é antiga. Desde 1946, essa nação perdeu trilhões de dólares em empregos e impostos quando o marechal Dutra decidiu proibir os cassinos. E, vejam só o motivo, para agradar sua esposa, a conservadora dona Santinha. Dali para frente todos conhecemos a história: o cassino foi proibido no Brasil, em nome de Deus. 

Perdemos muito mais do que entretenimento: perdemos impostos, geração de renda e sobretudo de emprego. E, claro, deixamos de atrair turistas – o vetor dessa economia limpa chamada viajar.

Segundo um levantamento promovido pelo Instituto Jogo Legal, o Brasil detém o status de principal "exportador" de jogadores de cassinos do planeta. 

Cerca de 200 mil brasileiros se deslocam anualmente para o exterior para desfrutar deste tipo de entretenimento. Ao passo que poderiam estar viajando para Foz do Iguaçu, Gramado, Angra dos Reis, Pedra Azul – e uma infinidade de ótimos destinos brasileiros que poderiam abrigar cassinos legalizados, fiscalizados pela Receita Federal, pagadores de impostos e geradores de carteiras de trabalho assinadas.

Uma previsão para o Espírito Santo, com a aprovação do Marco Legal dos Jogos, resultaria em uma grande revolução para os serviços turísticos, bem como a instalação de um cassino poderia gerar cerca de 1500 novos empregos diretos e 4 mil indiretos. 

Pergunte a um desempregado se a notícia não é boa. Outros players próximos à discussão a nível Brasil trazem números ainda mais robustos: 650.000 novos empregos e R$ 20 bilhões de arrecadação anual.

Fala-se muito das doenças relacionadas a vício e compulsão em jogos, um mal do século por conta da ausência do Estado, que deve ser tratado com seriedade, caso de saúde pública, e lógico um assunto para ser colocado em pauta nessa discussão. 

Em Las Vegas que, hoje, é o maior destino quando se trata de cassinos, há uma preocupação em oferecer lazer, espetáculo e shows – ou seja: não só jogos, mas cultura e entretenimento. Por lá, as casas oferecem até assistência psicológica, justamente porque há uma preocupação com o bem-estar e o divertimento.

A sociedade civil organizada precisa também encontrar caminhos para essa problemática, que já afeta o país independente da canetada do marechal Dutra. 

O Brasil, que adora ver o Velho Continente por um espelho convexo, poderia olhar para Portugal, Itália e França, onde muitos cassinos são inclusive estatais e fiscalização que, perdoe-me o trocadilho, não dá sorte para o azar.

*Artigo escrito por Nerleo Caus, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Espírito Santo (ABIH-ES). Já foi secretário estadual de Turismo.

Foto: Assessoria/ Divulgação