Cresce o número de trabalhadores que perderam a renda durante a pandemia no ES, aponta pesquisa
Levantamento feito pela Rede Vitória/ Futura Inteligência também mostra que, desde a retomada da economia, aumentou o número de trabalhadores com carteira assinada
Uma das grandes consequências causadas pela pandemia da covid-19 — além, é claro, do agravamento da situação da saúde pública — foi a crise econômica decorrente das medidas de restrição para o combate ao coronavírus.
Isso fez com que o faturamento de empresas caísse significativamente, impactando também em um aumento do desemprego e da perda de renda.
Tal fenômeno foi constatado pela pesquisa Rede Vitória/Futura Inteligência, que apontou que 67% das pessoas entrevistadas tinham alguma atividade remunerada antes da pandemia. Ainda segundo o levantamento, atualmente esse percentual é de 61%.
Os mais afetados, segundo a pesquisa, foram os indivíduos das classes D e E. Antes da pandemia, 59% das pessoas nesta condição social disseram que tinham uma fonte de renda. Atualmente, o número caiu para 47%.
Nas classes A/B e na C, o fenômeno foi reverso, ou seja, aumentou a proporção de pessoas que conseguiram uma atividade remunerada durante a pandemia. A taxa passou de 79% para 81%, na classe A/B, e de 72% para 76% na C.
"Certamente essa perda afetou os mais pobres, já que aumentou a quantidade de pessoas sem renda durante a pandemia. Já nas classes mais favorecidas tem mais gente trabalhando agora do que antes da pandemia", destacou o presidente do Futura, José Luiz Orrico.
Quem afirma ter sofrido com a perda de renda durante a pandemia foi a jornalista Bethânia Miranda. Antes da crise sanitária, ela estagiava em uma empresa de comunicação e, segundo ela, estava tudo certo para ela ser contratada. No entanto, tudo mudou com o início da pandemia.
"A pandemia foi um fator que atrapalhou a minha vida e de diversos colegas de estágio. Já estavam tendo conversas comigo, da minha chefia anterior, falando que tinham interesse no meu trabalho, que tinham o interesse em me contratar. E aí [a empresa] entrou numa recessão e manteve somente o pessoal que tinha e não contratou mais ninguém", contou.
A jovem conta que mora com os pais, mas que, mesmo assim, a renda faz falta. "Atrapalha porque eu não consigo mais ajudar, como eu ajudava. Não consigo mais pagar os boletos que eu tenho aqui em casa. Não consigo mais sem essa renda", lamenta.
Aumenta número de pessoas com carteira assinada
Se, por um lado, a pesquisa deixa claro que a pandemia impactou negativamente na renda dos capixabas, por outro traz um dado curioso: é que, com a retomada da economia, aumentou o número de trabalhadores formais, com carteira assinada.
Segundo o levantamento, entre aqueles que responderam que tinha alguma atividade remunerada antes da pandemia, quase 59% afirmaram que essa atividade era formalizada.
Já hoje em dia, o total de pessoas que dizem trabalhar de carteira assinada corresponde a pouco mais de 66% daqueles que possuem alguma renda.
É o caso do auxiliar de designer Sidney Santana Brito, que não tinha trabalho formal antes da pandemia e agora conseguiu um emprego com carteira assinada.
"Fiquei dois meses enviando currículos e acabei sendo contratado pela atual empresa onde eu estou. Está sendo muito importante essa oportunidade na minha vida e eu estou agarrando com todas as forças", afirmou.
A coordenadora da pesquisa, Simone Cardoso, acredita que a formalização do trabalho se tornou uma tendência durante a pandemia.
"Ao mesmo tempo em que a pandemia impõe uma dificuldade para se manter uma atividade remunerada, estamos vendo um processo de formalização maior. Precisamos acompanhar esse movimento também depois da pandemia, para entender se, de fato, essa formalização se mantém", frisou.
Procura por emprego
Outra constatação do levantamento do Futura é com relação à quantidade de pessoas que estão procurando emprego. Segundo o levantamento, 25% dos entrevistados estão nessa situação, ou seja, uma em cada quatro pessoas.
"É um índice muito alto. Isso mostra que o governo não está dando conta de resolver a questão do desemprego", opinou Orrico.
O levantamento aponta que a maior parte das pessoas que estão em busca de um emprego é composta por indivíduos mais jovens, de baixa renda e com menor grau de escolaridade.
Ao todo, 35% das pessoas da classe D/E disseram que estão procurando trabalho. Entre os que possuem apenas o ensino fundamental, 30% estão em busca de emprego. A situação também é vivida por 38% dos indivíduos de 16 a 29 anos de idade.
"É importante frisar que esses 25% não estão necessariamente desempregados. Alguns podem estar desempenhando alguma atividade informal e agora querem trabalhar de carteira assinada ou simplesmente querem um melhor posicionamento no mercado de trabalho", ressaltou Simone Cardoso.
O levantamento foi realizado entre os dias 14 e 17 de junho. Durante esse período, 400 pessoas com 16 anos ou mais foram entrevistadas, por meio de contato telefônico. Todas elas são moradoras do Espírito Santo.
A margem de erro da pesquisa é de 4,9 pontos percentuais, para mais ou para menos. O intervalo de confiança é de 95%.