Carbono positivo: iniciativas de quem recupera mais do que degrada o meio ambiente no ES
Algumas empresas entram em um time seleto de companhias ecologicamente responsáveis e devolvem ao meio ambiente mais do que emitiram na atmosfera
Um selo de credibilidade e responsabilidade. É assim que uma empresa com créditos de carbono é vista pelo mercado e pelos consumidores.
No Brasil e no Espírito Santo, é difícil mensurar a exata emissão de dióxido de carbono na atmosfera e quanto é recuperado, mas algumas empresas estão apostando no "carbono positivo" para preservar o meio ambiente e aproveitar uma oportunidade econômica.
"As empresas que têm essas iniciativas ganham pontos com o mercado, podem trazer investidores e melhoram a reputação com o cliente", afirma o economista Eduardo Araújo.
Por outro lado, Araújo afirma ver na falta de programas de incentivos governamentais para empresas, um entrave para que a prática seja popularizada até pelos pequenos negócios.
"Mesmo sendo uma preocupação global, sinto que ainda que faltem incentivos governamentais para o crescimento dessas iniciativas e assim uma economia mais 'verde' se potencializar em todos os âmbitos de negócio", completa.
Mas algumas empresas se mostram como um ponto fora da curva. É o caso da Suzano, uma das maiores produtoras de celulose do mundo, e que atua em Aracruz, no Norte do Espírito Santo.
"A Suzano, hoje, já é carbono positiva. Ou seja, as remoções de CO2 da companhia são maiores do que as suas emissões. Isso ainda soma-se ao fato de que sua operação ocorre exclusivamente em território brasileiro, o que faz com que não exista a obrigatoriedade de qualquer medida de compensação. Mas seguimos com a intenção de ampliar ainda mais esses investimentos", afirma o gerente executivo de sustentabilidade da Suzano, Cristiano Resende de Oliveira.
O Brasil se comprometeu a zerar as emissões de carbono na atmosfera até 2050. Isso não quer dizer que o país irá reduzir a atividade industrial e econômica como um todo, mas irá neutralizar as emissões com práticas sustentáveis, como por exemplo compensando com o plantio de árvores.
"O Brasil tem meta de até 2050 colocar essa economia equilibrada. Mas acho difícil atingirmos essa meta com a mentalidade que nós temos hoje. Tanto de governantes quanto de sociedade. Não podemos ser imediatistas. A maior riqueza que o ser humano tem é a riqueza das riquezas naturais e se soubermos trabalhar isso de forma adequada, perseguindo a meta do carbono zero, a biodiversidade é o grande trunfo para o Brasil se tornar uma potência socioeconômica no mundo sustentável", afirma Schettino.
Para reduzir o impacto ao meio ambiente, a Suzano atua em ações voltadas ao reflorestamento e sustentabilidade. "A empresa atua com medidas de mitigação – redução de emissões, adaptação – sermos uma empresa resiliente, preparada para eventos climáticos extremos e riscos de transição – riscos futuros ligados a Mudanças Climáticas. Para a compensação temos as nossas florestas plantadas e de eucalipto que removem CO2 da atmosfera. E todo este volume, que em 2020 foi de 19 milhões de toneladas de CO2 nós compensamos todas as emissões (próprias e da cadeia – escopos 1, 2 e 3), que em 2020 foi de 3,783 toneladas de CO2e", conta Oliveira.
O mercado 'verde' do carbono positivo
Confira a explicação do economista Eduardo Araújo sobre os novos modelos de negócio voltados à sustentabilidade:
Ainda no âmbito econômico, a Suzano é uma empresa que atua no Espírito Santo e está presente no índice de Carbono Eficiente da B3, a Bolsa de Valores do Brasil.
"Iniciamos 2021 com mais um reconhecimento à gestão e à transparência da Suzano no tema Mudanças Climáticas. Buscamos constantemente soluções que nos permitam alcançar operações ainda mais eficientes e promover a substituição de produtos de origem fóssil. Ao mesmo tempo, por meio das nossas florestas nativas e dos plantios de eucalipto, contribuímos diretamente para a remoção de CO₂ da atmosfera", completa Oliveira.
O que é crédito de carbono?
O mercado de crédito de carbono é que um sistema que atribui um custo à poluição ambiental de CO2.
As empresas que produzem dióxido de carbono mais do que devem, podem comprar certificados das que produzem menos, e, assim, passam a serem classificadas na categoria de "carbono neutro" ou "carbono zero".
"Se uma indústria queima X de energia e emite CO2 na atmosfera, ela precisa plantar uma certa quantidade. ´É o que temos com as indústrias de papel, celulose e produção de madeira. Essas companhias extraem, porém atuam para repor o dióxido de carbono emitido na atmosfera plantando árvores. A ideia de carbono zero é essa: se emite o mesmo número de reposição de CO2", afirma o doutor em ciência florestal, Luiz Fernando Schettino.
Mas, como funciona?
Por convenção, 1 tonelada de dióxido de carbono (CO2) corresponde a um crédito de carbono. Se uma empresa produz 50 milhões, ela deve comprar 50 milhões créditos de carbono. Já um crédito corresponde a 5 dólares. Em mercados regulados, como a Europa e os Estados Unidos, as metas são estabelecidas pelo próprio governo.
Veja o último relatório do Projeto Carbono Global e o compromisso do Brasil até 2050
"Vamos supor que o governo europeu estabeleça uma meta de 2 bilhões de toneladas de carbono para as companhias áreas. Ao final do ano, uma delas emitiu a mais, 3 bilhões, então ela precisa comprar 1 bilhão de crédito de carbono. Em paralelo, outra companhia produziu apenas 1 bilhão de carbono, sendo assim, ele possui 1 bilhão de créditos de carbono para vender a outras empresas", explica o especialista em tecnologias voltadas ao meio ambiente, Luis Adaime.
Entenda o que é carbono zero e positivo
>> Carbono zero: é uma espécie de balança ecológica. O carbono zero é um tipo de crédito. Se uma empresa queima 'X' gases do efeito estufa durante seu processo de produção, ela deverá compensar o desequilíbrio neutralizando os outros 'X' presentes na atmosfera. Assim o impacto no meio ambiente fica zerado.
>> Carbono positivo: é o melhor para o meio ambiente. Na prática, o selo ‘Empresa Carbono Positivo’ atesta que a companhia está recuperando além do utilizado pela empresa durante seu processo de produção. Se uma empresa queima 'X' gases do efeito estufa, ela compensa com o mesmo 'X' e vai além, absorvendo mais carbono da atmosfera do que emitindo.
“É um caminho sem volta. No Brasil e no mundo, as empresas estão cada vez mais preocupadas com a sustentabilidade e o cliente está cobrando isso. Ou seja, não é apenas uma exigência governamental em muitos países, mas uma imposição do próprio mercado”, analisa o doutor em ciência florestal, Luiz Fernando Schettino.
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