Dilema Tostines e a sustentabilidade empresarial
Empresas pautadas pela sustentabilidade aferem ganhos reputacionais, o que pode ajudá-las a atrair mais investimentos, gerar mais negócios e reter mais talentos
*Artigo escrito por Cintia Dias, jornalista, publicitária, mestre em Administração e especialista em Comunicação, Sustentabilidade e Marketing. Membro do Comitê Qualificado de Conteúdo de ESG do IBEF-ES.
Na década de 80, um famoso comercial dos biscoitos Tostines ficou famoso por questionar se o produto era fresquinho porque vendia mais ou se a alta comercialização se devia ao fato de ser fresquinho.
Essa dúvida sobre a relação de causa e efeito ganhou o nome de dilema Tostines, que se tornou base de uma série de reflexões empresariais.
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O dilema Tostines pode se aplicar, também, à área de sustentabilidade. Teriam lucro as empresas que geram valor compartilhado ou esta geração seria resultado de resultados lucrativos? O que é causa, e o que é efeito?
Para começar a responder, considere o que é valor compartilhado: é a relação ganha-ganha que empresas pautadas pela sustentabilidade mantém com todos os seus stakeholders, que são as partes que afetam e são afetadas pelas relações produtivas.
Empresas cuja estratégia passa por beneficiar todas as partes envolvidas no negócio, em cada transação, não lidam com barganhas ou frade-offs, relações em que, para um ganhar, a outra parte deve, necessariamente, perder.
Elas buscam soluções que levem a uma terceira via, em que todos os envolvidos são beneficiados e, para tanto, recorrem frequentemente à inovação.
Uma pesquisa realizada pelo ESG Radar 2023, conduzida pela Infosys, entre 2,5 mil executivos de empresas em todo o mundo com faturamento acima de US$ 500 milhões anuais, mostra que 90% acreditam que empregar práticas ESG traz retorno financeiro positivo e 29% registraram crescimento significativo de lucros, impulsionados por uma governança corporativa robusta e diversidade em cargos de liderança, entre outros fatores.
O levantamento indicou, ainda, que a cada 10% de aumento nos investimentos em ESG, há 1% de incremento nos lucros.
Se empresas que adotam a pauta ESG, acrônimo para critérios ambientais, sociais e de governança, têm resultados financeiros sólidos, seriam eles a causa ou o efeito de uma atuação consistente para melhorar o ambiente em que estão inseridas?
Notadamente, empresas pautadas pela sustentabilidade aferem ganhos reputacionais, o que pode ajudá-las a atrair mais investimentos, gerar mais negócios e reter mais talentos.
Podem registrar economia de custos gerada pelas práticas sustentáveis, como eficiência energética e redução de resíduos; tendem a ter melhor acesso ao capital e a oportunidades de investimentos, por aderirem aos rígidos critérios de concessão de crédito e a fundos que valorizam estes aspectos; além de apresentarem conformidade regulatória e, com isso, mitigarem riscos de penalidades e questões legais, gerando economia.
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Vale lembrar que tais empresas são mais valorizadas por consumidores conscientes, que desejam, além dos atributos do produto ou serviço, adquirir soluções de empresas que promovem o bem no mundo.
Isso tudo as leva em direção a menos custos e mais oportunidades e, consequentemente, a resultados mais pujantes, que podem ser reinvestidos em práticas de criação de valor compartilhado, retroalimentando o ciclo de gerar mais valor e mais lucros.
Para chegar a este ciclo virtuoso, é necessário, portanto, que a empresa decida gerar valor compartilhado.
Assim, ao criar valor para funcionários, alcança-se um time coeso e engajado, que entrega soluções melhores, responsáveis por encantar e fidelizar clientes, e atrai fornecedores alinhados aos valores da empresa, o que contribui para a melhoria do produto ou serviço.
Gerar valor para todas as partes interessadas pode não ser o caminho mais curto, mas é a trajetória mais certa para a lucratividade e a perenidade das empresas.