Economia

Número de famílias em extrema pobreza quase dobra em um ano no ES

Em 2020, 3,6% da população do Estado vivia em situação de extrema pobreza e no ano passado o número saltou para 6,1%. É considerada em extrema pobreza a família que vive com até R$ 154,91, por integrante da família por mês

Marcelo Pereira

Redação Folha Vitória
Foto: Reprodução TV Vitória

O número de famílias vivendo na pobreza e na extrema pobreza subiu no Espírito Santo. De acordo com um estudo realizado pelo Instituto Mobilidade e Desenvolvimento Social (IMDS), em 2021, 14,2% da população capixaba vivia na pobreza, e 6,1% na extrema pobreza.

Em 2020, 8,5% vivia na pobreza e 3,6% na extrema pobreza. Ou seja, o número de pessoas vivendo em condições preocupantes quase dobrou de um ano para outro.

Ainda de acordo com o estudo, no Brasil, o Maranhão lidera o índice da pobreza com 48,5% da população vivendo nessas condições. Já Santa Catarina é a unidade da federação com menos pobres, 7%.

De acordo com a classificação do Ministério do Desenvolvimento Social, famílias em situação de extrema pobreza  são aquelas com renda mensal de até R$ 154,91 por pessoa.

Uma delas é a da desempregada Mayara Santana de Meira. Ela é uma dentre centenas de famílias em situação de extrema vulnerabilidade.  Ela mora com os cinco filhos e o marido num casebre de apenas um cômodo em Vale da Conquista, próximo ao bairro Normília Dias, em Vila Velha. Os adultos estão sem trabalho e vivem apenas com o Auxílio Brasil, no valor de R$ 535.

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A desempregada Mayara Santana vive com o marido e os cinco filhos num casebre de um cômodo em Vale da Conquista, no bairro Normília Dias, em Vila Velha 

"Aqui faz muito frio. Quando chove sofremos com goteiras. Eu uso a geladeira para guardar as nossas roupas porque comida não tem. Com o valor do auxílio dá pra sobreviver pois eu compro o que falta mas dura pouco", relata.

A família conta com ajuda de doações. Nesta terça-feira (28),  as crianças ganharam brinquedos e fraldas de Olinda Raimundo, que faz trabalho voluntário na região. "Essas famílias, que moram por aqui, precisam de trabalho e de alimentos. Passam por muitas necessidades. Nossa preocupação cresce porque há também pessoas adoentadas", informa.

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Voluntária Olinda Raimundo disse que as famílias em Vale da Conquista passam por necessidades que englobam alimentação e vagas de emprego

A situação delicada da economia, agravada pela pandemia do coronavírus, são fatores que fizeram parte da população capixaba a voltar às camadas mais vulneráveis da população.

A socióloga Maria Angela Rosa Soares analisa que a situação é dramática e não envolve apenas o Espírito Santo. O Brasil voltou ao passado, analisa, citando uma economia que saiu do sexto lugar para a décimo no ranking mundial. 

"Retornamos ao Mapa da Fome, com um cenário trágico onde 33 milhões de pessoas estão em extrema pobreza sem sequer saber se terão uma refeição. Retroagimos cerca de 30 anos pois é uma realidade da década de 90. Cabe ao poder público, seja Governo Federal ou Estado, suprir essas necessidades pois alimentação e moradia são direitos fundamentais e estão na Constituição", aponta. 

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Socióloga Maria Angela Rosa analisa que o Brasil retrocedeu em 30 anos com a pobreza extrema em crescimento

Ela diz que, frente a uma situação ainda agravada pela pandemia, com alta de inflação global nos preços de alimentos, são necessários investimentos urgentes em Educação e projetos para gerar inclusão dessas pessoas na força de trabalho. 

"Mas o poder público não pode se esquivar, de cumprir o seu papel em promover cidadania para essas pessoas. Não se trata aqui de encarar benefícios como esmolas ou caridades. São direitos legítimos das pessoas", ressalta.  

O que os levantamentos apontam a realidade confirma. Há seis anos, não havia nenhuma moradia no Vale da Conquista. De lá pra cá, são cerca de 130 famílias que passaram a morar na região. Um número que cresce e é um reflexo do aumento da pobreza extrema, no Espírito Santo.

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Em 2020, 3,6% da população do Estado vivia em situação de extrema pobreza. Em 2021, o número saltou para 6,1%. Já o número de capixabas na linha da pobreza passou de 8,5% em 2020 para 14,2% no ano passado. A família que vive com até R$ 309,82 por pessoa por mês se encaixa nesta situação social.

O que para muita gente é trivial, para Mayara é difícil de conseguir. "É muito complicado quando um filho pede uma comida, um leite e você não tem o que oferecer. Dói lá dentro você ter que falar para a criança esperar a gente ter dinheiro para poder dar o que ela quer. Isso é enganar uma criança porque eu sei que, no dia seguinte, eu não vou ter e ela vai continuar pedindo", revela, emocionada.

SAIBA MAIS:

FAMÍLIAS CAPIXABAS NA POBREZA (renda familiar de R$ 154,92 até R$ 309,82 por pessoa por mês):

2021: 14,2%

2020: 8,5%

FAMÍLIAS CAPIXABAS NA EXTREMA POBREZA (renda familiar de até R$ 154,91 por pessoa por mês):

2021: 6,1%

2020: 3,6%

PREFEITURAS SE MANIFESTAM 

As prefeituras da Grande Vitória foram procuradas pela reportagem para falar sobre projetos sociais em auxílio à pessoas de baixa renda.

A Prefeitura de Vitória informou que pretende erradicar a extrema pobreza com um benefício mensal de R$ 105 em vale alimentação por membro da família. 

A Prefeitura de Cariacica disse que tem 16,7% da população vivendo na pobreza extrema, e que realiza entrega de cestas básicas emergenciais para essas famílias.

Serra informou que concede um benefício de R$ 154 para famílias de baixa renda e também doa cestas com itens essenciais. E Vila Velha disse que oferece o Bolsa Aluno, um benefício de R$ 200 para as famílias de todos os estudantes da rede municipal de ensino.

Com informações do repórter Lucas Pisa, da TV Vitória/Record TV