Pesquisa mostra novo comportamento do consumidor em compras pela internet no ES
Número de pessoas no Espírito Santo que não faziam compras on-line diminuiu na pandemia, aponta pesquisa Rede Vitória/Futura Inteligência. Produtos procurados também mudaram
As compras pela internet já eram uma tendência em todo o mundo, mesmo antes da pandemia da covid-19. No entanto, com a crise sanitária provocada pelo novo coronavírus e, consequentemente, a necessidade das pessoas em ficar mais tempo em casa, para evitar se expor aos riscos de contaminação, o hábito de adquirir produtos de forma online se intensificou ainda mais.
Pesquisa realizada pela Rede Vitória/Futura Inteligência apontou que, no Espírito Santo, aumentou o número de pessoas que passaram a utilizar dispositivos eletrônicos para fazerem suas compras. Além disso, o levantamento constatou uma mudança no tipo de produto mais procurado pelos capixabas.
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Segundo a pesquisa, 42% dos entrevistados disseram que não realizavam compras online antes da pandemia. Com o início da disseminação da covid-19, o percentual de pessoas que declararam não ter utilizado a internet para fazer suas compras caiu para 34,1%.
"A pandemia trouxe essa novidade para as pessoas. Para se manter o distanciamento e não ir onde tem muita gente, as pessoas passaram a fazer mais compras pela internet. Foi um salto para o futuro. O número de consumidores online já vinha apresentando um crescimento razoável nos últimos anos e a pandemia acelerou esse crescimento. O mundo avançou alguns anos numa pancada só", avaliou o presidente do Futura, José Luiz Orrico.
"Quando você se habitua a determinada coisa, ela passa a fazer parte do seu dia a dia. O comércio eletrônico não vai diminuir. Provavelmente as pessoas irão mais aos pontos de vendas por lazer. Isso precisa ser repensado pelos comerciantes. Algumas coisas as pessoas vão preferir comprar de forma online e outras, nas lojas físicas. Nas lojas de roupas e calçados, por exemplo, pode ser que a perde de consumidores não seja tão grande, pela necessidade de experimentar os produtos", acrescentou.
No entanto, há uma diferença de comportamento entre os segmentos da população. O levantamento constatou que as compras virtuais são feitas principalmente por pessoas mais jovens, de renda mais alta e com maior nível de instrução.
Já a maior parte dos que não faziam e continuam não fazendo compras virtuais é composta por indivíduos de menor renda, de nível de escolaridade menor e mais velhos.
"É importante notar que a predominância do acesso a esses serviços foi entre indivíduos das classes A e B. Isso se explica, em parte, pelo fato de essas pessoas terem acesso a um melhor serviço de telefonia e internet. E também entre os mais jovens, que conhecem mais esses aplicativos de compras", ressaltou a coordenadora da pesquisa, Simone Cardoso.
"Por outro lado, entre as pessoas mais velhas e das classes D e E o uso desses dispositivos cai, seja pela condição mais precária de acesso à internet ou pela falta de conhecimento de como usar esses aplicativos", completou.
Das pessoas das classes D e E, 53% afirmaram não comprar produtos pela internet antes da pandemia. Durante ela, essa proporção passou para 49%.
Do período pré-pandemia até os dias atuais, o percentual de pessoas não realizou compras online, entre aqueles que possuem até o ensino fundamental, passou de 74% para 70%.
Com relação à faixa etária, o grupo que mais respondeu não fazer compras por meios digitais foi o de pessoas com 60 anos ou mais. Ao todo, 77% disseram não ter esse hábito, seja antes ou durante a pandemia.
Produtos procurados
Outro detalhe que chama a atenção é o tipo de produto que as pessoas procuravam antes da pandemia e os que elas passaram a procurar durante a crise sanitária. Antes, os produtos mais comprados pela internet eram roupas e acessórios: 48,1%.
Também eram muito procurados aparelhos eletrônicos, como computadores, celulares e tablets (35,4%), além de eletrodomésticos (19,2%) e utilidades para o lar (9,2%). As comidas prontas foram citadas por apenas 7,2% dos entrevistados.
Já durante a pandemia, especialmente após as restrições impostas a bares, restaurantes e lanchonetes, que durante um período só poderiam vender produtos no formato delivery, a compra de comida pronta passou a liderar o ranking de produtos comprados de forma virtual.
O item foi mencionado por 25,3% dos entrevistados. Já a compra de roupas e acessórios foi citada por 15,7% das pessoas e aparelhos eletrônicos, por 8,6%.
"Em 2020, houve restrições em relação ao serviço de alimentação dos bares, restaurantes e lanchonetes. A alternativa foi ofertar serviços de delivery. Quem não tinha o hábito de pedir comida pela internet passou a ter, e quem já tinha, o intensificou ainda mais", destacou Simone Cardoso.
Aplicativos de entrega
Com a maior procura por comida pronta entregue em casa, cresceu também a utilização de aplicativos digitais para realizar a compra desses itens. De acordo com a pesquisa, 49% dos entrevistados, ou seja, praticamente metade das pessoas disseram ter utilizado algum desses dispositivos para receber produtos em casa, durante a pandemia.
De acordo com o levantamento, o perfil médio das pessoas que utilizam esses recursos é formado por homens pertencentes às classes A e B, com curso superior completo, jovens e moradores da Grande Vitória.
