Economia

Saiba o que influencia no preço das commodities e como isso afeta o seu bolso

Especialistas explicam que, além da relação entre oferta e demanda e a cotação do dólar, diversos outros fatores influenciam no preço que chega ao consumidor

Rodrigo Araújo

Redação Folha Vitória
Foto: Agência Brasil

As commodities são mercadorias básicas que funcionam como matéria-prima para outros produtos e são comercializadas mundialmente. Como são bens de consumo global, sua cotação impacta as bolsas de valores, não só do Brasil, como de muitos outros países.

Mas o que determina o preço de uma commodity no mercado internacional? Quais fatores influenciam no preço final de um item produzido a partir dessa matéria-prima — passando pelas indústrias até chegar ao consumidor?

O economista e conselheiro efetivo do Conselho Regional de Economia do Espírito Santo (Corecon-ES), Vaner Corrêa, explica que a lei da oferta e da procura é básica para explicar o preço de uma commodity no mercado.

"A lei da oferta e da procura funciona internacionalmente. Quando você aumenta a oferta, o preço tende a cair. Essa lei funciona muito bem em termos microeconômicos. E o mercado de commodities é muito restrito", destacou.

Entretanto, além da cotação das commodities no mercado internacional, muitos outros fatores influenciam no preço final de determinado produto ao consumidor. Entre eles estão os custos de produção, fretes internacionais, situação dos fornecedores, política dos fabricantes, entre muitos outros.

"As empresas têm suas estruturas de custos e podem não necessariamente acompanhar o preço praticado no mercado. Mesmo quando ela recebe um insumo mais barato, isso não significa que esse valor menor será repassado ao consumidor. No caso da indústria do trigo, por exemplo, mesmo que lá fora haja uma cotação mais favorável, não quer dizer necessariamente que vamos ter um pão mais barato, por exemplo", explicou o economista Eduardo Araújo.

"A empresa que faz a produção pode ter tido uma redução em sua margem de lucratividade. Com a redução do preço de custo, ela pode querer recompor essa margem de lucro que ela perdeu no passado. É uma estratégia de sobrevivência. Não se sabe como vai ser a oscilação desse insumo no futuro", completou.

Foto: Divulgação

No exemplo do trigo, que é uma importante commodity agrícola do mercado brasileiro, uma reportagem recente do Valor Econômico trouxe a informação de que a produção do cereal no Brasil e em outros países do Mercosul terá um aumento significativo na próxima safra.

Segundo a reportagem, este fator, aliado à queda do dólar, pode favorecer uma queda no preço dos derivados desta commodity. 

No entanto, a Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo) emitiu uma nota de esclarecimento, afirmando que fatores como os custos dos estoques, perspectivas de preços futuros, inflação nos fretes internacionais, defasagem de preços de farinhas e a situação dos agricultores, entre outros, acarretam em uma pressão sobre os custos e nos preços das farinhas. 

"A oferta de trigo nacional, como fator positivo aos preços, se ocorrer nos níveis projetados, pode não ser suficiente para absorver a quantidade de fatores contrários de aumentos de custos", destacou o presidente da associação, Rubens Barbosa, na nota divulgada.

O mercado de café, por outro lado, vem sofrendo com a queda da produção no Brasil, principal produtor da commodity. Dessa forma, a tendência é que o valor do grão continue subindo até o final do ano.

Em entrevista recente à coluna Agro Business, do jornal online Folha Vitória, o presidente do Centro do Comércio de Café de Vitória (CCCV), Márcio Cândido Ferreira, destacou que o mercado de exportação da commodity está favorável para o Espírito Santo, segundo maior produtor de café do Brasil.

Ele destacou que o volume produzido pelo estado pode ser recorde neste ano, mas fez uma ressalva quanto ao preço do grão.

"Vale lembrar que o volume grande não significa que teremos preços baixos, pois há um déficit substancial na produção de arábica no Brasil, que será substituído com a qualidade e relevância do Espírito Santo nos cafés conilon", disse Ferreira à colunista Stefany Sampaio.

Foto: Reprodução TV Vitória

Outra importante commodity para a economia é o petróleo, responsável pela produção de diversos produtos, como a gasolina, cujo preço vem pesando bastante no bolso do consumidor desde o ano passado.

Eduardo Araújo lembra que, em momentos de desvalorização do barril de petróleo no mercado internacional e em reduções do preço da gasolina nas refinarias, anunciadas pela Petrobras, geralmente o consumidor não é beneficiado com o custo mais baixo do combustível e de sua matéria-prima.

"Por outro lado, quando a gente tem uma aceleração no preço das commodities essa elevação do custo de produção acaba sendo repassada para o consumidor. Então o aumento e a redução dos preços geralmente não ocorrem na mesma proporção", analisou.

O economista Wallace Millis destacou a complexidade na elaboração dos preços dos produtos, até ele chegar ao consumidor.

"O preço dos produtos tem uma complexidade muito maior do que essa regrinha básica do preço internacional da commodity, aliado ao valor do câmbio. Os preços traduzem relações sociais, traduzem relação de poder de mercado: poder dos distribuidores, da própria indústria doméstica, dos grandes produtores. E também precisam ser considerados outros fatores, como o nível dos estoques, o custo logístico, entre outros", frisou.

Outro fator destacado por Millis é em relação à concentração de empresas que operam em determinado setor. Quanto menos empresas atuando, mais os preços tendem a subir — ou pelo menos não cair.

"Em uma estrutura menos concentrada de empresas, o preço sobe com muita facilidade e não cai na mesma velocidade. Isso porque você tem grupos organizados que monopolizam certas partes da cadeia produtiva, absorvendo uma margem de lucro maior", explicou.

"A estrutura concorrencial de cada mercado é muito importante. Se você tem menos empresas atuando no mercado, essas empresas podem fazer um acordo informal e decidir se vão ou não reduzir os preços", acrescentou Eduardo Araújo.

Alta do dólar

Se para o mercado interno a alta do dólar é um dos fatores determinantes para uma elevação dos preços e uma maior pressão sobre a inflação, para o mercado externo significa maior rentabilidade nas exportações de commodities.

Eduardo Araújo lembra que o Espírito Santo é um dos maiores exportadores de importantes commodities, como o café e o minério de ferro, por exemplo. Dessa forma, o dólar mais alto favorece o Estado nas negociações com o mercado internacional.

"As empresas exportadoras, quando têm um cenário externo mais favorável, acabam contratando mais. Isso contribui para o número de admissões no estado e, consequentemente, para a economia. Uma prova disso é que o mercado formal do Espírito Santo está em um ritmo forte de recuperação.

Foto: Divulgação

Em termos nacionais, Vaner Corrêa destaca a atuação do Brasil no agronegócio, sendo um importante exportador de commodities agrícolas, como a soja, o café, a laranja, o algodão, entre outras. No entanto, pondera que o país deveria ter uma versatilidade maior em sua indústria.

"O problema do Brasil é que não temos um plano B para a indústria. Se todas as projeções otimistas se confirmarem, podemos ter um grande enriquecimento. O agronegócio vem sendo bastante incentivado no atual governo, apesar das questões ambientais. Mas precisamos fomentar a nossa indústria, para quando vierem tempos mais difíceis e problemas mais sérios no ambiente externo, termos um mercado mais pujante", destacou o conselheiro do Corecon-ES.