Mistura láctea ou leite condensado? Saiba o que as marcas estão fazendo para driblar a inflação
Na prática, a reduflação é quando o consumidor está pagando o mesmo valor por embalagens com menos produtos ou com qualidade inferior
Você já percebeu que, há muitos anos, a barra de chocolate tinha quase o dobro do peso atual? Ou que alguns produtos ganharam versões alternativas, com preço mais em conta do que o tradicional? Esse fenômeno está cada dia mais comum e tem nome: reduflação.
O termo é utilizado na economia e é nada mais do que, na prática, quando o consumidor está pagando o mesmo valor por embalagens com menos produtos ou com qualidade inferior. À reportagem do Folha Vitória, o economista Eduardo Araújo explicou.
"Reduflação é algo que a gente observa hoje e ela tem a ver com esse processo de ter uma redução na quantidade dos produtos ou até mesmo na qualidade do produto para manter o preço. O que a gente tem observado no momento atual é que o custo de muitas matérias-primas vêm crescendo e, com isso, algumas indústrias tentam fazer alguma mudança na produção para não transferir essa alta de custos para o consumidor", explicou.
Muitos podem não conhecer o fenômeno, mas o assunto ganhou as redes sociais nos últimos dias, quando uma marca de leite condensado lançou uma versão alternativa ao produto, descrevendo como mistura láctea condensada de leite, soro de leite e amido. O assunto causou burburinho nas redes sociais:
A versão mais barata do que a tradicional não é exclusividade do leite condensado. Observando as gôndolas dos supermercados é fácil encontrar latas de leite em pó integral de uma determinada marca ao lado do composto lácteo com fibras do mesmo fabricante. Na pressa, o consumidor também pode, facilmente, levar para casa um creme culinário no lugar do creme de leite.
"É como se houvesse uma estratégia de marketing ou de publicidade, em que o consumidor recebe um produto semelhante ao que ele comprava pelo mesmo preço. Mas, de fato, ele paga o mesmo preço por um produto com uma quantidade menor ou uma qualidade inferior", afirma o economista.
E nem a caixa de bombom escapou da "alternativa". Novas fórmulas surgiram nas prateleiras do supermercado, e o chocolate ao leite foi retirado da composição, substituído por cobertura de gordura vegetal hidrogenada a depender da versão.
Isso significa que estamos sendo enganados?
Como se não bastasse estarem lado a lado nas prateleiras do comércio varejista, muitos destes produtos possuem embalagens idênticas ou com pequenas diferenças, o que dificulta na hora do comprador identificar o produto que realmente quer levar.
As latas de leite em pó e composto lácteo, por exemplo, têm o mesmo tamanho e cor. A especificação da diferença dos produtos está apenas na descrição. Para muitos clientes, esse pequeno e importante detalhe passa despercebido.
À reportagem do Folha Vitória, o diretor-presidente do Procon-ES, Rogério Athayde, explicou que é direito fundamental do consumidor ter todas as informações claras e precisas. Além disso, as marcas devem cumprir as regras de uma determinada portaria quando houver mudanças nas embalagens, redução de peso ou lançamento de produto similar.
"O artigo 3º da portaria 392/2021 fala que o produto tem que estar bem exposto, ter uma informação no painel do principal rótulo da embalagem sobre o que está sendo modificado, tem que estar em local fácil acesso e tem que ter todas as garantias. Portanto, é legal. Induzir o consumidor ao erro é uma prática considerada abusiva e essas empresas estão, sim, correndo o risco de serem notificadas e autuadas posteriormente", explicou.
A portaria em questão dispõe sobre a obrigatoriedade do fornecedor informar ao consumidor a alteração quantitativa de produto embalado posto à venda, sempre que esta ocorrer. As informações devem ser colocadas em letras maiúsculas, em negrito, com cor que contrasta com o fundo da embalagem e altura mínima de dois milímetros.
Athayde ainda destaca que, caso o consumidor sinta que foi induzido ao erro, ele deve denunciar aos órgãos de proteção e defesa ao consumidor.
"Pode estar induzindo o consumidor ao erro e pode se caracterizar sim uma abusividade e uma propaganda enganosa. Inclusive o IDEC, que é o Instituto de Defesa do Consumidor, propôs uma ação, pois isso estava confundindo, por causa das semelhanças características de um produto pro outro. Na nossa visão de defesa do consumidor, os fabricantes têm que, efetivamente, colocar de maneira que o consumidor não se confunda. Não pode isso de maneira intencional", afirmou.
O Procon orienta que, em caso de denúncias de irregularidades, o consumidor pode entrar em contato por meio do Whatsapp (27) 3323-6237. Se desejar, a denúncia pode ser feita de forma anônima.
"Nós já tivemos outros casos parecidos com isso que nós efetivamente abrimos um processo administrativo e caminhando inclusive à Secretaria Nacional de Defesa do Consumidor para tomar as providências legais e cabíveis", disse.
O que diz a Nestlé
No site da empresa, a Nestlé disse que o lançamento da mistura láctea condensada é uma opção para substituir o leite condensado original e economizar.
Nesta semana, a empresa utilizou as redes sociais para responder uma cliente e disse que a mistura láctea não substitui a versão original do Leite Moça. A respeito das embalagens, a Nestlé disse que todas seguem as diretrizes e solicitações da Anvisa.
A Nestlé disse que o Moça® Pra Toda a Família, além de suprir as mais diversas necessidades dos consumidores, é “uma alternativa ao leite condensado com menor desembolso para as famílias brasileiras que querem continuar preparando suas receitas sem abrir mão da segurança do resultado e da qualidade Nestlé”.
A empresa destacou que a embalagem do lançamento é diferente de todos os itens de seu portfólio uma vez que apresenta cor marsala e consta a identificação “mistura láctea condensada”.
Por fim, a Nestlé disse que a embalagem da linha é a única que tem uma imagem de uma receita no painel frontal, o pudim.
