Setor atacadista e distribuidor reforça medidas para manter abastecimento na pandemia
Responsável por movimentar cerca de R$ 40 bilhões na economia capixaba, segmento adotou medidas sanitárias de forma ágil para não interromper a produção
Ruas vazias, lojas e shoppings fechados. O comércio nos primeiros dias da pandemia do novo coronavírus nas principais cidades do Espírito Santo mais pareceu um apático feriado. O pouco movimento que existia ficou concentrado em estabelecimentos essenciais, como supermercados, farmácias e padarias. O varejo ficou, literalmente, em quarentena – espalhando incertezas e angústia a pequenos e médios empresários e deixou a indústria em estado de atenção.
Sentimento compartilhado pelo empresário Jairo Alberto Vieira, proprietário de uma loja de manutenção e venda de peças automotivas. Segundo ele, os primeiros meses foram os mais difíceis. Apesar disso, ele se surpreendeu com o ritmo das vendas após o terceiro mês de pandemia.
"Logo no início, houve uma queda brusca nas vendas, acredito que muito por causa do isolamento e distanciamento social. As pessoas evitaram sair de casa. Uns três meses depois, conseguimos retornar com as vendas e registramos um aumento de 35% , isso em relação ao período pré-pandemia, foi acima do normal. Realmente, ficamos surpreso", conta.
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O empresário explica que a procura foi tão alta que ele chegou a contratar novos profissionais para dar conta da demanda de serviços. "Tivemos que contratar mais gente para trabalhar na loja, a procura realmente aumentou. O nosso setor de motocicletas cresceu bastante nessa pandemia. Muita gente evitou o transporte público, teve mais pedidos por delivery, então ajudou a quem trabalha nesse ramo", explica.
Mas para que alguns setores não ficassem com abastecimentos de produtos e insumos prejudicados, o setor do atacado-distribuidor teve que se adaptar rapidamente à nova realidade imposta pela disseminação do novo coronavírus. Segundo o presidente do Sindicato do Comércio Atacadistas e Distribuidor do Espírito Santo (Sincades), Idalberto Luiz Moro, setor responsável por movimentar cerca de R$ 40 bilhões na economia capixaba, além das ferramentas e procedimentos usados no dia a dia, seguir à risca os protocolos sanitários virou peça-chave para o funcionamento das empresas.
"As empresas tiveram que agir rápido. O Sincades criou de forma eficaz e célere uma cartilha com diversas orientações de medidas de combate ao coronavírus. Orientamos principalmente para que o colaborador, ao chegar na empresa, passasse por todo um processo de segurança, como aferição de temperatura, higienização de mãos e calçados, uso do álcool em gel, distanciamento. Tudo para que pudéssemos retornar com segurança para todos", explica.
O segmento atacadista e distribuidor é responsável por 53,6% do abastecimento de insumos para o pequeno e médio varejo em todo o país. Para evitar o desabastecimento em grande parte do comércio, principalmente para alguns segmentos, o setor não parou, evitando uma crise maior ainda, e manteve diálogo permanente com o poder público para manter as atividades.
De acordo com Idalberto, os setores de alimentação, medicamentos e primeira necessidade apresentaram um balanço positivo em cinco meses de pandemia. "O setor foi afetado em um primeiro momento, alguns mais do que outros. As medidas restritivas de circulação de pessoas, devido ao isolamento social, provocou uma queda muito grande no consumo, principalmente nos pequenos negócios, os prestadores de serviços. No entanto, tudo que é de alimentação, de remédio, produtos de primeira necessidade, eletrônico, cresceu muito em razão das pessoas estarem demandando mais".
Confira a entrevista com o presidente do Sincades, Idalberto Luiz Moro:
Para o economista Eduardo Araújo, o consumidor teve um comportamento atípico depois das primeiras informações sobre a pandemia do novo coronavírus, o que ampliou os números da segunda quinzena de março, mas o resultado positivo no período já era esperado pelo setor.
