*Artigo escrito por Alessandro Coutinho, pró-reitor de Pesquisa, Pós-graduação e Extensão na UVV e líder do Comitê Qualificado de Conteúdo em Empreendedorismo e Gestão IBEF-ES.
Na trajetória acadêmica, mestres e doutores são instruídos a se especializarem em suas linhas de pesquisa, dominando novos métodos e técnicas avançadas.
No entanto, nas grades curriculares da maioria dos programas de pós-graduação do Brasil, existe uma lacuna que é a falta de ênfase na gestão e no empreendedorismo científico.
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De acordo com uma pesquisa realizada pela renomada revista científica Nature Biotechnology, apenas 12% dos pesquisadores de ciências da vida têm experiência em gestão de projetos, enquanto uma análise da National Science Foundation revela que menos de 20% dos cientistas têm treinamento em empreendedorismo.
Deste modo, é crucial que as instituições de ensino incorporem esses aspectos na formação dos seus mestres e doutores, pois são habilidades essenciais para o progresso científico e tecnológico, bem como para ampliar o impacto das pesquisas além do mundo acadêmico.
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A gestão de projetos é uma competência frequentemente negligenciada na formação de mestres e doutores.
Apesar de serem capacitados para realizar pesquisas e gerenciar projeto de órgãos de fomento, a habilidade de gerenciar recursos, prazos e equipes em parceria com empresas é igualmente importante para o sucesso profissional.
Os dados da Project Management Institute são alarmantes, pois revela que apenas 58% dos projetos de pesquisa são concluídos dentro do prazo e com orçamentos planejados, destacando a necessidade de uma melhor capacitação nessa área.
O empreendedorismo desempenha um papel fundamental na transformação de ideias inovadoras em produtos e serviços que beneficiam a sociedade.
Mestres e doutores frequentemente geram conhecimento e tecnologias de ponta em suas pesquisas, mas nem sempre estão preparados para levar essas inovações ao mercado.
Além disso, estudos apontam que apenas cerca de 4% dos pesquisadores têm intenção de iniciar um negócio próprio, indicando uma falta de cultura empreendedora no ambiente de formação.
Contrariamente, segundo o relatório Global Entrepreneurship Monitor de 2021, realizado pelo Sebrae em parceria com o Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade, empreender já é o terceiro maior sonho dos brasileiros.
Em um cenário quando a colaboração entre academia e indústria é cada vez mais valorizada, inclusive nas avaliações quadrienais da pós-graduação brasileira realizada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), empreender cientificamente pode ser um diferencial.
Aliás, mestres e doutores que possuem conhecimentos em gestão, empreendedorismo e inovação estão mais bem preparados para estabelecer parcerias com empresas, buscar financiamento para suas pesquisas e até mesmo lançar suas próprias startups.
Por fim, é importante ressaltar que a inclusão dessas disciplinas na formação acadêmica não compromete a excelência na pesquisa científica e a inovação.
Pelo contrário, a gestão e o empreendedorismo devem ser vistos como complementos estratégicos para uma formação completa dos futuros líderes cientistas gerarem soluções para os desafios globais.
*Este texto expressa a opinião do autor e não traduz, necessariamente, a opinião do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Espírito Santo