Entre as pessoas com renda mais alta, 77% disseram ter utilizado algum aplicativo de entrega durante a pandemia. Nos indivíduos das classes D e E, esse percentual foi de 35%.
Com relação ao grau de escolaridade do entrevistado, o hábito cresce à medida em que o nível de ensino também aumenta. Dos indivíduos com curso superior, 69% usaram os dispositivos eletrônicos, contra apenas 19% entre quem tem até o ensino fundamental.
O hábito também é mais comuns entre os mais jovens. Das pessoas com idades entre 16 e 29 anos, o percentual dos que responderam que utilizam aplicativos de entrega foi de 59%, e de 57% entre quem tem entre 30 e 39 anos. Já entre os maiores de 60 anos, o uso dos dispositivos foi visto em apenas 16%.
O estudo também verificou que a maioria dos homens (55%) disse que usa esses aplicativos. Já entre as mulheres, esse hábito só é visto em 40% das entrevistadas.
A região onde a pessoa mora também influenciou na resposta. Entre os que moram na Grande Vitória, 57% disseram que usam os dispositivos digitais. Eles, no entanto, só são utilizados por 41% de quem mora no interior.
"Alguns aplicativos já atuam em todo o estado, mas outros ainda estão restritos à região da Grande Vitória. Então muitas pessoas do interior acabam não tendo acesso a eles", explicou a coordenadora.
Mais lembrados
Entre os aplicativos de entrega em domicílio, o mais lembrado pelos entrevistados foi o Ifood, mais voltado para o ramo da alimentação, mas que, com o tempo, ampliou suas atividades para outros tipos de entrega — produtos de supermercados e farmácias, por exemplo.
O aplicativo foi mencionado por 57,9% das pessoas ouvidas na pesquisa. O Uber Eats, outro dispositivo muito utilizado para quem pede comida pronta, foi lembrado por 11,5% dos entrevistados. Já serviços tradicionais como os dos Correios, por exemplo, foram citados por apenas 5,1%.
Durante a pandemia, muitos comerciantes passaram a utilizar o WhatsApp como ferramenta para recebimento de pedidos, seja para entrega de comida como também para outros produtos. O aplicativo de mensagens foi utilizado por 6,9% dos entrevistados.
A pesquisa Rede Vitória/Futura Inteligência apontou ainda que o Ifood foi o aplicativo mais utilizado por pessoas com rendas mais elevadas. Dos indivíduos de classe A/B, 70% mencionaram o dispositivo.
Já aplicativos como o Uber Eats (11%), Mercado Livre (12%) e WhatsApp (11%) foram mais lembrados por pessoas de renda mais baixa, da classe D/E.
Com relação à impressão a respeito do nível do serviço prestado por esses aplicativos de entrega, 88% avaliaram como ótimo ou bom. Outros 11% consideraram o serviço regular e apenas 1% disse que ele é ruim ou péssimo.
Planos para o pós-pandemia
A possibilidade de utilização dos meios digitais para a realização de compras fez com que os capixabas não precisassem esperar o fim da pandemia para adquirir aquilo que precisavam ou desejavam.
De acordo com o levantamento, 80% dos entrevistados afirmaram não ter adiado nenhuma compra para depois da crise sanitária do coronavírus.
Apesar da maior adesão ao comércio digital, especialmente durante a pandemia, a maioria das pessoas deseja voltar a sair de casa para fazer suas compras quando a situação estiver totalmente normalizada.
Segundo a pesquisa, 39,8% pretendem se deslocar até lojas físicas menores e próximas à sua residência para realizar suas compras. Apenas 27,6% disseram que vão continuar adquirindo produtos via internet, percentual um pouco maior dos que pretendem ir a shoppings e grandes redes de lojas para fazer suas compras (26,6%).
"A pesquisa mostrou que há uma necessidade das pessoas de saírem de suas casas. O comércio eletrônico veio para ficar, mas há também um desejo de se comparecer às lojas presencialmente. E as pessoas demonstraram que querem ir a comércios mais próximos, onde elas se sentem mais seguras", afirmou Simone Cardoso.
"Isso traz também uma maior consciência em relação ao comércio local. Foram feitas campanhas em alguns bairros, para que os moradores dessem preferência ao pequeno empreendedor da região. Então as pessoas optam por consumir na padaria do bairro e a comprar na loja de roupas mais próxima, por exemplo", completou a coordenadora.
Entre determinados públicos, no entanto, essa realidade é um pouco diferente. A ida a comércios menores e da vizinhança é a opção da maioria das pessoas que moram no interior (46%), que são da classe D/E (44%), possuem até o ensino fundamental (51%) e têm 60 anos ou mais (52%).
Por outro lado, vão preferir utilizar as compras online os indivíduos de classe A/B (44%), com ensino superior completo (35%) e com idades entre 16 e 29 anos (44%). Já os moradores da Grande Vitória responderam, em sua maioria (35%), que pretendem ir a shoppings e grandes lojas para fazer suas compras.
O levantamento foi realizado entre os dias 14 e 17 de junho. Durante esse período, 400 pessoas com 16 anos ou mais foram entrevistadas, por meio de contato telefônico. Todas elas são moradoras do Espírito Santo.
A margem de erro da pesquisa é de 4,9 pontos percentuais, para mais ou para menos. O intervalo de confiança é de 95%.