“Em março, a pandemia do novo coronavírus gerou expectativas de falta de produtos no mercado, o que levou muitos consumidores a aumentar o volume de compras e fazer estoques em casa. Como o abastecimento mostrou-se normalizado, o movimento de queda no faturamento em abril era esperado. Agora, vemos a situação caminhar para um novo estado de normalidade, com boas surpresas, como a valorização do pequeno e médio varejo, que é o principal cliente do setor”, explica.
Ele explica que os bares e restaurantes representam cerca de 10% do setor atacadista e que, se por um lado as pessoas deixaram de comer nesses locais, o consumo no varejo de alimentos aumentou. O que ajudou a compensar a conta. O crescimento nominal do faturamento na distribuição para o varejo é de cerca de 11%.
"Antes da pandemia, havia sinais de um ciclo de melhora gradual da economia e, por isso, o resultado positivo no primeiro trimestre já era esperado. Agora, depois que a população voltou a consumir normalmente, sem o receio de desabastecimento - em parte porque o governo agiu rapidamente com as medidas de auxílio, mas também porque os serviços essenciais, como o atacado distribuidor, não pararam - temos um grande desafio pela frente", afirma o economista.
Apesar dos desafios e das dificuldades, o presidente do Sincades, Idalberto Luiz Moro, é otimista em relação ao 2021. Na avaliação dele, há uma demanda reprimida em diversos setores da economia que precisará ser superada.
"A pandemia está deixando uma gama de aprendizado para todos nós. Certamente, as medidas adotadas agora, seja em relação à nossa rotina de trabalho ou mesmo na gestão das empresas, tudo ficará como legado. Quando a economia retornar ao normal, e isso vai acontecer acredito que no início do ano que vem, vai existir uma explosão do consumo. O setor, por exemplo, de entretenimento que hoje está sacrificado, todo mundo vai querer extravasar, fazer festa, viajar. A sociedade está reprimida, isolada e vai demandar muito desses setores", avalia Idalberto.
Nova rotina
Há cinco meses, era fácil imaginar as estações de trabalho das grandes empresas: mesas personalizadas com bonecos, plantas, porta-retratos e itens pessoais, colaboradores sentados um ao lado do outro, elevadores fazendo viagens onde sempre tinha espaço para mais um. Tudo isso parece ter ficado para trás.
Para operar durante a pandemia, a indústria precisou se adaptar a uma série de restrições. Além de distribuir máscaras e álcool gel para funcionários, empresas tiveram de modificar linhas de produção, aumentando o distanciamento entre os trabalhadores. As mudanças influenciaram a rotina nas grandes e nas pequenas fábricas.
Atuando há quase 40 anos no mercado de distribuição de peças nacionais e importadas de motos e bicicletas, com sede no Espírito Santo e filiais em São Paulo e Santa Catarina, a empresa Motociclo, localizada na Serra, teve que se adaptar rapidamente para não sofrer uma paralisação brusca na produção.
"No primeiro momento, enviamos os funcionários para casa, até entendermos a realidade que estávamos passando e organizarmos a rotina de produção. Fizemos uma readequação em toda a empresa. No refeitório, por exemplo, refizemos a divisão de mesas, colocando acrílico e reduzindo o volume de pessoas. Nos banheiros, limitamos o uso dele, com controle através do crachá dos funcionários. Também distribuímos álcool em gel, máscaras, entre outros itens de prevenção", explica a diretora-administrativa da empresa, Júlia Gonçalves Moro.
Cidades - O novo normal
O novo coronavírus alterou — e continua alterando — as relações pessoais e profissionais durante meses. Agora, a sociedade começa a se preparar para o período pós-pandemia: o 'novo normal'. Trabalhos estão sendo desenvolvidos pelo poder público e por iniciativas privadas para que as pessoas possam se adaptar a uma nova forma de viver.
A série de reportagens "Cidades - O Novo Normal" traz uma abordagem sobre o novo normal na Saúde, Tecnologia, Mobilidade e nos espaços públicos, além de falar sobre as novas relações de consumo e convivência.