Futebol brasileiro e a falta de uma liga unificada
Estudo revela desafios econômicos e rivalidades que impedem a criação de uma liga nacional no futebol brasileiro
*Artigo escrito por Eric Alves Azeredo, professor, executivo, advogado, CEO da AZRD e Membro do Comitê Qualificado de Conteúdo de Empreendedorismo e Gestão do IBEF-ES.
No ano de 2023, um estudo realizado pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF), em parceria com a consultoria EY, uma das empresas do grupo britânico Ernst & Young Global LImited, apontou que o futebol movimenta um total de R$ 52,9 bilhões na economia brasileira.
Desse total, R$37,8 milhões são de efeitos indiretos, como bares, restaurantes e outros tipos de comércio que recebem, na época dos campeonatos, quase 15 milhões de pessoas, entre fãs e torcedores.
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Isto representa algo em torno de 0,72% do total do PIB brasileiro e comprova a importância econômica do esporte mais popular do Brasil.
Esses números, no entanto, não são suficientes para que haja um acerto entre os clubes brasileiros para se criar uma única Liga Nacional de Futebol, mesmo sabendo-se que as ligas existentes mundialmente são o coração desse tipo de esporte.
O maior exemplo é a Premier League, maior liga de futebol do mundo e referência de organização desportiva, gestão de ativos e geração de receitas.
Isso tudo construído em pouco mais de 30 anos, após uma série de ocorrências trágicas que resultaram em dezenas de mortos na Inglaterra.
Atualmente, a Premier League consegue atingir marcas históricas de espectadores por tratar o futebol como produto de um mercado e, como todo bom produto, precisa de competitividade.
O estádio Old Trafford, do Manchester United, é um exemplo positivo a ser destacado. É o segundo maior estádio da Inglaterra com capacidade para 74.879 torcedores com média de público de 73.523 espectadores por partida.
O Brasil possui uma estrutura de futebol profundamente enraizada, com inúmeros clubes, campeonatos estaduais e regionais e um calendário sufocante e, às vezes, desumano.
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A criação de uma liga exigiria a reestruturação de boa parte desse sistema, o que, certamente, tem sido um dos motivos da resistência daqueles que têm interesse em manter o statu quo.
Para que haja uma efetiva mudança, é fundamental promover uma conscientização coletiva dos dirigentes dos clubes para eliminar, principalmente, as rivalidades históricas.
Enquanto não houver essa aproximação, o futebol brasileiro continuará mostrando uma disparidade financeira impressionante entre os clubes.
De um lado, aqueles que desfrutam de contratos lucrativos e patrocinadores generosos de instituições financeiras e plataformas de apostas, e do outro, a grande maioria que luta para sobreviver financeiramente.
Formar uma liga não significa apenas juntar os clubes e defender seus interesses em negociações de direitos de transmissão pela TV. É muito mais que isso.
Não basta existirem clubes profissionais se o produto final não inspirar credibilidade e uma gestão de qualidade.
A transformação dos clubes em Sociedade Anônima do Futebol (SAF) foi o primeiro caminho para que o profissionalismo responsável fosse visto como a solução para os clubes de futebol e, assim, iniciassem a discussão para a criação de uma liga, sem pensar exclusivamente em seus interesses e suas peculiaridades.
Atualmente, foram criadas no Brasil a Liga do Futebol Brasileiro (LIBRA), com 16 clubes e patrocinada pela Mubadala Capital, fundo de investimentos bilionário dos Emirados Árabes Unidos, que promete investir R$4,75 bilhões, e a Liga Forte Futebol (LFF), uma dissidência da LIBRA, com 26 clubes ligada a Serengeti Assef Management, dos Estados Unidos, em parceria com a LCP Corretora, de Curitiba, que investirá R$4,85 bilhões.
Com este cenário pouco harmonioso, o “racha” impedirá, mais uma vez, a criação de uma única liga no futebol brasileiro. Uma pena!
*Este texto expressa a opinião do autor e não traduz, necessariamente, a opinião do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Espírito Santo